30 de set. de 2014

diga+que+eu+não+sei+de+nada (audiovisual)

















chuva fina (poema)





por maior a perda
mais injusto roubo
ou triste a traição
nunca darei uma gota
de água ou uma faísca
de luz de sol ou mesmo
uma pitada de adubo cru
ou uma ideia que insinue
em cultivar o que promove
o botão de nefasta daninha
para esperar e porque creio
quando meu devaneio prostrar
deitado no chão do desencanto
saberei a origem da suave onda
que livra dessa fumaça e sombra
deste imenso alento e puro afago
para nunca me afastar dessa graça
chuva fina na sementeira de poemas









27 de set. de 2014

novas pinturas (descrição)







"poemeco" - f.h. catani - 2014 - acrílica s/ tela - 190cm x 150cm



Nestes trabalhos parto sempre de uma intenção poética para uma materialização estética. São poemas visuais rústicos, por isso mesmo não eruditos, em reverência à tradição da pintura ingênua. O início da execução é espalhar sobre a tela entre 18 e 32 cores puras e sem nenhuma mistura que são aplicadas sem que ocorra uma observação direta da visão para uma escolha consciente de como devem ser combinadas essas cores. Isso tenta manter o aparecimento dessas combinações de uma maneira intuitiva, espontânea e mesmo aleatória.

Nunca são sobrepostas cores e sempre são apenas encostadas lado a lado uma às outras. Depois desse processo se obtém um fundo colorido todo preenchido. Inicia-se então um trabalho apenas com a cor preta. Um grafismo começa a ser aplicado separando cada uma das cores aplicadas na tela. A partir de certo ponto o que era grafismo começa a aparecer como fundo e o que era o fundo colorido surge como a própria definição das figuras, resultando numa imagem em que formas coloridas flutuam e interagem num fundo de total escuridão, demonstrando um movimento vigoroso, numa vontade de apresentar uma linguagem com referências à símbolos de um marcante teor épico e mitológico.

Dois são os conceitos fundamentais para essa realização dessas pinturas (estes ligados à execução pictórica). Um deles é a tensão constante, na ação do processo de criação da obra, do drama vivenciado entre a dualidade luz total e escuridão absoluta. O outro, é essa própria experiência da dinâmica daquele movimento, do fenômeno psicológico causado pela inversão entre fundo e figura; num estranhamento forçado entre paisagem e grafismo diante do processo de aparição da obra pictórica em si mesma.


Outros dois conceitos são fundamentais para a apreensão da obra (estes ligados à expressão temática). No primeiro, há uma intenção filosófica, assumidamente insana, pagã e de uma teogonia, uma cosmogonia rupestre, por colher em cada obra todo o universo arquetípico possível numa criação de um arquétipo total da Divindade, principalmente em sua qualidade ligada à gênese do universo e aos aspectos mitológicos associados à unidade e a interdependência entre vida e morte. É um exercício espiritual, ritualístico e religioso, para alcançar a expressão simbólica de um ícone máximo inerente ao eterno movimento da criação das coisas do mundo. O segundo, é a evocação da 'intuição do instante', ou seja, em cada realização se busca uma experiência mística do presente, em que o aparecimento desses arquétipos, será o álibi de um encontro com a presença dessa Divindade no momento imediato, como a única possibilidade de compreensão da realidade mítica de nossa existência. 
                               
                                         *


In these works I always start from a poetic intent to an aesthetic materialization. Are rustic visual poems, therefore not erudite, and a reverence to the tradition of naive painting. The execution starts spreading over the screen about 18 and 32 pure and never mixed colors, that are applied without a direct observation of vision based on a conscientious choice about how these colors should be combined. This processes tries to maintain the appearance of these combinations in an intuitive, spontaneous and even randomly way.

Never the colors are overlaid and are always just leaning side by side to each other. After this process I get a whole colored background filled. Then starts a work only with the black color. A graphism starts to be done separating each color of the others applied on the screen. From a certain point which was beginning to appear as graphism emerges as a background and that was a colorful background takes place as the very definition figures, resulting in an image where colored shapes are floating and interacting in a background of total darkness, demonstrating an energetic movement, on a desire to present a language with references to the symbols of an epic and a mythological content.

