“Daí a função de uma arte aberta como metáfora
epistemológica: em um mundo em que a descontinuidade dos fenômenos colocou em
crise a possibilidade de uma imagem unitária e definitiva, isso sugere uma
forma de ver o vivido e, ao vê-lo, aceitando-o, integrá-lo em nossa
sensibilidade. Uma obra aberta enfrenta plenamente a tarefa de oferecer uma
imagem de descontinuidade: pois não a descreve, é a própria descontinuidade. É
um mediador entre a categoria abstrata da metodologia científica e a matéria
viva de nossa sensibilidade; quase como uma espécie de esquema transcendental
que nos permite compreender novos aspectos do mundo.” Umberto Eco
História da Alma da Arte
Proposta de Curso Intensivo
de História da Arte - Uma Visão Semiótica
Por Fernando H. Catani - Mestre em Educação
Ementa: Curso rápido de introdução à história da arte partindo do senso comum da divisão em períodos. Uma aproximação semiótica da história da arte. A realidade do artístico e o mito da arte. A invenção dos períodos da história da arte. Uma aproximação não linear à história da arte. Proposição de um olhar poético-estético sobre a história da arte. As disposições subjetivas e objetivas, o signo, o significado e o significante, nos períodos da história da arte. A apropriação da história da arte para a compreensão da própria humanidade. Uma visão da alma da arte.
Apresentação
Educador,
poeta e artista visual. Formado em pedagogia pela Unicamp. Com Mestrado em
Educação (M.Ed.) nesta mesma Universidade, numa dissertação sobre algumas
qualidades específicas dos processos de criação artística e da observação de obras
de arte intitulada: “Uma Visão da Alma Artística”. Como educador/pesquisador, organiza
atividades educacionais para o desenvolvimento de processos poético/estéticos
de criação artística desde 1998. Estuda atualmente, inspirado num paradigma
semiótico que orbita entre Bachelard, Hillman, Eco e Barthes, alguns arquétipos
conceituais inerentes a esses processos de criação poética/estética e às obras
de arte como um todo, organizados numa tese chamada “A Rosa de Seis Pétalas - Os
Temas Primitivos da Alma Artística”. Apresenta-se aqui, além da introdução aos
fundamentos da reflexão semiótica, uma tentativa de desconstruir as abordagens
convencionais, positivistas e eruditas sobre a história da arte, em busca de encontrar
uma forma intuitiva, fenomenológica e lírica que se aproxima do modo em que os processos
artísticos factualmente se desenvolvem.
Justificativa
Os cursos de história da arte constantemente oferecem aulas que valorizam apenas uma linearidade do pensamento, a cronologia das datas, a hierarquia das obras, a notoriedade dos nomes dos artistas e a tecnologia da produção artística. Porém, raramente alcançam um dos mais importantes e fundamentais fatores do trabalho artístico: a sua alma, a qualidade que funda o processo do artista e da sua arte no seu tempo. Aquilo que cria a cultura e que se expressa nos seus temas poéticos e estéticos. Que é a essência da relação profunda entre a sua subjetividade e a sua materialização. Assim, a proposta desse pequeno curso é disponibilizar uma abordagem semiótica da história da arte, fenomenológica, que pode agregar novos e inesperados instrumentos intelectuais ao participante, para que este fundamente e amplie a sua capacidade de entendimento da importância da arte como o fator mais extraordinário da vivência, da criação e da compreensão das culturas, das civilizações e do ser humano, ao propor um viés que supera intensamente a noção de que a expressão artística é apenas um objeto de erudição, de deleite, de entretenimento, divertimento ou ostentação.
Desenvolvimento
Nesta
perspectiva surgem algumas questões a serem apresentadas:
- Como se formam os temas
subjetivos (significados) e objetivos (significantes) que podem ser encontrados
nos períodos da história da arte?
- Como reconhecer estas obras
(signos) na sua época através de seus temas poéticos e estéticos?
- O que essas obras têm a revelar
sobre a substância anímica e a materialidade cultural de seu tempo?
- A formação do ser humano
contemporâneo
Com a apresentação de um
arquétipo, formado por conceitos, desenvolvida nessa aproximação aos aspectos
semióticos do processo artístico, que se pode chamar de “disposições
poético/estéticas da alma da arte”, oferecer ao participante a capacidade e a
autonomia para a compreensão de alguns possíveis movimentos da imaginação, enquanto
fenômenos da significação, e da construção dos temas artísticos, pela
observação dos seus signos. Então, busca-se fundamentar uma oportunidade da
visão da expressão artística no seu tempo e no seu espaço, através do exercício
de reconhecimento de seus principais elementos poéticos e estéticos, tanto subjacentes
como explícitos, pela compreensão da sua aparição em alguns dos mais importantes
momentos da história da arte.
A duração ideal
do curso é para um total de doze horas aula, desenvolvidas nas seguintes atividades:
-
Palestras expositivas, discussões orientadas, visualização de imagens, pequenos
trechos de textos escolhidos, trechos de audiovisuais e de filmes (é necessário
equipamento de mídia disponível).
-
Pequenas oficinas artísticas de desenho, pintura, colagens, fotografia, para
cultivar a imaginação artística e o desenvolvimento da intuição poética dentro
da proposta do curso (é necessário material artístico disponível: papel, lápis,
giz de cera, pincéis, tinta guache, copos e paletas).
Bibliografia
ARGAN, G.C. (1992). "Arte moderna: do Iluminismo aos movimentos contemporâneos". São Paulo: Companhia das Letras.
ARGAN, G. C. (2005). "História da arte como história da cidade". 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes.
BACHELARD, G. (1979). “A Filosofia do Não”. São Paulo: Editora Abril
BARTHES,
R. (1971). “Elementos da Semiologia”. São Paulo: Cultrix
CATANI,
F.H. (2011). “Uma Visão da Alma Artística”. Dissertação de Mestrado. Campinas: FE-Unicamp
ECO,
U. (1968). “Obra Aberta”. São Paulo: Editora Perspectiva
HAUSER, A. (2000). "História Social da Arte e da Literatura". São Paulo: Martins Fontes.
HILLMAN,
J. (1983). “Psicologia Arquetípica”. São Paulo: Cultrix
PLATÃO.
(2010). “Teeteto”. Porto: FCG
TARKOVISKI, A. (2002). “Esculpir o Tempo”. São Paulo: Martins Fontes
VYGOTSKY(1999). Psicologia da Arte.São Paulo: Martins Fontes