16 de nov. de 2014

é tão belo somente sonhá-la (ensaio)




“Por que realizar uma obra, quando é tão belo somente sonhá-la?” Pier Paolo Pasolini



O trabalho artístico evocado é apenas um sonho, uma intenção, uma simplória proposição, é somente uma possibilidade, e tem sido sempre, em potencial. É, antes de tudo, um desejo por uma atitude negativa, para ser resistente ao ritmo constante da atividade positivista ansiosa por sucesso e produtividade. Por um momento e por uma obra que esteja fora desse alucinado movimento progressista da sociedade contemporânea. A melhor opção nesse contexto é o não-fazer. Desta maneira, esse trabalho diminui, está em extinção.

Essa condição é estimulada, e busca denunciar isso, por uma desmotivação para essa corrida desenfreada da ação irrefletida, expressa numa profunda vontade de reavaliar a mentalidade competitiva que impulsiona todas as atividades na nossa sociedade contemporânea, em que ocorre uma sistemática desarticulação da liberdade de expressão e da capacidade de promover a cultura artística. Um meio social de poucos recursos disponíveis, desumanizado, com ambientes precários em que não é possível vivenciar a imaginação e a atitude artística libertária. 

Assim, cada vez mais surgem reflexões, uma vontade, de antes de produzir uma quantidade de obras numa motivação progressista e ambiciosa, que devora matérias primas, e impulsiona um movimento irresponsável diante da grande crise ambiental, sentir sempre uma grande emoção por manter sua elaboração no projeto, na reflexão, na proposição espiritual, para que, antes de tudo, o instante da criação poética fosse uma experiência de religiosidade. 

O artista mais atual, pensa e propõe, é o primeiro a renegar a tirania política, a moralidade dominante e a destruição da vida e, assim, pioneiramente, é também o primeiro a desistir dessa mentalidade. Por isso, deve parar de fazer, parar de progredir, parar de entupir o mundo com essa produção inconsequente à qual toda sociedade se dedica tão apaixonadamente. Desta maneira, uma vez profundamente estimulado por essa frase do grande pensador, a obra, se fosse, seria, sempre por uma grande necessidade própria do devaneio da alma. Seria essa obra atual, retomando o atávico destino rupestre, como aquele alguém que escreve um sublime poema com um graveto na areia da praia antes da maré que fará uma onda do mar apagá-la e reconstituir a delicadeza dramática da natureza... Uma não concretização de uma estética materialista, mas sim, uma cotidiana vivência de sua energia, essência interna e abstrata, efêmero sentimento e renúncia, silenciosamente sacrificada por sua não realização abnegada.