17 de abr. de 2022

ser sórdido (miniconto)

Um deus encarregado de distribuir os dons entre os seres do planeta explicava a cada um que, embora fossem receber capacidades incríveis, obrigatoriamente teriam que aceitar algumas mazelas de troco. E aí o deus fazia o seu trabalho. O urubu recebeu o voo mais lindo de todos, mas só lhe restaria a carniça. Para as árvores deu o sofrimento mais delicado do universo, porém, ficariam sempre estáticas no mesmo lugar. Às formigas o poder de carregar um imenso peso, mas tão indefesas que são esmagadas facilmente. Aos passarinhos o canto mais milagroso acompanhado de sua fragilidade e insegurança constante. E aí foi. No momento do ser humano o deus parou e disse solene: “aqui vai um corpo gracioso de beleza indefinível e mais uma inteligência extraordinariamente maravilhosa, todavia, deverá ser eternamente um monstro asqueroso, sórdido e imundo”.