26 de nov. de 2014

Factual Religion (paintings serie description)








Factual Religion (paintings serie)


Há dois conceitos fundamentais para essa realização dessas pinturas (estes ligados à execução pictórica). Um deles é a tensão constante, na ação do processo de criação da obra, do drama vivenciado entre a dualidade luz total e escuridão absoluta. O outro, é essa própria experiência da dinâmica daquele movimento, do fenômeno psicológico causado pela inversão entre fundo e figura; num estranhamento forçado entre paisagem e grafismo diante do processo de aparição da obra pictórica em si mesma.

Outros dois conceitos são fundamentais para a apreensão da obra (estes ligados à expressão temática). No primeiro, há uma intenção filosófica, assumidamente insana, pagã e de uma teogonia, uma cosmogonia rupestre, por colher em cada obra todo o universo arquetípico possível numa criação de um arquétipo total da Divindade, principalmente em sua qualidade ligada à gênese do universo e aos aspectos mitológicos associados à unidade e a interdependência entre vida e morte, que se expressa na metáfora de uma sacralidade que pode ser chamada de "morte vivente". É um exercício espiritual, ritualístico e religioso, para alcançar a expressão simbólica de um ícone máximo inerente ao eterno movimento da criação das coisas do mundo. O segundo, é a evocação da 'intuição do instante', ou seja, em cada realização se busca uma experiência mística do presente, em que o aparecimento desses arquétipos, será o álibi de um encontro com a presença dessa Divindade no momento imediato, como a única possibilidade de compreensão da realidade mítica de nossa existência. 



There are two fundamental concepts for this paintings realization (these are connected to the pictorial execution). One is the constant tension, on the action of the work creation process, about the drama experienced on the duality between full light and absolute darkness. The other is the dynamic experience of the that movement, the psychological phenomenon caused by the inversion between figure and background; a forced estrangement (desfamiliarization) between landscape and graphism, in front of the appearance process of the pictorial work itself.

Two others concepts are fundamental to the apprehension of the work (these are related to the thematic expression). Firstly, there is a philosophical intention, admittedly insane and pagan, expressed as a petroglyphic theogony and cosmogony, to put in each work a whole archetypal of the universe, creating a total archetype of the Divinity, especially in Its quality that is linked to the genesis of the universe and the mythological associated aspects of the unity and the interdependence between life and death, which is expressed on a metaphor of a sacredness that can be called "living death". It is a spiritual, ritualistic and religious exercise, to achieve a symbolic expression of a maximum icon, inherent to the eternal movement of the creation of the wide world things. The second is the evocation of the "intuition of instant", that is, in each realization to seek a mystical experience of the present, in which the appearance of these archetypes, will be the alibi of a meeting with the presence of this deity in the immediate moment, as the only possibility of understanding the mythic reality of our existence.



20 de nov. de 2014

a poesia é inquestionável (prosa poética)




a poesia é inquestionável; não porque seja tirana, mas porque na liberdade nunca sobrevive a desconfiança; quem duvidaria de uma brisa que chega silenciosa e passa carregando qualquer aroma e frescor, vinda de tanta distância com a mensagem humilde de um campo florido ainda selvagem? ou quem argumentaria com um pequenino passarinho que pousa, ciscando aqui e ali as suas minúcias, cantando sua ingênua cançãozinha de delicados versos... e que voa de repente pra longe, tão longe e mais longe, apenas para buscar um final de dia mais morno? um poema nunca pergunta ansioso ou confuso sobre o drama da vida... porque já é sempre a verdade de sua própria e sublime resposta...




16 de nov. de 2014

é tão belo somente sonhá-la (ensaio)




“Por que realizar uma obra, quando é tão belo somente sonhá-la?” Pier Paolo Pasolini



O trabalho artístico evocado é apenas um sonho, uma intenção, uma simplória proposição, é somente uma possibilidade, e tem sido sempre, em potencial. É, antes de tudo, um desejo por uma atitude negativa, para ser resistente ao ritmo constante da atividade positivista ansiosa por sucesso e produtividade. Por um momento e por uma obra que esteja fora desse alucinado movimento progressista da sociedade contemporânea. A melhor opção nesse contexto é o não-fazer. Desta maneira, esse trabalho diminui, está em extinção.

Essa condição é estimulada, e busca denunciar isso, por uma desmotivação para essa corrida desenfreada da ação irrefletida, expressa numa profunda vontade de reavaliar a mentalidade competitiva que impulsiona todas as atividades na nossa sociedade contemporânea, em que ocorre uma sistemática desarticulação da liberdade de expressão e da capacidade de promover a cultura artística. Um meio social de poucos recursos disponíveis, desumanizado, com ambientes precários em que não é possível vivenciar a imaginação e a atitude artística libertária. 

Assim, cada vez mais surgem reflexões, uma vontade, de antes de produzir uma quantidade de obras numa motivação progressista e ambiciosa, que devora matérias primas, e impulsiona um movimento irresponsável diante da grande crise ambiental, sentir sempre uma grande emoção por manter sua elaboração no projeto, na reflexão, na proposição espiritual, para que, antes de tudo, o instante da criação poética fosse uma experiência de religiosidade. 

