A revolução mais profunda quem faz é a nossa amizade cotidiana...
As primeiras oportunidades de cultivar o talento na vida são muito tênues e delicadas, são espontâneas e se incorporam pacificamente ao nosso entorno, mas, por outro lado, são as que mais, maior e melhor impacto produzem na qualidade e na felicidade da vida de uma pessoa e, assim, que podem afetar o seu meio com essa mesma qualidade também. Uma sociedade só desenvolve realmente um equilíbrio e equanimidade coletiva, ou mesmo transforma eventuais injustiças, ou consegue mudar o rumo das coisas pacificamente, quando as pessoas têm a possibilidade de encontrar e não perder essas oportunidades iniciais e bem específicas da sua vocação, incorporando-as, desta maneira, nesse ritmo tranquilo e compassivo.
Porém, alguns sistemas, algumas organizações sociais que vivenciamos hoje em dia são tão disfuncionais, chegam a ser tão brutais e cruéis, que destroem essa possibilidade na grande maioria dos casos. Assim, para recriar algum contexto e reencontrar oportunidades, as pessoas são induzidas, quase obrigadas, a agir com a mesma violência e brutalidade deste seu meio hostil, numa tentativa aflita por reconquistar as situações favoráveis e as oportunidades iniciais perdidas; condição que, também na maioria dos casos, gera cada vez mais e mais profundamente um desequilíbrio psicossociológico destas sociedades. Provoca-se, assim, um círculo vicioso de desumanização que se fecha mais e mais em si mesmo, gerando um coágulo social denso também cada vez mais e mais caótico e conflituoso.
Por outro lado, quando a vocação de cada um tem a chance de aparecer naturalmente, e se aninha ao seu contexto harmoniosamente, ao nos encontrarmos com as circunstâncias existentes e possíveis nesse nosso meio, e quando esse meio permite a aproximação e a circulação destas inúmeras vocações em todos os seus espaços, quando oferece diversificações e diversidade de movimentações culturais de fácil acesso, cotidianas, dando atenção a essas possibilidades e a esse consentimento para que o talento se expresse sem pressão, coação ou outra imposição competitiva qualquer, apenas baseada na corrida pela fama, sucesso e exclusividade; será isso, simplesmente, a melhor ajuda que poderemos dar, principalmente às crianças e aos mais jovens, para que descubram e se apaixonem pelo aprofundamento nas incontáveis formas de expressão, habilidades e realização humanas. Revela-se, então, uma fonte que fomentará, ao longo do tempo, relacionamentos enriquecedores, e um consistente desenvolvimento psicológico, social e cultural de uma qualidade tão especial que poderá se expandir como um cristal, refletindo suas infinitas faces e luminosidades para todos os cantos do mundo.
Fernando H. Catani
(Isabella G. Catani me mandou essa gravação, que ela mesma fez, em que canta e toca um trecho da música “Robbers”, do grupo “The 1975”, eu fiz esse pequeno clip com algumas filmagens dela, para agradecer esse presente e ilustrar esse pequeno artigo.)