16 de jan. de 2014

O Blues não tem fim... Rooster (crítica musical)





O Blues é muito mais que um mero estilo musical, é um espírito, aquilo que é capaz de tocar na alma de um grande grupo de humanos ao mesmo tempo, gerando um impulso poético que é manifesto numa estética inconfundível. É uma vivência, uma devoção cotidiana que, brotada de uma raiz emocional profundamente encravada numa região bem específica do mundo, conhecida como o delta do Rio Mississipi, na América do Norte, aglutina inúmeras manifestações étnicas que ali se encontraram e que geraram espontaneamente muitos galhos de uma linda, delicada e sublime árvore, e que formam em nossos dias um fenômeno cultural extenso, que ainda se espalha por todos os lados e influencia quase todos os movimentos da musicalidade humana atual.

Somado a essa qualidade espiritual inegável, é também uma resistência política à elitização e à frieza esnobe da erudição que, por outro lado, também nunca se deixou servir ingenuamente como instrumento para nenhuma espécie de tentativa de dominação da cultura de massa. Por isso foi, é e será sempre uma das principais vozes a expressar o amor pela liberdade do corpo, das emoções, pensamentos e dessa alma humana. É, sem nenhuma dúvida, a raiz e o tronco em que se sustentam manifestações musicais contemporâneas mais verdadeiras e honestas e, muitas vezes, somente o Blues é capaz de nos mostrar seus melhores frutos.  

Vi e ouvi um grupo de jovens que tocam o Blues. A banda Rooster assume com coragem a intenção de ancorar esse espírito Blues. Ao escolher alguns dos momentos mais significativos na história do gênero em seu repertório, a banda mostra ao público não apenas entretenimento, mas chega a apontar claramente a potência de alguns dos artistas que são a base para qualquer uma das mais importantes ramificações dessa árvore de milhares de galhos.

Colhendo verdadeiras jóias raras dentre um período já bem firmado na eletrificação, mais ou menos entre as fronteiras da já incorporada influência da poesia rústica das ‘juke joints’ onde Willie King fazia o seu ‘struggling blues’ ativista e dançante, mas ainda nas vésperas do poderoso ‘hardcore blues’ do grandioso Stevie Ray Vaughan, a banda Rooster mantém todo o sentido do termo ‘ass kicking’ e, através de uma distorção bem valorizada e um ritmo marcado por uma irresistível invocação da dança, é capaz de envolver imediatamente o público para sentir o Blues. Outra importante qualidade desse grupo de músicos, é que o Rooster não se limita a tentar apenas reproduzir peças gravadas como seu original, mas consegue interpretar, consegue até já esboçar alguma reinvenção. O Blues não tem fim, e é apenas isso que ele sempre teve pra nos dizer, e essa nova banda, Rooster, está no caminho certo pra levar essa mensagem muito mais adiante.   









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