There are two fundamental concepts for this paintings realization (these are connected to the pictorial execution). One is the constant tension, on the action of the work creation process, about the drama experienced on the duality between full light and absolute darkness. The other is the dynamic experience of the that movement, the psychological phenomenon caused by the inversion between figure and background; a forced estrangement (desfamiliarization) between landscape and graphism, in front of the appearance process of the pictorial work itself.


Two others concepts are fundamental to the apprehension of the work (these are related to the thematic expression). Firstly, there is a philosophical intention, admittedly insane and pagan, expressed as petroglyphic cosmogony and theogony, to put in each work a whole archetypal universe, creating a total archetype of Divinity, especially in Its quality that is linked to the genesis of the universe and the mythological associated aspects of the unity and the interdependence between life and death. It is a spiritual, ritualistic and religious exercise, to achieve a symbolic expression of a maximum icon, inherent to the eternal movement of the creation of the things of the world. The second is the evocation of the 'intuition of instant', that is, in each realization I seek a mystical experience of the present, in which the appearance of these archetypes, will be the alibi of a meeting with the presence of this deity in the immediate moment, as the only possibility of understanding the mythic reality of our existence.  


F. H. Catani


a pior parte da eleição (crônica)








a pior parte do processo eleitoral talvez já tenha começado e agora tudo o que poderia ser realmente mudança acaba... a mudança é sempre suspendida pelas promessas de mudança... para o orgulho dos vendedores do poder; é quando artistas, médicos, engenheiros, professores, comerciantes, trabalhadores e tantos outros talentos humanos abandonam ao humanismo e sucumbem à monstruosidade partidária; viram paus de bandeira, pregos de placa, cola de adesivo, baba de selo... tipo umas barangas de bituca... ou sabe lá... cascas de sovaco, pentelhos de peido de um bando de cretinos mentirosos desde sempre... é que se sabe, às vezes, talvez que se deseje tanto uma coisa que se acaba por defender seja os capangas do conforto egoísta ou uma compra de uma falsificação de esquina de uma revolução mais barata... tudo por essa ansiedade de garantir a permanência ou dos grandes ideais ou dos grandes privilégios que, ambos, somente levam à exploração da boa vontade dos cidadãos... talvez, pela imensa dificuldade de acreditar que somente na simplicidade do dia a dia se muda o mundo, seja perdida outra e mais uma vez a oportunidade real para mudá-lo nesse presente, nesse cotidiano... e aí... pode-se encontrar num imbecil testa de ferro de um chefão criminoso qualquer aquela solução derradeira que acalenta para além da desilusão ou do medo da perda... e daí, inacreditavelmente, começa novamente errado esperando que dê certo sempre num futuro que, por não ser um verdadeiro presente de mudanças, será viciosamente ancorado em promessas e mais promessas e mais promessas... mentiras e mentiras que só alimentam a intolerância, a crise de ideias contraditórias e antagônicas; sem a comunidade da cooperação... entrega-se tudo, a partir desses dias de ódio... à comunidade dos interesses e do desprezo irrevogável... à guerra e às cusparadas!






26 de set. de 2014

choro e sorrio (poema)




se choro essa gota de lágrima
é pela minha fraqueza solitária
que de leve é tocada numa faísca
nesta infinita vida em destruição
não há como compreender nada
desta tão rude e imensa presença
que de modo e lugar nenhum dirá
além do mesmo silêncio de sempre
sempre secreto de um modo tão ínfimo
me arrebenta e enamora e abandona
uma dentro da outra é seca e deserto
e que é a visão desse viver e dessa solidão

se sorrio esse lapso de alegria
é pela morte de minha pequenina noção
que numa inquieta brisa de perfume
desta incrível aparição de firmamentos
tudo se explica num segundo apenas
nesta delicada e minúscula ausência
que alardeia seus rumos aos gritos
pelos quatro cantos e ventos do mundo
sempre embriagada e dançando agarrada
me agrada e beija e abençoa
uma fora da outra que é montanha e tempestade
que é o espanto desse morrer e dessa união





