Na cabeça deles tinha um samba
enredo repetido, um enxerto. Uma espécie de prótese, um calço, que traduzia
tudo. Assim, nunca havia conversa de verdade, pois, tudo deveria ser
decodificado para o compreendedor automático deles, eliminando o espanto da dúvida
fulminantemente. Concordo... não concordo... concordo... não concordo... concordo...
não concordo. Aprenderam isso desde crianças em suas escolas e no dolorido moralismo
familiar que dissimulava a masturbação. Cada olhar, cada chiado, palavra, letra,
todo significado era rapidamente transcrito para a comodidade da sua visão
embotada, cagona, formada na padronização da idéia congelada, na constante
busca paranóica que inventa antídotos de acomodação ideológica. Um provedor de sedação
fabricador de certezas imunes ao silêncio, que sempre os fazia derramar seu próprio,
próprio mesmo, que, simulando uma gentileza azeda e pontuda, empurra a intuição
para o entulho da memória. Nitidamente dialogavam consigo ouvindo ecos,
eternamente levantando cartazezinhos de grandes nomes e mestres daqui e acolá que
lhes davam a sopa de razão. E, se por breves instantes dessem atenção a algo,
era apenas e tão somente para reafirmar e reafirmar e reafirmar reafirmando mais
uma vez o que já tinham como correto, concordado, decorado, cimentado e
calcarizado no muro de sua mente fossilizada por acreditar. Nenhuma sensação de
confusão comum à reflexão libertária deveria ficar a deriva, sem que fosse instantaneamente
eliminada pelo fuzilamento do blá blá blá. Diziam-se dispostos a tudo para emancipar
os empobrecidos do mundo, os desiludidos e os inconscientes, mas incapazes de
perceber a servidão e a submissão sutil a que se entregavam cotidianamente. Pensavam,
sem nenhum senão, que os heróis verdadeiros que a todo instante citavam os
aceitariam sem pestanejar, e os bajulariam pelo simples fato de que eles
publicavam suas frases, seus testemunhos retalhados e esquartejados puxando
seus sacos pelo seu único benefício, utilidade e titulação. Embora talvez
fossem eles mesmos os primeiros a serem escorraçados de uma discussão, de um
momento de caminhar tranqüilo ou mesmo de uma mesa de bar se estivessem por ali
a mendigar as esmolas de sua subserviência intelectual, de sua patética dependência
psicológica, de sua demência domesticada, bem vestida e perfumada. Como se
dissessem estarrecidos... Segundos antes de sucumbirem num redemoinho de
assuntos importantes que nunca fizeram parte de suas vidas: “mas eu citei você!”
28 de fev. de 2014
27 de fev. de 2014
fruta esquecida... (poema)
como uma fruta esquecida
que apodreceria na mesa
o caráter não pode
negar a vida na alma
seu amor destratado
não alimenta e não fomenta
definha no medo e na inveja
desabrocharia compreensão
mas não vai além do desprezo
mas não vai além do desprezo
o alento profundo da compaixão
não enraíza sobre a autoindulgência
não enraíza sobre a autoindulgência
qual revolução poderá fazer
alguém que em si mesmo se esconde
que transformações verdadeiras
sem que a humildade cristalize luminosa
antes que a mente coagule apenas o ódio
alguém que em si mesmo se esconde
que transformações verdadeiras
sem que a humildade cristalize luminosa
antes que a mente coagule apenas o ódio
22 de fev. de 2014
pinturas 2014 (apresentação)
Preocupo-me, na execução dessas obras artísticas, com a criação de
poemas visuais que inicialmente e invariavelmente buscam cultivar uma reflexão
sobre dois aspectos que julgo mais influentes, e por isso importantes de
denunciar, na problemática psicossociológica da civilização humana contemporânea:
o medo e a ilusão que, no caso destes trabalhos, aparecem tanto no drama
cromático criado entre cores puras e o preto como na dicotomia e nas inversões sugeridas
e elaboradas, entre fundo e figura, em meus processos de criação das obras. A
partir desta tensão surge uma preparação do que eu chamo de ícones máximos, ou
seja, quero sempre criar a cada obra um ícone total da Divindade, num poema
arcaico, onde todos os arquétipos possam ser reconhecidos de uma só vez. Retorno
a arché[i] dos primeiros filósofos, ao devaneio
pelo princípio absoluto[ii].
Em meus trabalhos, o que me esforço sempre para manter em
evidência é uma intenção poético/estética de profetização delirante da presença
da Divindade, uma veneração e uma religiosidade sobre o instante do eterno
presente, que está sempre cercado, como já disse, pelo medo e pela ilusão, fomentados
na mente humana como os elementos culturais biopsicossociológicos do passado e
do futuro, respectivamente, como os únicos movimentos que tendem constantemente
a tentar escapar da intuição do instante presente, do eterno, da presença da
Divindade. A obra é, então, o altar em que o instante sagrado será sempre
adorado e cultuado para que não seja banalizado pela displicência da certeza de
uma continuidade que se entrega, exatamente, ou a esse medo ou a essa ilusão.
