19 de fev. de 2014

Neo Rebis (projeto/tridimencional)









MEMORIAL DESCRITIVO - CONCEITUALIZAÇÃO

Este é um projeto para  conduzir o discurso da uma obra de arte através de uma instalação de corpos tridimensionais.
O objetivo é a figuração de um templo (a sala), onde um altar (a obra) expõe a metáfora reversa do próprio observador, porém, em uma construção inédita e livre de identificação condicionada. 
Idealizei esta sala, contemplando a materialidade das coisas, e refletindo sobre e seu poder enquanto linguagem,  e estimulado pelas reflexões sobre os símbolos e conceitos filosóficos da religiosidade em autores literários modernos e contemporâneos como Carl Jung, Vigotski, Jean Baudrillard, Joseph Campbell, Umberto Eco, Rudolf Stainer, Goethe, James Hillman, Gaston Bachelard,  entre outros. Edifiquei, então, um símbolo extremo total, composto de ícones máximos, procurando materializar um arquétipo primordial.
A relação entre as alegorias de cada substância em particular, está no diálogo entre qualidades materiais e formais dos corpos, e também pela  leitura mito-filosófica de seus significados subjacentes.
É pois, uma tentativa de recriar o mito do andrógino primordial, porém, tratado de uma maneira totalmente tosca.
Busca uma conseqüência atávica para uma vertigem no espaço espiritual interno do observador, criando um sistema palíndromo na dinâmica obra/observador.
Busca causar um desconforto religioso, internalizando as associações dos conceitos, pelo enfrentamento de sensações inéditas causadas pela proximidade dos materiais. Causando um estranhamento ao observador  no contato com esses elementos de força espiritual reversa. 
Pretendo imprimir, assim, uma atividade artística contemporânea pela hipertrofia de elementos iconográficos extremos. Acredito sublimar toda especulação passional, ao me interessar por um projeto simples e de comunicação formal singular. Elaborando um sistema conceitual subjetivo que, expondo um corpo considerado signo, possa transformá-lo em um mito silencioso materializado e objetivado na catarse, explosão e expansão de significados. Encontrar a mais profunda e ascendente poética, utilizando um único momento. Alegoria e grito do primeiro impulso.
Desta maneira, criar, no termo da apropriação de materiais não obrigatoriamente artísticos, uma metáfora máxima do mistério da existência sublime, paradoxalmente, através de uma materialidade completamente bruta.

TEXTO DESCRITIVO

A Obra
Uma sala completamente branca, com paredes e piso montadas em fundo infinito, instalada com o altar (a obra) em seu centro, recebendo iluminação total de cima para baixo e  eliminando toda e qualquer sombra.
O altar é composto de uma mesa de madeira (1,2m X 1,2m X 1,4m) com apoio quincunce, totalmente calcinada.  Sobre a mesa está uma pedra bruta  de cor predominantemente clara (quartzo rosa com aproximadamente 50cm cúbicos).
Este primeiro conjunto está no interior de uma estrutura cúbica, construída com doze barras de ferro velho (2m³ quando montada). Este cubo, se apoia sobre quatro pilhas de placas de vidro (40cm³ cada).
Finalmente, três círculos de feixes de arame farpado (300cm de diâmetro e 10cm de espessura), circundam o cubo externamente, tangenciando seus vértices laterais, sendo dois dos feixes, prateados, na vertical,  e um feixe, enferrujado, na horizontal.


Função
Na contemplação da obra, espera-se despertar a percepção de valores sutis dos materiais, e das suas referências matemático-filosóficas, mito-poéticas, místico-religiosas e psicossociológicas.
Valorizando uma a abordagem gestáltica, proponho uma função mnênica, comum a todo símbolo religioso ou dogma arquetípico, que exige uma leitura mito-hermética.
Reúno aqui significados clássicos, para os envolver numa pátina arcaica. Aponto aspectos primitivos de suas semiologias, fortalecendo apenas os seus princípios atávicos.
Remeto à figura simbólica da Rebis alquímica, o mercúrio andrógino, e à própria alegoria do  5  cinco como número nupcial (segundo os pitagóricos), quintessência do ser, como símbolo de união total e centro da harmonia absoluta, porque cinco são também os elementos que formam o todo da obra: a Alma, a Consciência, o Corpo, o Tempo e o Espaço.
Sendo assim, temos as seguintes relações de significação: a pedra bruta é a alma (eternamente lapidada por Deus), apoiada sobre um corpo físico  calcinado (mortalidade) da mesa de madeira (altar do próprio sacrifico da vida) com cinco pés (quintessência do ser).
Um ícone espacial na estrutura cúbica (Terra) de ferro, em relação com o ícone temporal (Céu) dos três círculos de arame farpado (é remota a associação do ferro a uma certa ambigüidade, pela sua própria indeefinição entre o maleável e a força, e, por isso, representam aqui o paradoxo espaço-tempo).  As quatro bases, em que apoia-se o espaço circundado pelo tempo, sendo a metáfora da própria existência do homem, são formadas de espelhos (reflexão) ou vidros (transparência) qualidades amplamente ligadas à consciência humana.
A analogia numérica também permite, ao observador atento dado ao devaneio, um interessante caminho. Um desses caminhos é o que eu mesmo escolho: Todos os corpos da obra, estão ligados entre si, por aspectos numerológicos.  Então, vemos que quatro são as bases da consciência (tetraktis de Pitágoras), una a substância da alma na pedra bruta, enquanto são cinco os apoios da matéria representada pela mesa calcinada (madeira, metal, fogo, água e terra), somando o número dez (símbolo espacial da totalidade absoluta). 
No cubo de oito vértices (cardeais), envolvidos pelos três anéis do tempo representados pelos feixes de arame farpado (passado, presente e futuro), somamos o número onze, que é o recomeço (símbolo da eternidade temporal).  Recrio aqui então, o arquétipo do andrógino no ser inicial (Rebis), das núpcias entre o céu e a terra, o homem e a mulher, o tempo e o espaço, a vida e a morte. Em que o "Completo Eterno" se manifesta em si mesmo.



Bibliografia

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