28 de ago. de 2014

Vega (poema)





me disseram assim
que teu nome é Vega
foi o que me disseram
eu não sei como te chamar
não disseste coisa alguma ainda

não conheço uma palavra tua
para o que de ti daqui vejo
me dizem outras coisas mais
que és estrela e isso nem sei
não dizes nada quando te olho

sei que é o que sinto outra vez
uma centelha não sei talvez
fico triste da distância
acho que é distância mesmo
outra coisa que andam falando
é que vejo a tua luz antiga

se te penso linda
como estás agora
onde és de teu hoje
no que és para mim
e que nunca sei nada

sonho depois olho
olho e depois sonho
sempre daqui te vejo
e passas tímida
em silêncio tênue

do que pra ver daqui
não é nada pra saber
é só uma delicada visão
pequena e maravilhosa graça







26 de ago. de 2014

evangelho segundo o dia a dia (aforismo)





evangelho segundo o dia a dia: cada acerto pesará uma pluminha... cada erro... o próprio mundo...





22 de ago. de 2014

Pó de Tempestade (poema)








Pó de Tempestade

no início era o Verbo
o Verbo era o Caos
como diziam, o Paraíso

no dia daquela última noite
que ninguém soube quando
Ele expulsou também os poetas
e assim separou o Caos do Verbo 

feitos dos elementos da natureza
uns trovões de furacão
outros nascentes escondidas nas florestas
alguns apenas rastro de lesmas
outros estrondosa foz de cachoeira
noutros nada mais que gota de orvalho
ou então luz de nuvens carregadas
e vão como rios desembestados
alguém mais que é pouca pedra seca
ondas gigantes ou um só cristal de neve
ou cinza, poeira, vapor ou névoa

no início era o Caos
o Caos era o Verbo
e ali Ele disse

Cada Palavra Será Explicação Em Si Que Carrega!

jogou-os de tal modo por todos os cantos
e lhes disse mais ainda no mesmo instante

De Uns Fiz Grandes E De Outros Segredos
Muitos Serão Conhecidos Por Todos
E Tantos Nunca Serão Ouvidos!

condenados então foram sem mais avisos
a amar o que faziam e não o que poderiam fazer
portadores de uma alma eterna sem nada saber
por único destino manter a abnegada amizade
entre a Água, a Terra, o Fogo e o Ar

num último berro Ele estarreceu a todos

Um Só Será Pelo Outro
Nunca Morrerão Meus Poetas!
Senão Cada Um Por Autodestruição
No Vício Solitário Ou Na Guerra Entre Milhões
Se Sucumbirem À Cobiça, À Inveja, Ganância ou Ambição...
De Ser Um Outro Que Não Aquele Que São Naquele Que É!









19 de ago. de 2014

espelho trincado... (poema)








dos arrepios ingênuos da platéia iluminada, pelo bate bunda da sanca arejada até os festins da estréia treslocada... todos se alvoroçam saltitantes... já no escuro da coxia estreita, na crudeza do cordame emaranhado, carretilhas enferrujadas e na solidão borrada de um camarim de espelhos trincados... é quando o velho farsante se percebe estarrecido de que nunca houve a personagem... mas somente um grande ator de si mesmo...







poder banana! (poema)





um grande animal peçonhento
morto ali jazia a feder
gritavam seu nome estranho 
era... Poder! Poder! Poder!

ninguém mais o teria por inteiro
seria impossível para poucos
carregar agora seu peso torto

pegavam nacos arrancados 
nas dentadas raivosas entre orações
ungidas na tortura e na degola
ungidas no sangue e na rezadeira

no país do antipoema putrefato
na ilha da loucura e da putaria
a turba babando rosnava
habemus banana! habemus banana!










15 de ago. de 2014

poema arcaico (poema)






Um silenciamento 
anterior e primitivo, 
uma fonte oca. 
Onde esse meu poema arcaico 
ainda não está, 
embora seja este o único lugar 
em que esta poesia se cria,
porém, não por vontade...
mas por acréscimo...

A stillness
anterior and primitive,
a hollow fountain.
Where this my ancient poem
is still not there,
yet this is the only place
in which this poetry creates itself,
not, however, by willing...
but by happening...

(translated by Richard Courage)