MEMORIAL
DESCRITIVO - CONCEITUALIZAÇÃO
Este é um projeto
para conduzir o discurso da uma obra de
arte através de uma instalação de corpos tridimensionais.
O objetivo é a figuração
de um templo (a sala), onde um altar (a obra) expõe a metáfora reversa do
próprio observador, porém, em uma construção inédita e livre de identificação
condicionada.
Idealizei esta sala,
contemplando a materialidade das coisas, e refletindo sobre e seu poder
enquanto linguagem, e estimulado pelas
reflexões sobre os símbolos e conceitos filosóficos da religiosidade em autores
literários modernos e contemporâneos como Carl Jung, Vigotski, Jean Baudrillard,
Joseph Campbell, Umberto Eco, Rudolf Stainer, Goethe, James Hillman, Gaston
Bachelard, entre outros. Edifiquei,
então, um símbolo extremo total, composto de ícones máximos, procurando
materializar um arquétipo primordial.
A relação entre as
alegorias de cada substância em particular, está no diálogo entre qualidades
materiais e formais dos corpos, e também pela
leitura mito-filosófica de seus significados subjacentes.
É pois, uma tentativa de
recriar o mito do andrógino primordial, porém, tratado de uma maneira
totalmente tosca.
Busca uma conseqüência
atávica para uma vertigem no espaço espiritual interno do observador, criando
um sistema palíndromo na dinâmica obra/observador.
Busca causar um
desconforto religioso, internalizando as associações dos conceitos, pelo
enfrentamento de sensações inéditas causadas pela proximidade dos materiais.
Causando um estranhamento ao observador
no contato com esses elementos de força espiritual reversa.
Pretendo imprimir,
assim, uma atividade artística contemporânea pela hipertrofia de elementos
iconográficos extremos. Acredito sublimar toda especulação passional, ao me
interessar por um projeto simples e de comunicação formal singular. Elaborando
um sistema conceitual subjetivo que, expondo um corpo considerado signo, possa
transformá-lo em um mito silencioso materializado e objetivado na catarse,
explosão e expansão de significados. Encontrar a mais profunda e ascendente
poética, utilizando um único momento. Alegoria e grito do primeiro impulso.
Desta maneira, criar, no
termo da apropriação de materiais não obrigatoriamente artísticos, uma metáfora
máxima do mistério da existência sublime, paradoxalmente, através de uma
materialidade completamente bruta.
TEXTO DESCRITIVO
A Obra
Uma sala completamente
branca, com paredes e piso montadas em fundo infinito, instalada com o altar (a
obra) em seu centro, recebendo iluminação total de cima para baixo e eliminando toda e qualquer sombra.
O altar é composto de
uma mesa de madeira (1,2m X 1,2m X 1,4m) com apoio quincunce, totalmente
calcinada. Sobre a mesa está uma pedra
bruta de cor predominantemente clara (quartzo
rosa com aproximadamente 50cm cúbicos).
Este primeiro conjunto
está no interior de uma estrutura cúbica, construída com doze barras de ferro
velho (2m³ quando montada). Este cubo, se apoia sobre quatro pilhas de placas
de vidro (40cm³ cada).
Finalmente, três círculos
de feixes de arame farpado (300cm de diâmetro e 10cm de espessura), circundam o
cubo externamente, tangenciando seus vértices laterais, sendo dois dos feixes,
prateados, na vertical, e um feixe,
enferrujado, na horizontal.
Função
Na contemplação da obra,
espera-se despertar a percepção de valores sutis dos materiais, e das suas
referências matemático-filosóficas, mito-poéticas, místico-religiosas e psicossociológicas.
Valorizando uma a
abordagem gestáltica, proponho uma função mnênica, comum a todo símbolo
religioso ou dogma arquetípico, que exige uma leitura mito-hermética.
Reúno aqui significados
clássicos, para os envolver numa pátina arcaica. Aponto aspectos primitivos de
suas semiologias, fortalecendo apenas os seus princípios atávicos.
Remeto à figura
simbólica da Rebis alquímica, o mercúrio andrógino, e à própria alegoria
do 5 cinco como número nupcial (segundo os
pitagóricos), quintessência do ser, como símbolo de união total e centro da
harmonia absoluta, porque cinco são também os elementos que formam o todo da
obra: a Alma, a Consciência, o Corpo, o Tempo e o Espaço.
