20 de set. de 2014

não é esse poema... (prosa poética)






não é esse poema
o do verso franco, da estrofe libertária
não é este em nada
como uma sinfonia pedante
entupida de progressões
de harmonia rabugenta
ou complexas modulações
de uma erudição intransigente
nem ao menos e nem de longe
almeja a erudição
naquela ânsia pela qualidade pesada
de uma mentalidade marcial
que obriga a disciplina de sistemas amargos
regras sisudas e dificuldades sarcásticas
curtidas apenas na seca e dolorida ambição
da raiva e da fascinação pelo privilégio
mas é muito antes, aquela poesia infantil
florida e pueril, do ainda intento inconsequente
simplesmente...
como quando batemos o dedo numa corda afinada
de um instrumento rústico... 

nada além de uma brincadeira...
e descobrimos que uma outra
em um outro encordoamento esticado
que esteja ali ao lado, sem escolha
e neste seu mesmo tom afinado
vibra sozinha num místico espectro de onda
quase imperceptivelmente... 

na mesma sombra e reflexão
de um encontro tão delicado
como, assim, de um tênue suspiro sobrenatural
que numa saudade sem mágoa, sem agonia
não espera mais nada
sem nenhuma outra atenção
que num pequeníssimo arrepio de sorriso
ou um curto lapso de emoção entre almas de crianças...
ao se encontrar numa ínfima, instantânea e mútua vibração
como nos antigos pedidos das provas de amor ingênuo...




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