Na cabeça deles tinha um samba
enredo repetido, um enxerto. Uma espécie de prótese, um calço, que traduzia
tudo. Assim, nunca havia conversa de verdade, pois, tudo deveria ser
decodificado para o compreendedor automático deles, eliminando o espanto da dúvida
fulminantemente. Concordo... não concordo... concordo... não concordo... concordo...
não concordo. Aprenderam isso desde crianças em suas escolas e no dolorido moralismo
familiar que dissimulava a masturbação. Cada olhar, cada chiado, palavra, letra,
todo significado era rapidamente transcrito para a comodidade da sua visão
embotada, cagona, formada na padronização da idéia congelada, na constante
busca paranóica que inventa antídotos de acomodação ideológica. Um provedor de sedação
fabricador de certezas imunes ao silêncio, que sempre os fazia derramar seu próprio,
próprio mesmo, que, simulando uma gentileza azeda e pontuda, empurra a intuição
para o entulho da memória. Nitidamente dialogavam consigo ouvindo ecos,
eternamente levantando cartazezinhos de grandes nomes e mestres daqui e acolá que
lhes davam a sopa de razão. E, se por breves instantes dessem atenção a algo,
era apenas e tão somente para reafirmar e reafirmar e reafirmar reafirmando mais
uma vez o que já tinham como correto, concordado, decorado, cimentado e
calcarizado no muro de sua mente fossilizada por acreditar. Nenhuma sensação de
confusão comum à reflexão libertária deveria ficar a deriva, sem que fosse instantaneamente
eliminada pelo fuzilamento do blá blá blá. Diziam-se dispostos a tudo para emancipar
os empobrecidos do mundo, os desiludidos e os inconscientes, mas incapazes de
perceber a servidão e a submissão sutil a que se entregavam cotidianamente. Pensavam,
sem nenhum senão, que os heróis verdadeiros que a todo instante citavam os
aceitariam sem pestanejar, e os bajulariam pelo simples fato de que eles
publicavam suas frases, seus testemunhos retalhados e esquartejados puxando
seus sacos pelo seu único benefício, utilidade e titulação. Embora talvez
fossem eles mesmos os primeiros a serem escorraçados de uma discussão, de um
momento de caminhar tranqüilo ou mesmo de uma mesa de bar se estivessem por ali
a mendigar as esmolas de sua subserviência intelectual, de sua patética dependência
psicológica, de sua demência domesticada, bem vestida e perfumada. Como se
dissessem estarrecidos... Segundos antes de sucumbirem num redemoinho de
assuntos importantes que nunca fizeram parte de suas vidas: “mas eu citei você!”
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2014
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- samba enredo (crônica)
- fruta esquecida... (poema)
- pinturas 2014 (apresentação)
- “Mário da Silva e os Lunares” (sinopse)
- Neo Rebis (projeto/tridimencional)
- Durkheim e a Educação Para a Sociedade (ensaio)
- Pinturas 2014 (artigo)
- saudade de andorinha (poema)
- direitaesquerdadireitaesquerda (comentário)
- liberta que será também (comentário)
- homopipocas happybundão (poema)
- metade gosta metade (poema)
- Epopeia ao Pateta (sátira),
- adesivo santificado (poema)
- vingança cega... (conto)
- o recreio... (comentário)
- Todos Precisam... (peça/teatro)
- perdão Blues... (aforismo)
- da maconha... (crônica)
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