25 de set. de 2014

fundado no caos (poema)








pois fundado o início do caos
já na simplicidade impossível
num dia se espantar o seu fim

quando a simplicidade é total






24 de set. de 2014

depois basta antes (poema)





basta 
o que 
esperar 
quando 
alguém 
melhor
chegar
para
depois
arrumar
tudo
ou tudo
arrumar
antes
para
chegar
melhor
alguém
quando
esperar
o que
basta






22 de set. de 2014

o menino (poema)





um sobre o outro sobre o outro e outro
mais um caquinho achado perdido ali
uma brisa leve para daqui lá os levava
ele mesmo fazia o seu poema delicado
na luz morna do sol depois da chuvinha
vivia ele o melhor dia naquele quintal
sabia no fundo a sua última boa chance
era manter por perto algum sinal pequeno
outros os poderiam encontrar numa vez
por aquele caminho de formigas vazio
mas talvez as crianças que viriam aí sim
nalgum pedacinho de papel que sobrou
escrita a nova mensagem que dizia nada
sempre em cada cantinho por lá deixava
caminhava pelo fim da estrada sozinho
a noite fresca e milhares de luzes saíam
pouco lembrava das horas senão a que era
e cantava bem baixinho e suave o menino 






21 de set. de 2014

pena de chapéu (miniconto)








Era uma vez uma cidade barraco de esgoto a céu aberto, no país hospício. Todos andavam descamisados, descalçados e banguelas pra lá e pra cá; imundos de lama, fuligem, merda e lixo até o pescoço... enquanto isso... passavam dias e dias a discutir orgulhosa e eloquentemente qual seria a cor adequada das penas de chapéu que deveriam escolher... embora nenhum chapéu, e eles mesmos nunca souberam realmente disso, tivesse ali existido para que se pudesse usar... e era somente isso... pasmem!








humildade desenfreada (prosa poética)





Era mesmo tipo um monge estranho, e ninguém lhe dava tanta atenção; sempre dizia que o maior problema do mundo humano era a pouquíssima ambição da maioria das pessoas. Dizia que a culpa era dessas pessoas que sempre se contentavam com esse pouco despretensioso; estas pessoas medíocres que, num desejo enfraquecido, aceitariam sempre viver apenas com milhões em dinheiro, com mansões luxuosas, máquinas complicadas, conforto, fartura e facilidades. Pregava, por outro lado, que para resolver os problemas dessa humanidade, a ganância deveria ser extrema e sem nenhum limite... que todos deveriam querer a todo custo... tudo aquilo o que pudesse lhes proporcionar uma humildade desenfreada e uma graça selvagem...




20 de set. de 2014

não é esse poema... (prosa poética)






não é esse poema
o do verso franco, da estrofe libertária
não é este em nada
como uma sinfonia pedante
entupida de progressões
de harmonia rabugenta
ou complexas modulações
de uma erudição intransigente
nem ao menos e nem de longe
almeja a erudição
naquela ânsia pela qualidade pesada
de uma mentalidade marcial
que obriga a disciplina de sistemas amargos
regras sisudas e dificuldades sarcásticas
curtidas apenas na seca e dolorida ambição
da raiva e da fascinação pelo privilégio
mas é muito antes, aquela poesia infantil
florida e pueril, do ainda intento inconsequente
simplesmente...
como quando batemos o dedo numa corda afinada
de um instrumento rústico... 

nada além de uma brincadeira...
e descobrimos que uma outra
em um outro encordoamento esticado
que esteja ali ao lado, sem escolha
e neste seu mesmo tom afinado
vibra sozinha num místico espectro de onda
quase imperceptivelmente... 

na mesma sombra e reflexão
de um encontro tão delicado
como, assim, de um tênue suspiro sobrenatural
que numa saudade sem mágoa, sem agonia
não espera mais nada
sem nenhuma outra atenção
que num pequeníssimo arrepio de sorriso
ou um curto lapso de emoção entre almas de crianças...
ao se encontrar numa ínfima, instantânea e mútua vibração
como nos antigos pedidos das provas de amor ingênuo...




