15 de jan. de 2014

Pioneiro de uma cultura mesclada (prosa poética)











Era o pioneiro de uma cultura mesclada. Talvez o primeiro ser de um povo deste tipo. Nasceu numa campina estuprada, de uma floresta lanhada, vales e rios destroçados e ouvia que ainda existiam mais e mais montanhas, desertos, florestas, oceanos, galáxias multicoloridas e icebergs gigantes boiando no mar. Conheceu gente escravos, roubados e torturados. Marinheiros, cavaleiros e soldados. Bombas gigantescas. Outras crianças sorrindo e até gargalhando perto da morte e do corpo morto. Música de todos os tipos, tambores, violinos, cornetas e gritos. Animais correndo, caçando e de uma lindeza estonteante. Abraçava seu cachorrinho e o amava como a um lobo selvagem. Olhava o gatinho e seus passos eram os mesmos e exatos de um tigre sagrado. O mundo esquisito e inacreditável viu ali naquele tubo e em mais algumas fotos de livros velhos jogados por aí. Sempre teve muita sorte de estas coisas encontrar quando mais precisava. Alguém disse, um dia, que pra viajar é preciso viajar. Sabia lá no fundo, porém, que nem tanto. Havia descoberto muitos tipos de viagem. Começou a fugir da maldade tão novo e muito antes do que ainda nem mesmo podia saber o que diziam que era o certo ser. Naquele silêncio da infância tudo era seu, pois nem sabia que existiria um outro que poderia ser diferente daquilo que já seria. Viu um mundo e nunca foi propriamente de mundo nenhum. Porque o mundo era somente o mundo e não tinha nome nenhum. Nunca entendeu que era nada, mas que era assim que continuava a quase ser tudo. Respirava bem fundo e dormia. Foi então muito mais simples desejar nenhuma fronteira, nenhuma bandeira, nenhuma guerra viver, porque o coração que nunca rouba não entende porque trancar e é o único capaz de deixar tudo sempre aberto. E foi condenado a ser errado por não defender o cercado que de repente entendeu que forçosamente existia, mesmo nitidamente não existindo em nenhum lugar que olhava, olhava e nunca o via. E sabia que assim é sempre. Mas não no seu coração, não agora na sua mente. E de tal modo é que viveu até hoje e ainda se esfrega escondido entre muitas frestas e escombros, para não ser encontrado em sua ingenuidade e ser esmagado. A imaginação será sempre a sua única liberdade.









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