E, para entender sobre esse instante, em seu drama de poesia, rendo-me a Gaston
Bachelard (2007:99):
“A poesia é uma metafísica
instantânea. Num curto poema, ela deve dar uma visão do universo e o segredo de
uma alma, um ser e objetos, tudo ao mesmo tempo. Se segue simplesmente o tempo
da vida, ela é menos que esta; só pode ser mais que a vida imobilizando-a,
vivendo no próprio lugar a dialética das alegrias e das dores. Ela é, então, o
princípio de uma simultaneidade essencial em que o ser mais disperso, mais
desunido, conquista sua unidade”.
[i] “É
o princípio absoluto, eterno, idêntico e incorruptível de todas as coisas e que
governa/comanda a realidade.” (CHAUÍ,1994:344)
[ii] “A
universalidade de uma imagem arquetípica significa também que a resposta à
imagem implica mais do que conseqüências pessoais, ampliando a alma para além
de seus confins egocêntricos e alargando os eventos da natureza de distintas
particularidades atômicas para sinais estéticos que trazem informação para a
alma” James Hillman (1983:34).
19 de fev. de 2014
“Mário da Silva e os Lunares” (sinopse)
As imagens são entrecortadas. Sons de uma guerra perto de
casa. Luzes novas da cidade nova. O primeiro a pisar na Lua. Uma pequena nave
retorna para a Terra e cai no mar. Novas luzes enchem minha vida. Meu irmão saiu
e eu espero todo dia ele para almoço, e não chega nem para a janta. Espero até
hoje. Onde ele está? As cidades crescem e as pessoas desaparecem. Alguns
aparelhos têm muita força e outros podem curar, são criadores remédios.
Plantas, árvores, antenas, igrejas, praças, escolas, lojas, e mais naves
lunares. O mundo é muito diferente daquilo que ele é na verdade. A verdade é
muito diferente do que aquilo que as pessoas dizem que é. Foguetes,
espaçonaves, antenas, torre de catedrais, ruas, ruas, ruas, minha irmã, meu
irmão. Bandeiras, bandeiras, diplomas, diplomas. Letras certas, palavras certas
dizem aquilo que é preciso lembrar. Rios, montanhas, nuvens, esse mundo é
perigoso. Não posso mais comer açúcar, mas como mesmo assim de vez em quando. Desenho
tudo o que é importante para saber onde está. Retratos, retratos e outros
retratos são importantes para lembrar onde eles estão dentro de mim. Algumas
pessoas são abençoadas e me ajudam. Às vezes não pinto porque me dói o braço. A
injeção de insulina deixa dolorido. Chá de “camomilia” é que eu gosto para
curar a dor. Guardo muito bem todos os meus desenhos porque é muito sério isso
aí. Gosto de sodinha diet. “Essa é a
minha devoção".
Neo Rebis (projeto/tridimencional)
MEMORIAL
DESCRITIVO - CONCEITUALIZAÇÃO
Este é um projeto
para conduzir o discurso da uma obra de
arte através de uma instalação de corpos tridimensionais.
O objetivo é a figuração
de um templo (a sala), onde um altar (a obra) expõe a metáfora reversa do
próprio observador, porém, em uma construção inédita e livre de identificação
condicionada.
Idealizei esta sala,
contemplando a materialidade das coisas, e refletindo sobre e seu poder
enquanto linguagem, e estimulado pelas
reflexões sobre os símbolos e conceitos filosóficos da religiosidade em autores
literários modernos e contemporâneos como Carl Jung, Vigotski, Jean Baudrillard,
Joseph Campbell, Umberto Eco, Rudolf Stainer, Goethe, James Hillman, Gaston
Bachelard, entre outros. Edifiquei,
então, um símbolo extremo total, composto de ícones máximos, procurando
materializar um arquétipo primordial.
A relação entre as
alegorias de cada substância em particular, está no diálogo entre qualidades
materiais e formais dos corpos, e também pela
leitura mito-filosófica de seus significados subjacentes.
É pois, uma tentativa de
recriar o mito do andrógino primordial, porém, tratado de uma maneira
totalmente tosca.
Busca uma conseqüência
atávica para uma vertigem no espaço espiritual interno do observador, criando
um sistema palíndromo na dinâmica obra/observador.
Busca causar um
desconforto religioso, internalizando as associações dos conceitos, pelo
enfrentamento de sensações inéditas causadas pela proximidade dos materiais.
Causando um estranhamento ao observador
no contato com esses elementos de força espiritual reversa.
