8 de fev. de 2016

exílio inverso (poema)





era num exílio inverso de nunca ter uma herança
nem prisão ou proibição ou algo que não à deriva
e só saber dum lugar seria dum crime uma prova
paisagem ou música ou alguém ou lembrança

às vezes nada para ficar ou apenas continuar
olhando para as ruas de um cais quase vazias
sonho perdido no vento e nas madrugadas frias
sem saber o que deve levar ou o que pode deixar

álibi que navega e noutro devaneio e noutra vida
que busca neste silêncio esquecido sua quimera
alcançar o porto donde saindo por doída partida

rasgar a antiga saudade e rumar sem bandeira
o que era nunca foi e espera o que é lá encontrar
recruzar nesse mar e noutra vez ter a alma inteira





1 de fev. de 2016

peido lento (flash fiction)



na terra dos vermes mutantes esquizofrênicos as punhetas e as siriricas eram coletivas e em público; apenas aquele homem, já esgotado em seu total silêncio espectral, a cada nova novidade na cagaioça, só balançava a cabeça assim de baixo pra cima e de cima pra baixo beeeeemm devagar; e subia como um zumbi o braço com o dedo um tanto trêmulo apontando enquanto virava o olhar abrindo e fechando as pálpebras beeeeem lentamente pras pessoas ao lado e, com os cantos da boca curvados pra baixo, esboçava um grunhido emudecido; acabada a notícia, o lero-lero ou o arranca-rabo, voltava à posição catatônica prostrada de sempre e, mantendo um pouco de baba escorrendo, soltava um peido lento num timbre delicado... reiterando assim, mais uma vez, todas as suas opiniões...