24 de mar. de 2014

polarização de atitudes (crônica política)






“Nenhuma moral e nenhum esforço são a priori justificáveis ante as sangrentas matemáticas que regem a nossa condição.” Albert Camus







A polarização de pretensas posições políticas somente alimenta ainda mais o ódio estúpido e a paranóia que apodrece nos corações e mentes daqueles que são intolerantes, além do que, isto é uma das coisas que estas pessoas mais desejam inconscientemente. O ódio vicia. Por que cultivá-lo? Nisso prolifera o antagonismo e não a compreensão. A tomada de consciência social e política no cotidiano de que tanto precisamos nunca veio nem virá através disso. Quem está realmente preocupado precisa parar de xingar publicamente o ‘inimigo’ e começar a se mobilizar realmente, participar e formar iniciativas humanistas, legais, efetivas e cidadãs cotidianamente. Xingar é fácil e barato. Porém, é a organização inteligente, coerente e legal é que ensina as pessoas a respeitar o outro. Ou para alguém respeitar o outro é melhor ensinar a atacar o outro? A moralidade das guerrinhas de torcida, a chuva de cusparadas e o escárnio mútuo apenas vai fazer com que aqueles que ainda estão em dúvida, aprendendo a viver, endureçam as atitudes, de um lado ou de outro, mesmo que não necessariamente desejassem que isso acontecesse. Isso é notório.


Por exemplo, uma pessoa (esqueça os líderes que apenas querem sua cabeça e nunca vão mudar de opinião; pense nas crianças e nos jovens ainda com certa abertura mental natural); então, imagine que esta pessoa esteja inserida num meio que fomenta a intolerância, mas, de certo modo, perceba a problemática disso e comece a desejar mudar, no entanto, por algum motivo, insegurança ou ingenuidade, ainda tenha dificuldade de negar o seu grupo, sua família, seus amigos (vamos ser honestos, não é tão fácil assim); quando as atitudes se tornam polarizadas demais, fica ainda mais difícil para essa pessoa sair desse meio como talvez já deseje, porque as ofensas acabam por fabricar uma barreira muito grande para esta pessoa conseguir pular. Assim, isso nos afasta e não nos atrai. O que muda realmente na sociedade quando usamos os mesmos elementos psicologicamente agressivos dos intolerantes? Pense numa criança em meio a estas situações... o que ela vai entender? Porque investir nisso?


Alguém pode pensar (pensar?) que ridicularizar e ofender as pessoas que defendem idéias absurdas e intolerantes é a melhor maneira de lutar contra isso, mas, na verdade, isso não toca a consciência nem daqueles que são ignorantes neste aspecto e nem dos que querem sair dessa ignorância, por outro lado, somente serve para ficar batendo ombro e se reafirmando perante aqueles que concordam com você. Alguém acredita mesmo que é possível uma sociedade homogênia? Mas não é acreditar nisso que é o errado com os intolerantes? Então, seria essa polarização o melhor caminho? (outra vez esqueça da necessidade de vencer os líderes e pense no seu vizinho). Essa polarização é sempre fomentada ou por lideranças que assumem posições para defender interesses ou por insanos que querem destruir tudo porque não sabem mais o que fazer. Manipular e conduzir pessoas inflamadas por discursos definitivos, agindo cegamente, emocionadas com a cabeça quente e com a boca espumando de raiva é muito mais fácil. E outra, se tudo der errado ainda é possível prendê-las com um bom motivo aparente. As lideranças políticas são testas de ferro que se utilizam da polarização das opiniões, porque é através dessa polarização que sempre disputam e mantêm o seu poder, seja pela loucura de possuí-lo apenas ou por estarem a serviço dos grupos que as financiam (geralmente são os dois juntos), consequentemente, para defender os privilégios deste grupo. Quando desejamos ser livres, então, não precisamos pertencer a ninguém. Talvez seja esse o melhor reinício caro Sísifo.