12 de nov. de 2022

arqueologia da saudade (poema)





nascera esquecido

num lugar sem identidade

talvez por isso na sua sina

dum oco no peito aberto

conseguira entender

e ser tudo que fora possível


voara pelo mundo todo

num sonho das noites

e no devaneio dos dias


chorara com todos nas tribos

nas masmorras dos castelos

na solidão dos desertos

no silêncio das montanhas


dançara com todos nos campos

nas festas de colheita

nas caçadas das florestas

nos festivais dos vinhos

nos casamentos ancestrais

e rituais sagrados da iniciação


dizem que se não se está

não se pode saber de tudo

mas conhecera a compaixão

a empatia e a alteridade de si mesmo

vira espantado estranhos no seu reflexo

assim desmachara em tudo que existia


e se o corpo marcado

nunca se esquece pela cicatriz

e memória é sentimento

soube da dor e da glória de cada ser

já que o sentir viaja por dentro


andara pelo mundo em que vivemos

de lembrança em lembrança

numa arqueologia da saudade

pelos caminhos da alma

nas paisagens eternas do espírito