17 de dez. de 2015

Repútrida... (crônica)



vamos instaurar uma outra estrutura de Estado; conceitualmente, será baseada naquele jogo de festinhas de aniversário, em que um saco fica pendurado, cheio de balas e pirulitos, e todos batem até que estoure, quando tudo se esparrama e todos correm e se empurram para catar o mais possível; tecnicamente, consistirá num sistema de governo em impeachment permanente (todos estão impeachmentados até que nunca se prove nada ao contrário indiretamente), formando um sistema políticofincado em CPIs, perenes de 24hs, em notícias factoides de jornal e na coreografia das operações de investigação policial; assim, praticamente, a cada novo mandato, serão distribuídos os pedaços de pau de vários tamanhos, diâmetros e pesos (tudo de acordo com as alianças e os acordos prévios), e será pendurado um novo saco, para o início do jogo, abarrotado com todos os recursos, cargos e posições possíveis de governo e, então, após o estouro da sacolona, todos ficam com aquilo que conseguirem agarrar antes de morrer tentando; enfim, uma nova e definitiva forma de governo: a Repútrida...


14 de dez. de 2015

domingo cadelento (crônica)



tudo começou como sempre com um dia abençoado... silencioso e lindo, que a qualquer momento seria destruído por centenas de bêbados dublês de gente feliz, mímicos monstruosos da alegria, a festejar sua própria miséria espiritual; e também pelos corredores de 10, 15, 20 km, disfarçando sua vida maníaca e depressiva, gritando uhuuhu! uhuhuuu! atordoados pela animadora inflada, peitudaça e bundudaça, e por uma música que algum esquizofrênico suicida em surto fabricou em parceria com o demônio; correndo cada vez mais rápido da sombra de si mesmos, pode ser que queiram deixar o que são para trás e se tornar o que ainda nunca vão ser... e pronto! o primeiro deles já se levantou na cambaleante ressaca, de pinga ou de anabolizantes, imediatamente ligando o vap começa a lavar o seu carro descartável de plástico vagabundo como se fosse a última relíquia do automobilismo; acabou-se a maldição que é para esses zumbis mutantes um simples domingo sagrado e doce; e no mesmo instante o outro já ligou o batidão; é o caleidoscópio de uma clonagem demoníaca... de uma simulação de felicidade embriagada e entorpecida! agora... ondas e mais ondas daqueles desodorantes falsificados, baratos e fedorentos, flutuam pelo ar... nas pagodeiras românticas cadelentas... enquanto batem repetidamente as portas dos carros como se fosse uma tentativa de reanimação do próprio coração já apodrecido pelo tédio de sua ignorância cultuada; seguem os fatídicos apitos do acionamento dos alarmes... estão todos em cada esquina, carregando os cadáveres fétidos e os engradados de mijo, chegando para estralar a carniça... e a gritaria pode começar; parecem no fundo ter um certo ódio velado do paraíso que lhes foi dado viver e certamente seja para não ter que suportar sua própria mediocridade em nunca conseguir vivenciá-lo plenamente é que fazem tanto barulho e tanto estardalhaço; a barulheira e a cagaioça são assim o maior e único antídoto, pela mais amarga vingança, e então o mais poderoso anestésico para o insuportável rancor que sentem de si próprios na sua escravidão, consumista e alienada, da sua miserável e totalmente inútil existência cotidiana...



5 de dez. de 2015

a alma dorme nas esquinas (poema)





a alma dorme nas esquinas
nos cantos dos olhos
em vultos de lembranças
tudo num instante silencia
ao longe alguns piadozinhos
ilude e divaga e acalenta
e o mundo perde as fronteiras
e no entre do sonho e um susto
ouvi alguns daqueles gritinhos
meninas... meninas?





ágape... (prosa poética)





ágape...

que os movimentos das meninadas sejam sempre anárquicos e desbundados e descabelados sem precisar de nenhuma liderança ou alguma celebridade ou baratas e moscas partidárias ou institucionalistas burocraticistas e tecnicólatras meritoescrotas ou midiapentelhizantes e que este seja eternamente o grito e a glória de que ninguém ou nenhum e nada fez ou faz mais por aqueles que estão num lugar do que aqueles que estão e sofrem e vivem nesse lugar vendo que não é necessária nenhuma outra organização além do que os organiza em sua própria condição e fatos e fenômeno sendo cada um de todos por todos no mesmo impulso dia a dia e no cotidiano e na consciência deste que não é voto ou contra ou a favor e não venda ou compre nunca nada de ninguém daquilo que já é de todos...