12 de out. de 2014

Quem Planta Mediocridade Colhe... (crônica)




Quem Planta Mediocridade Colhe...

Até mesmo uma mente das mais medíocres como a minha poderia perceber quanta mediocridade há nas campanhas eleitorais. Vemos isso em dois movimentos intrínsecos desde o início. Fundamentalmente, porque é um universo em que está explícito um banimento de qualquer potencial artístico, poético, original ou criativo, e que ainda exala uma estética objetiva e angustiada, patética, persuasiva e pragmática (a mais pura gênese de toda obra medíocre). Progressivamente, porque os seus realizadores, e os seus partidários, acreditam no exagero da exposição imposta, na repetição positivista imbecil, na metástase de afirmações cheias de lacunas tendenciosas, evasivas, mas silenciadas em pontos de contradição (como adora todo bom medíocre). 

Mas, vamos a mais alguns elementos dessa tragédia. Em si mesma, uma campanha de eleição pode representar o maior, mais eficiente e mais contundente mecanismo de mediocrização de qualquer atitude reflexiva espontânea, por quatro motivos básicos ao menos: essencialmente, porque fomenta, no medíocre individual, a crença de que é somente ele quem não está neste estado lastimável (nada mais medíocre do que se achar melhor do que outros medíocres); existencialmente, porque dissemina a crença, no medíocre social, de que todos devem sempre transferir a outros, sempre distantes de seu cotidiano, a esperança de resolução de coisas que, na realidade, somente terão a mínima chance de mudar se forem exigidas a partir de sua própria atuação direta e sua constante mobilização em seu ambiente (nada mais medíocre do que achar que conhece o melhor para os outros medíocres); e, universalmente, o medíocre abundante, é aquele em quem foi coagulada a crença de que votar é a ação política mais importante, que decidiria seu destino, quando isso não é nada verdadeiro e também não é ação política de maneira nenhuma, mas sim, a desistência dessa própria ação por uma esperança preguiçosa e indolente (nada mais medíocre do que achar que não tem culpa nenhuma da mediocridade ao seu redor); já espiritualmente, o medíocre espírito de porco, que é justamente o agente, da maneira mais profunda e condescendente, e por todos os outros motivos citados anteriormente, da negação de uma ação política efetiva, eficaz e eficiente, mas, principalmente, crítica de si mesma (nada mais medíocre do que achar que não é preciso deixar de ser medíocre para mudar as coisas medíocres).



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