Sendo assim, temos as
seguintes relações de significação: a pedra bruta é a alma (eternamente
lapidada por Deus), apoiada sobre um corpo físico calcinado (mortalidade) da mesa de
madeira (altar do próprio sacrifico da vida) com cinco pés (quintessência do
ser).
Um ícone espacial na estrutura
cúbica (Terra) de ferro, em relação com o ícone temporal (Céu) dos três
círculos de arame farpado (é remota a associação do ferro a uma certa
ambigüidade, pela sua própria indeefinição entre o maleável e a força, e, por
isso, representam aqui o paradoxo espaço-tempo). As quatro bases, em que apoia-se o
espaço circundado pelo tempo, sendo a metáfora da própria existência do homem,
são formadas de espelhos (reflexão) ou vidros (transparência) qualidades
amplamente ligadas à consciência humana.
A analogia numérica também
permite, ao observador atento dado ao devaneio, um interessante caminho. Um
desses caminhos é o que eu mesmo escolho: Todos os corpos da obra, estão
ligados entre si, por aspectos numerológicos.
Então, vemos que quatro são as bases da consciência (tetraktis de
Pitágoras), una a substância da alma na pedra bruta, enquanto são cinco os
apoios da matéria representada pela mesa calcinada (madeira, metal, fogo, água
e terra), somando o número dez (símbolo espacial da totalidade absoluta).
No cubo de oito vértices
(cardeais), envolvidos pelos três anéis do tempo representados pelos feixes de
arame farpado (passado, presente e futuro), somamos o número onze, que é o
recomeço (símbolo da eternidade temporal).
Recrio aqui então, o arquétipo do andrógino no ser inicial (Rebis), das
núpcias entre o céu e a terra, o homem e a mulher, o tempo e o espaço, a vida e
a morte. Em que o "Completo Eterno" se manifesta em si mesmo.
Bibliografia
BACHELARD, G.(2001).O Ar
e os Sonhos.São Paulo:Martins Fontes
______________.(1999ª).A
Psicanálise do Fogo.São Paulo:Martins Fontes
______________.(2001ª).A
Poética do Devaneio.São Paulo:Martins fontes
BAUDRILARD, J. (1968).O
Sistema dos Objetos. Perspectiva:São Paulo
CAMPBELL, J. (1974).A
Imagem Mítica. Papirus: Campinas
______________.(1962).As
Máscaras de Deus (mitologia oriental). Palas Athena:São Paulo
CARVALHO, J. J. de. (1995).Mutus
Liber (o livro mudo da alquimia).São Paulo:Attar
CHEVALIER, J. (1992).Dicionário
de Símbolos.José Olympio:Rio de Janeiro
ECO,U. (1991).Obra
Aberta. Perspectiva: São Paulo
____________. (1997).Kant
e o Ornotorrinco. Record: São Paulo
HILLMAN, J.(1983).Psicologia
Arquetípica.São Paulo:Cultrix
_________(1993).Paranóia.Petrópolis,RJ:Vozes
JUNG, C. G. (1994).Interpretação
Psicológica do Dogma da Trindade. Vozes:Petrópolis
__________.(org.). (1964).O
homem e Seus Símbolos. Nova Fronteira:Rio de Janeiro
__________.(1985). O Espírito na Arte e na Ciência.Petrópolis:Vozes
__________.(2002). Sincronicidade.Petrópolis:Vozes
KANDINSKY, W. (1990).Do
Espiritual na Arte. Martins Fontes: São Paulo
PLATÃO.(2004).Apologia
de Sócrates/Banquete. São Paulo:Martin Claret
________.(2005).Fédon.São
Paulo:Rideel
________.(2004a).Fedro.São
Paulo:Martin Claret
________.(2001).Mênon.Rio
de Janeiro:Ed PUC-Rio/Loyola
________.(2001ª).A
República.Porto:FCG
RICHTER, H. (1993).DADÁ:
Arte e Antiarte.Martins Fontes.São Paulo
VIGOTSKI, L. S. (1998).Psicologia
da Arte. Martins Fontes: São Paulo