'poeminha' - F.H.Catani - 2014 - acrílica s/ tela - 155cm x 190cm
Em
minha experiência com a intenção artística sempre ocorreu uma forte ligação com
o desenho e a pintura por uma tradição e convivência com esses gêneros, porém,
também elaborei algumas obras tridimensionais que utilizavam uma montagem com
materiais diversos, mas enfatizando o uso do vidro/espelho, de mobília de
madeira calcinada e de objetos de ferro-velho. Essas obras, os desenhos, as
pinturas e as montagens tridimensionais (que em alguns projetos tomavam forma
de inserções de execução simples sobre monumentos públicos), buscam sempre uma
perspectiva de alma e de um arquétipo total,
considerando as palavras de James Hillman:
“Por alma entendo, antes de mais nada, uma
perspectiva mais do que uma substância, um ponto de vista sobre as coisas mais
do que a coisa em si... A
alma é um conceito deliberadamente ambíguo que resiste a toda definição”.
Também
me preocupo, na execução dessas obras artísticas, em cultivar uma reflexão
sobre dois aspectos que julgo mais influentes na problemática psicossociológica
da civilização humana contemporânea: o medo e a ilusão, ao mesmo tempo em que é
uma elaboração do que eu chamo de ícones máximos, ou seja, quero sempre criar a
cada obra um ícone total da Divindade, num poema arcaico, onde todos os
arquétipos possam ser reconhecidos. Retorno a arché dos primeiros filósofos, ao devaneio pelo princípio absoluto.
“A universalidade de uma imagem
arquetípica significa também que a resposta à imagem implica mais do que
conseqüências pessoais, ampliando a alma para além de seus confins egocêntricos
e alargando os eventos da natureza de distintas particularidades atômicas para
sinais estéticos que trazem informação para a alma” James Hillman.
Em
todos estes trabalhos o que sempre fica em evidência, para mim, é uma intenção
de profetização delirante da presença da Divindade, uma veneração e uma
religiosidade sobre o instante do eterno presente, que está sempre cercado,
como disse, pelo medo e pela ilusão nascidos na mente humana como elementos
psicológicos do passado e do futuro, como únicas figuras que tendem a tentar
escapar do instante da presença da Divindade. A obra é o altar em que o instante
será sempre adorado e cultuado para que não seja banalizado pela displicência
da certeza de uma continuidade que se entrega ou a esse medo ou a essa ilusão.
E, para entender sobre o instante, em seu drama poético, rendo-me a Bachelard:
“A poesia
é uma metafísica instantânea. Num curto poema, ela deve dar uma visão do
universo e o segredo de uma alma, um ser e objetos, tudo ao mesmo tempo. Se
segue simplesmente o tempo da vida, ela é menos que esta; só pode ser mais que
a vida imobilizando-a, vivendo no próprio lugar a dialética das alegrias e das
dores. Ela é, então, o princípio de uma simultaneidade essencial em que o ser
mais disperso, mais desunido, conquista sua unidade”. Gaston Bachelard