17 de fev. de 2014

Pinturas 2014 (artigo)













'poeminha' - F.H.Catani - 2014 - acrílica s/ tela - 155cm x 190cm






Em minha experiência com a intenção artística sempre ocorreu uma forte ligação com o desenho e a pintura por uma tradição e convivência com esses gêneros, porém, também elaborei algumas obras tridimensionais que utilizavam uma montagem com materiais diversos, mas enfatizando o uso do vidro/espelho, de mobília de madeira calcinada e de objetos de ferro-velho. Essas obras, os desenhos, as pinturas e as montagens tridimensionais (que em alguns projetos tomavam forma de inserções de execução simples sobre monumentos públicos), buscam sempre uma perspectiva de alma e de um arquétipo total, considerando as palavras de James Hillman:

 “Por alma entendo, antes de mais nada, uma perspectiva mais do que uma substância, um ponto de vista sobre as coisas mais do que a coisa em si... A alma é um conceito deliberadamente ambíguo que resiste a toda definição”.

Também me preocupo, na execução dessas obras artísticas, em cultivar uma reflexão sobre dois aspectos que julgo mais influentes na problemática psicossociológica da civilização humana contemporânea: o medo e a ilusão, ao mesmo tempo em que é uma elaboração do que eu chamo de ícones máximos, ou seja, quero sempre criar a cada obra um ícone total da Divindade, num poema arcaico, onde todos os arquétipos possam ser reconhecidos. Retorno a arché dos primeiros filósofos, ao devaneio pelo princípio absoluto.

“A universalidade de uma imagem arquetípica significa também que a resposta à imagem implica mais do que conseqüências pessoais, ampliando a alma para além de seus confins egocêntricos e alargando os eventos da natureza de distintas particularidades atômicas para sinais estéticos que trazem informação para a alma” James Hillman.

Em todos estes trabalhos o que sempre fica em evidência, para mim, é uma intenção de profetização delirante da presença da Divindade, uma veneração e uma religiosidade sobre o instante do eterno presente, que está sempre cercado, como disse, pelo medo e pela ilusão nascidos na mente humana como elementos psicológicos do passado e do futuro, como únicas figuras que tendem a tentar escapar do instante da presença da Divindade. A obra é o altar em que o instante será sempre adorado e cultuado para que não seja banalizado pela displicência da certeza de uma continuidade que se entrega ou a esse medo ou a essa ilusão. E, para entender sobre o instante, em seu drama poético, rendo-me a Bachelard:



“A poesia é uma metafísica instantânea. Num curto poema, ela deve dar uma visão do universo e o segredo de uma alma, um ser e objetos, tudo ao mesmo tempo. Se segue simplesmente o tempo da vida, ela é menos que esta; só pode ser mais que a vida imobilizando-a, vivendo no próprio lugar a dialética das alegrias e das dores. Ela é, então, o princípio de uma simultaneidade essencial em que o ser mais disperso, mais desunido, conquista sua unidade”. Gaston Bachelard







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