28 de mar. de 2021

Mediocridade (crônica)









A mediocridade não está em ser simplório, ter um cotidiano enfadonho. Thoreau fundou a consciência ambiental da humanidade moderna sem nunca viajar, uma única vez na vida, além de 800km de sua cidadezinha natal; mesmo sua cabana no Walden estava apenas a 2km de seu berço. Volpi, um dos pioneiros da varguarda concretista do mundo, morou a vida toda num sobradinho no Ipiranga; ali, sozinho, reconstruiu a alma de um povo. Cristo e Buddha, afinal, eram dois filhinhos de papai. A coisa é que, ao contrário de ver e apontar a imensidão do universo na sua vidinha parca, o sujeitinho medíocre acredita que a grandiosidade de tudo é, em si mesma, essa sua coisinha de merda. Este último, o sujeitinho ordinário, pensa e faz tudo na sua miséria filosófica supondo que ele seja o herói de uma aventura homérica. Ele não devaneia poeticamente sobre uma batalha colossal de formigas lutando por seus reinos. Ele nada sabe ou diz da sabedoria da existência que se encontra embaixo das pedrinhas. O caminho do meio então... esquece. Para o ignorante... Faustão é o Oráculo de Delfos, e a bunda... o Graal eterno. Aqueles navegam na imaginação onírica, esse outro está acorrentado na fantasia da sua míngua. Veja meu vizinho, um singelo exemplo, ele vai pegar o esguicho como se fosse a corda que salvaria toda uma expedição ao Himalayas; ele vai no banheiro como se adentrasse na descoberta das cavernas que dão ao centro da Terra. Narrando a si mesmo, como todo bom cretino, sempre em voz alta... AMOOOORR! BENHÊÊÊ! RÁPIDO PEGA O WAP! LIGA! VAMO LAVÁ AQUI TÁ SUJO! AMOOOORRR! BENNHEEÊÊ VÔ CAGÁ! PEGA O PAPEL! VÔ CAGÁ! TÔ CAGANDO! CAGUEI!