Preocupo-me, na execução dessas obras artísticas, com a criação de
poemas visuais que inicialmente e invariavelmente buscam cultivar uma reflexão
sobre dois aspectos que julgo mais influentes, e por isso importantes de
denunciar, na problemática psicossociológica da civilização humana contemporânea:
o medo e a ilusão que, no caso destes trabalhos, aparecem tanto no drama
cromático criado entre cores puras e o preto como na dicotomia e nas inversões sugeridas
e elaboradas, entre fundo e figura, em meus processos de criação das obras. A
partir desta tensão surge uma preparação do que eu chamo de ícones máximos, ou
seja, quero sempre criar a cada obra um ícone total da Divindade, num poema
arcaico, onde todos os arquétipos possam ser reconhecidos de uma só vez. Retorno
a arché[i] dos primeiros filósofos, ao devaneio
pelo princípio absoluto[ii].
Em meus trabalhos, o que me esforço sempre para manter em
evidência é uma intenção poético/estética de profetização delirante da presença
da Divindade, uma veneração e uma religiosidade sobre o instante do eterno
presente, que está sempre cercado, como já disse, pelo medo e pela ilusão, fomentados
na mente humana como os elementos culturais biopsicossociológicos do passado e
do futuro, respectivamente, como os únicos movimentos que tendem constantemente
a tentar escapar da intuição do instante presente, do eterno, da presença da
Divindade. A obra é, então, o altar em que o instante sagrado será sempre
adorado e cultuado para que não seja banalizado pela displicência da certeza de
uma continuidade que se entrega, exatamente, ou a esse medo ou a essa ilusão.
E, para entender sobre esse instante, em seu drama de poesia, rendo-me a Gaston
Bachelard (2007:99):
“A poesia é uma metafísica
instantânea. Num curto poema, ela deve dar uma visão do universo e o segredo de
uma alma, um ser e objetos, tudo ao mesmo tempo. Se segue simplesmente o tempo
da vida, ela é menos que esta; só pode ser mais que a vida imobilizando-a,
vivendo no próprio lugar a dialética das alegrias e das dores. Ela é, então, o
princípio de uma simultaneidade essencial em que o ser mais disperso, mais
desunido, conquista sua unidade”.
[i] “É
o princípio absoluto, eterno, idêntico e incorruptível de todas as coisas e que
governa/comanda a realidade.” (CHAUÍ,1994:344)
[ii] “A
universalidade de uma imagem arquetípica significa também que a resposta à
imagem implica mais do que conseqüências pessoais, ampliando a alma para além
de seus confins egocêntricos e alargando os eventos da natureza de distintas
particularidades atômicas para sinais estéticos que trazem informação para a
alma” James Hillman (1983:34).