O artista mais atual, pensa e propõe, é o primeiro a renegar a tirania política, a moralidade dominante e a destruição da vida e, assim, pioneiramente, é também o primeiro a desistir dessa mentalidade. Por isso, deve parar de fazer, parar de progredir, parar de entupir o mundo com essa produção inconsequente à qual toda sociedade se dedica tão apaixonadamente. Desta maneira, uma vez profundamente estimulado por essa frase do grande pensador, a obra, se fosse, seria, sempre por uma grande necessidade própria do devaneio da alma. Seria essa obra atual, retomando o atávico destino rupestre, como aquele alguém que escreve um sublime poema com um graveto na areia da praia antes da maré que fará uma onda do mar apagá-la e reconstituir a delicadeza dramática da natureza... Uma não concretização de uma estética materialista, mas sim, uma cotidiana vivência de sua energia, essência interna e abstrata, efêmero sentimento e renúncia, silenciosamente sacrificada por sua não realização abnegada. 




14 de nov. de 2014

ɐɯןɐɔ (poema)





ɐɯןɐɔ
opnʇ
ɹǝʌןosǝɹ
soɯɐʌ


      *



ɯןɐɔ


ɯןɐɔ
ןןɐ
ǝʌןos
ןןıʍ


13 de nov. de 2014

sɐsıoɔ (poema)



sɐsıoɔ sɐp ɐıɹoıɐɯ ɐ
ɐʇǝןdɯoɔ ɐsǝɹdɹns ɐɯn
soɥuos sop ɐıɹoıɐɯ ɐ
ɐʇnןosqo ǝpɐpıןɐǝɹ ɐɯn







11 de nov. de 2014

o golpe da barbárie... (prosa poética)




o monstro meganha acéfalo tomará de assalto o descontrole da insanidade absoluta; a nova novidade de um movimento, projeto de loucura, desenfreada e ilimitada bestialidade; que sustenta a si mesmo pela autodestruição anunciada enquanto se desmente ao vivo; em troca de uma cotidiana sucessão de lideranças alucinadas, que fundam e se afundam em seu mesmo sistema, pela manutenção do poder na brutalidade de sua completa desorganização, na paranoia; na sua legitimidade temporária de seu surto derradeiro e simulado, na mudez do medo, pela imposição do potencial assassino de cada um dos que se anunciam chefias, patrões, comandantes ou celebrações do sucesso de sorriso arreganhado; pela matança, pela paulada, pela tortura e o pavor, gritaria; até que este sucumba numa próxima traição sempre iminente; a máxima guerra inventada, todos contra todos até que nunca seja o contrário jamais; nas praças abertas, nos becos, botecos de sinuca lavada em borras de líquido venoso escorrido, ressecado pelo chão de cimento queimado; nas quebradas, nas sacadas... perenes... pela dominação da miséria limítrofe, da distribuição de ilegalidades, pequenas vantagens contrabandeadas, das necessidades extorquidas, farras e sequestros de vitalidades à míngua; com sua propaganda de horrores, luxo, decapitações, estupros e sangue, sangue falso dilacerado nas séries sobre psicopatas fofos e tesudos... sangue verdadeiro jogado na sarjeta que viramos para nunca olhar e, enfim, da tomada da própria vida em cativeiro esquecido, virgem e viçosa, que será revendida... revendida e revendida, para que possa ser ainda libada em gotas, lambidas, penetradas, repenetradas... em pequenos embrulhos imundos de açougue, moída; por mais inúmeras vezes... desgastada... quase esgotada... em cristais, cheiradas de tampa de privada, pratarias, dourações diamantadas e amplos espaços... e também enquanto vaza nos pequenos goles oleosos, tampos de mármore inesquecível, viscose importada, chita áspera, bombas de seda porca de bar, cachimbos exóticos, platinadas, chutadas, chupadas e emboloradas nos altares, nos camarins, no inferno que a parta; uma última batalha que será para todo o sempre a última sem parar, a eterna maldade... o não deus... e o adeus!



motim (poema)




quando o espanto com a imensidão que rodeia
cai sobre essa solidão sem medida
só o coração é que aí navega sem medo
se é com a vela estufada da imaginação
o remo o leva bem firme o talento
o único que nunca trai ou desiste
que jamais vai abandonar a ninguém
e nesse pequenino bote que foi dado
atravessa uma névoa profunda e azul
depois das revoltadas águas da noite indomável
chega então a mansidão do dia celeste
da delicada e morna aurora desse sol eterno




5 de nov. de 2014

in vitro... (poema)



in vitro...

janela banal
paixão aquário
vidraça arregaça
solidão espelho
vitrine amostra
ilusão cristal



in vitro...

banal window
aquarium passion
shatters pane
mirror loneliness
sample vitrine
crystal illusion