28 de set. de 2015

está em mim? (poema)




o mundo não tem fim
nenhuma família existe
e o eclipse quem disse...
que não está em mim?





24 de set. de 2015

muita sorte... (microconto)



Sim, ele disse, eu tive muita sorte... saí no escuro e a encontrei ali na esquina... mas... eu estava lá na esquina. É... talvez, já o outro lhe replica, deixei aquele tesouro escorregar das minhas mãos naqueles dias, pois, sei lá, brilhava tanto.... mas tanto... que me ofuscava a vista...





21 de set. de 2015

16 de set. de 2015

universidade de passarinhos... (miniconto)



Uma criança uma noite sonhou que ela e os seus amiguinhos tinham construído um lugar sagrado num campo lindo... trabalharam numa tela super delicada que, tecida em fibras perfumadas da natureza, fininhas... era como uma abóboda o separava do resto do mundo. Levantaram também uma cerca simples que o envolvia todo, feita trançada do mais sublime bambú, deixando porém que a água mais clara atravessasse. O grande projeto era que os espaços na tela só davam passagem para os passarinhos entrarem e saírem quando bem desejassem, e a cerca, toda coberta por flores e frutas, deixava os caçadores de fora e terminava na altura até onde as cobras nunca subiriam. Lá, dentro daquele recanto protegido da maldade humana e da fome dos predadores, os bichinhos alados se encontravam todos os dias sem medo de emboscadas, armadilhas ou gaiolas. Ali as avezinhas fundaram então a mais surpreendente de todas as universidades do mundo. Diante dos olhos alegres e dos corações apaixonados das crianças... ensinavam cantigas, danças, tapeçaria, arquitetura, malabarismo... Explicavam sobre o coletivismo, simplicidade, voluntariedade, boa vontade, amizade e, principalmente, humildade. Palestravam também sobre polinização, semeadura, replantio, colheta e ambientalismo e... de como discutir com respeito os mais variados assuntos... Recitavam sobre as grandes viagens... os mares, os rios, cordilheiras, nuvens, ventos, terremotos, cachoeiras, desertos... geleiras, cavernas... pradarias, vales e... seus eternos e insuperáveis amores... as árvores. E assim... todos os pequeninos humanos maravilhados ali aprendiam... descobriam e praticavam... e viveram felizes para sempre...


esporte das multidões... (crônica)



Como a morte do grande Sócrates nos fez entender (o filósofo e não o jogador), antes de tudo é preciso compreender os fundamentos de uma coisa e depois é sempre aconselhável aprofundar um pouco nessa coisa também (o que, no caso da extrema complexidade do futebol, o outro Sócrates, o jogador, demonstrou demorar quase uma vida toda)... porque senão não dá. Alguns acham que o futebol é simples, talvez porque não viveram nada dele, nunca correram pela rua até tarde, nunca foram com o pai assistir partidas numa noite fria e escutaram o barulho do chute na bola... e sentiram isso como um poema... E aí, do nada mental de que são cria os corneteiros, acreditam que, mesmo que nunca tenham se interessado por nada deste fenômeno humano incomparável (muitos dos quais sempre disseram que é apenas um monte de gente tonta correndo atrás de uma bola e se agredindo mutuamente)... possam, agora, em menos de um mês, já definir sua lógica, sua justiça e seus movimentos sublimes... No mundo do futebol há espaço para todos. Mas alguns deveriam humildemente (como ambos os Sócrates nos ensinaram ser o mais honrado a fazer) começar pelo começo. Assim, como alertou o pensador e viveu o boleiro, aprendam a torcer primeiro... comecem por se apaixonar pelo esporte das multidões... já seria uma grande coisa para, realmente, ser iniciado na devoção de seus ritos atávicos...

pesadelo maracanazo (crônica)



ele dormiu durante o jogo e teve um pesadelo de suspense misturado na cerveja aguada de sempre... viu tudo numa névoa mórbida naquelas arenas lindas e descartáveis que já antes mesmo da final se desfaziam aos poucos... viu os fantasmas de um maracanazo às avessas... e parecia que estava todo mundo fingindo... um país inteiro fingindo, mas que um olhar sinistro de canto de olho aqui e ali... denunciava seu pavor... ninguém mais ousava ficar naquele silêncio fúnebre... uns fingiam que amavam o hino gritando... outros fingiam que torciam... outros fingiam acreditar estar a mudar um país... "com muito orguuuuuuuuuuulho"... uns fingiam que jogavam... é isso! fingiam muito bem agora... nem medo nem esperança, mas fingimento era a derradeira solução... se não eram mais felizes... se um chumbo quente agora endurecido ainda lhes entupia a garganta... se está tudo na mesma... fingiam do fundo do coração... chegavam a acreditar!