19 de set. de 2014

regra do verão (poema)





a regra é clara...
antes, quem já tinha,
ainda o tem e o mantenha...
ou o mantenha
quem ainda não o tinha,
e que o tem agora - e digam que
velhos, uns deram e dão,
novos, outros dão e darão;
quem não teve, tem ou terá
e não quer...
é outono, inverno, primavera
e verão...




10 de set. de 2014

small chapel (poema)






I'm
building
a small chapel
not to be a worship
not to get anything
nor is it to draw love
it is to keep the fear out
because love is already in
this is only a little chapel
that I have built here






8 de set. de 2014

espécie e substância (prosa poética)








Não que deixasse de crer em Deus, mas... tinha tantas dúvidas contra a Sua justiça. Parecia-lhe lenta, insuficiente... mesmo incongruente e até inconsequente. Tanta desigualdade no mundo... e essa tremenda dificuldade de entender, afinal, quando e como é pago aos injustiçados aquilo que deles é roubado com tamanha injustiça. Um dia, num sonho, compreendeu. Estava ali numa casa de câmbio, algo intergaláctico, interdimensional, que girava, girava e girava... sem dar tontura ou nenhum mal estar, muito pelo contrário até... era fofo. E, então, num só golpe percebeu que não estava no tempo e nem no espaço se movia... e viu, abismado, que o que fora perdido em espécie... era sempre e imediatamente pago em substância...







5 de set. de 2014

era uma vez... (pequeno conto)









Era uma vez, num reino fedorento e distante onde desembestava a loucura e a pornografia... um grande torneio. Toda a ralé, desde o bagaço ao xulé, estava sempre a debater ferozmente, cada puto agarrado num grupelho e debruçados bêbados sobre alguns montinhos de migalhas cheias de mofo que chamavam de... conquistas. Enlouquecidos para tentar nomear alguns trambiqueiros já alquebrados pela perdida pobre alma franqueada ao inferno, sempre se gabando de meia dúzia de feitos requenguelas, entre a lama, pinguelas e trapiches. Tais esbaforidos adeptos, enrolados nalgumas de suas bandeiras sujas, embosteadas, passavam os dias se envenenando na própria idiotice. Alucinados, andavam sem rumo com a bunda imunda pelas ruas e praças, e não percebiam que a única coisa que aqueles pobres coitados candidatos tinham realmente a oferecer, mesmo já desentendidos por tantos pactos, entrevados de juras malditas, de um monte de macaquices que faziam na frente de todos pagando o pau, era a quantidade de adesão ao sacrifício, mítico e sangrento, do voto, entre os do povaréu que conseguiriam acumular com seus atos de pastelão obsceno, mas, nem esse trunfo... e esse era o grande engodo da velha pantomima da putana que pariu... nunca foi e nunca seria para aquela turba fiel que ofereceriam... e sim, ao mesmo velho demônio, cuzudo e comodista, verdadeiro dono da riqueza daquele mundão também tão velho desde sempre. Endoidados, não queriam nem saber, pois aquelas lutas, pelejadas pesquisas punhetadas e as datas datas datas da porra louca... eram o único e máximo delírio daquela massa abrutalhada... pelos urros de gritaria ensandecida e pela assombrosa estupidez na sua porca merda eternizada...





derrepentemente (prosa poética)





derrepentemente começou a pensar em estranhezas... que se as inovações tecnológicas fossem imprescindíveis não poderiam ter sido inventadas... que se uma coisa pode ser vista de muitas maneiras diferentes então nunca foi possível saber de nenhum modo que coisa seria essa... que a felicidade é exatamente aquele estado de tanta completude o qual não pode nunca existir sem que da maior parte desta se ocupe a tristeza...






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