22 de fev. de 2014

pinturas 2014 (apresentação)



Preocupo-me, na execução dessas obras artísticas, com a criação de poemas visuais que inicialmente e invariavelmente buscam cultivar uma reflexão sobre dois aspectos que julgo mais influentes, e por isso importantes de denunciar, na problemática psicossociológica da civilização humana contemporânea: o medo e a ilusão que, no caso destes trabalhos, aparecem tanto no drama cromático criado entre cores puras e o preto como na dicotomia e nas inversões sugeridas e elaboradas, entre fundo e figura, em meus processos de criação das obras. A partir desta tensão surge uma preparação do que eu chamo de ícones máximos, ou seja, quero sempre criar a cada obra um ícone total da Divindade, num poema arcaico, onde todos os arquétipos possam ser reconhecidos de uma só vez. Retorno a arché[i] dos primeiros filósofos, ao devaneio pelo princípio absoluto[ii].
Em meus trabalhos, o que me esforço sempre para manter em evidência é uma intenção poético/estética de profetização delirante da presença da Divindade, uma veneração e uma religiosidade sobre o instante do eterno presente, que está sempre cercado, como já disse, pelo medo e pela ilusão, fomentados na mente humana como os elementos culturais biopsicossociológicos do passado e do futuro, respectivamente, como os únicos movimentos que tendem constantemente a tentar escapar da intuição do instante presente, do eterno, da presença da Divindade. A obra é, então, o altar em que o instante sagrado será sempre adorado e cultuado para que não seja banalizado pela displicência da certeza de uma continuidade que se entrega, exatamente, ou a esse medo ou a essa ilusão. E, para entender sobre esse instante, em seu drama de poesia, rendo-me a Gaston Bachelard (2007:99):

“A poesia é uma metafísica instantânea. Num curto poema, ela deve dar uma visão do universo e o segredo de uma alma, um ser e objetos, tudo ao mesmo tempo. Se segue simplesmente o tempo da vida, ela é menos que esta; só pode ser mais que a vida imobilizando-a, vivendo no próprio lugar a dialética das alegrias e das dores. Ela é, então, o princípio de uma simultaneidade essencial em que o ser mais disperso, mais desunido, conquista sua unidade”.




[i] “É o princípio absoluto, eterno, idêntico e incorruptível de todas as coisas e que governa/comanda a realidade.” (CHAUÍ,1994:344)
[ii] “A universalidade de uma imagem arquetípica significa também que a resposta à imagem implica mais do que conseqüências pessoais, ampliando a alma para além de seus confins egocêntricos e alargando os eventos da natureza de distintas particularidades atômicas para sinais estéticos que trazem informação para a alma” James Hillman (1983:34).


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