vi jogar Andrea Pirlo... (crônica)





o futebol do século vinte morre neste mundial... agora as torcidas estão sempre abobalhadamente animadas... mesmo nas derrotas, basta aparecer no telão... não há mais as poéticas posições clássicas com as suas características históricas e míticas... tudo agora é um jogo de peças atléticas gerenciadas como numa planilha de taxas bancárias, que os técnicos impõem na sua frieza e no seu pragmatismo burocrático... as chuteiras, quase incomodam de tão ridículas... quebram a silueta sutil e sofisticada que tinha o boleiro e estão mais importantes que a própria entidade da bola... à qual sacralidade ninguém se refere mais e que hoje parece ser apenas um objeto desinteressante... apenas uma utilidade publicitária na composição da propaganda do próximo produto... os narradores e comentaristas parecem nem querer saber o que o futebol realmente representa para nossa civilização e falam bobagens o tempo todo inventando termos sem nenhuma razão na tradição do jargão futebolístico... porém, ainda há uma reverência possível e fundamental a se fazer... pra quem ainda se lembra do sentido espiritual das pelejas e contendas homéricas, épicas e quase titânicas... aproveitem a derradeira oportunidade para entender o que foi esse esporte e essa vivência heróica para a alma humana... e vejam o último jogador do futebol tradicional, do futebol histórico e do futebol mitológico jogar... daquele futebol maravilhoso que nos marcou tão profundamente a vida... com orgulho digam pros seus netos: vi jogar Andrea Pirlo...




 

14 de set. de 2015

Blackworks & Tattoo Flash & Folk Art (paintings)









Blackworks & Flash Art





Neste novo projeto de F.H.Catani inicia-se, com a supervisão de Caio Jhonson, a dedicação ao universo artístico da Flash Art (que são todas as atividades artísticas ligadas à preparação dos desenhos e pinturas dos tatuadores e que representam uma forma de arte dentro do que se conhece como a Folk Art). Também o artista inicia-se como tatuador aprendiz, com a imersão em estudos e práticas relacionadas à execução de tatuagens no estilo Old School BlackWorks, em que são elaborados desenhos e tatuagens utilizando apenas a cor preta, porém, tendo somente em alguns momentos a inserção de uma outra cor, geralmente o vermelho ou o amarelo, mas de uma maneira bem reservada e em função da mesma linha artística esperada com o uso expressivo do preto. Remetendo seus trabalhos aos significados mais antigos, toscos, visando aos simbolismos ligados aos arquétipos e ao misticismo mais arcaido de uma poética absolutamente rústica, na qual se espera resultados ingênuos, em que a simplicidade dos traços numa elaboração naif, brut, expõe o maior interesse e qualidade estética.



não é esse poema (poema)





não é esse poema
o do verso franco, da estrofe libertária
não é este em nada
como uma sinfonia pedante
entupida de progressões
de harmonia rabugenta
ou complexas modulações
de uma erudição intransigente
nem ao menos e nem de longe
almeja a erudição
naquela ânsia pela qualidade pesada
de uma mentalidade marcial
que obriga a disciplina de sistemas amargos
regras sisudas e dificuldades sarcásticas
curtidas apenas na seca e dolorida ambição
da raiva e da fascinação pelo privilégio
mas é muito antes, aquela poesia infantil
florida e pueril, do ainda intento inconsequente
simplesmente...
como quando batemos o dedo numa corda afinada
de um instrumento rústico... nada além de uma brincadeira...
e descobrimos que uma outra
em um outro encordoamento esticado
que esteja ali ao lado, sem escolha
e neste seu mesmo tom afinado
vibra sozinha num místico espectro de onda
quase imperceptivelmente... na mesma sombra e reflexão
de um encontro tão delicado
como, assim, de um tênue suspiro sobrenatural
que numa saudade sem mágoa, sem agonia
não espera mais nada
sem nenhuma outra atenção
que num pequeníssimo arrepio de sorriso
ou um curto lapso de emoção entre almas de crianças...
ao se encontrar numa ínfima, instantânea e mútua vibração
como nos antigos pedidos das provas de amor ingênuo...




10 de set. de 2015

Abstract Mistakes (digital photos)






Abstract Mistakes are a small number of digital photos taken by cell phone camera and picked from spontaneous and uncontrolled shots occurred unintentionally. I just do the framework and present exactly as they were recorded. Another important thing about it is that I need to expect it to occur, because the shots are never planed, designed or provoked in any other way that is not only a surprise emerged through my mistakes when handling this device in my daily life.

8 de set. de 2015

nada mais sendo (poema)



cada casa se via
vazia às vezes
naquele silêncio
tudo parecia igual
sempre igual fazia
mas se uma força
uma força desatenta
uma coisa nova era
novamente aparecia
como se vivesse
ao mesmo tempo
em vários lugares
e de pouco a pouco
agora piavam ali
alguns passarinhos
nos seus avisos
de que olhasse
o que só faria
e lá alguns sinais
daquelas folhas caídas
e essa distância maior
mas era de si mesmo
como de longe fugia
de si próprio que era
mas não era fugir
apenas que estaria
ali ali e ali e ia
ia sem pensar
algo oco surgia
como um tronco
já seco e morto
doía sim claro
dessa coisa pura
que viver devesse
uma florzinha saía
e que agora mesmo
e nesse outro lugar
nada mais sendo
apenas chovia