Pretendo imprimir,
assim, uma atividade artística contemporânea pela hipertrofia de elementos
iconográficos extremos. Acredito sublimar toda especulação passional, ao me
interessar por um projeto simples e de comunicação formal singular. Elaborando
um sistema conceitual subjetivo que, expondo um corpo considerado signo, possa
transformá-lo em um mito silencioso materializado e objetivado na catarse,
explosão e expansão de significados. Encontrar a mais profunda e ascendente
poética, utilizando um único momento. Alegoria e grito do primeiro impulso.
Desta maneira, criar, no
termo da apropriação de materiais não obrigatoriamente artísticos, uma metáfora
máxima do mistério da existência sublime, paradoxalmente, através de uma
materialidade completamente bruta.
TEXTO DESCRITIVO
A Obra
Uma sala completamente
branca, com paredes e piso montadas em fundo infinito, instalada com o altar (a
obra) em seu centro, recebendo iluminação total de cima para baixo e eliminando toda e qualquer sombra.
O altar é composto de
uma mesa de madeira (1,2m X 1,2m X 1,4m) com apoio quincunce, totalmente
calcinada. Sobre a mesa está uma pedra
bruta de cor predominantemente clara (quartzo
rosa com aproximadamente 50cm cúbicos).
Este primeiro conjunto
está no interior de uma estrutura cúbica, construída com doze barras de ferro
velho (2m³ quando montada). Este cubo, se apoia sobre quatro pilhas de placas
de vidro (40cm³ cada).
Finalmente, três círculos
de feixes de arame farpado (300cm de diâmetro e 10cm de espessura), circundam o
cubo externamente, tangenciando seus vértices laterais, sendo dois dos feixes,
prateados, na vertical, e um feixe,
enferrujado, na horizontal.
Função
Na contemplação da obra,
espera-se despertar a percepção de valores sutis dos materiais, e das suas
referências matemático-filosóficas, mito-poéticas, místico-religiosas e psicossociológicas.
Valorizando uma a
abordagem gestáltica, proponho uma função mnênica, comum a todo símbolo
religioso ou dogma arquetípico, que exige uma leitura mito-hermética.
Reúno aqui significados
clássicos, para os envolver numa pátina arcaica. Aponto aspectos primitivos de
suas semiologias, fortalecendo apenas os seus princípios atávicos.
Remeto à figura
simbólica da Rebis alquímica, o mercúrio andrógino, e à própria alegoria
do 5 cinco como número nupcial (segundo os
pitagóricos), quintessência do ser, como símbolo de união total e centro da
harmonia absoluta, porque cinco são também os elementos que formam o todo da
obra: a Alma, a Consciência, o Corpo, o Tempo e o Espaço.
Sendo assim, temos as
seguintes relações de significação: a pedra bruta é a alma (eternamente
lapidada por Deus), apoiada sobre um corpo físico calcinado (mortalidade) da mesa de
madeira (altar do próprio sacrifico da vida) com cinco pés (quintessência do
ser).
Um ícone espacial na estrutura
cúbica (Terra) de ferro, em relação com o ícone temporal (Céu) dos três
círculos de arame farpado (é remota a associação do ferro a uma certa
ambigüidade, pela sua própria indeefinição entre o maleável e a força, e, por
isso, representam aqui o paradoxo espaço-tempo). As quatro bases, em que apoia-se o
espaço circundado pelo tempo, sendo a metáfora da própria existência do homem,
são formadas de espelhos (reflexão) ou vidros (transparência) qualidades
amplamente ligadas à consciência humana.
A analogia numérica também
permite, ao observador atento dado ao devaneio, um interessante caminho. Um
desses caminhos é o que eu mesmo escolho: Todos os corpos da obra, estão
ligados entre si, por aspectos numerológicos.
Então, vemos que quatro são as bases da consciência (tetraktis de
Pitágoras), una a substância da alma na pedra bruta, enquanto são cinco os
apoios da matéria representada pela mesa calcinada (madeira, metal, fogo, água
e terra), somando o número dez (símbolo espacial da totalidade absoluta).
No cubo de oito vértices
(cardeais), envolvidos pelos três anéis do tempo representados pelos feixes de
arame farpado (passado, presente e futuro), somamos o número onze, que é o
recomeço (símbolo da eternidade temporal).
Recrio aqui então, o arquétipo do andrógino no ser inicial (Rebis), das
núpcias entre o céu e a terra, o homem e a mulher, o tempo e o espaço, a vida e
a morte. Em que o "Completo Eterno" se manifesta em si mesmo.
Bibliografia
BACHELARD, G.(2001).O Ar
e os Sonhos.São Paulo:Martins Fontes
______________.(1999ª).A
Psicanálise do Fogo.São Paulo:Martins Fontes
______________.(2001ª).A
Poética do Devaneio.São Paulo:Martins fontes
BAUDRILARD, J. (1968).O
Sistema dos Objetos. Perspectiva:São Paulo
CAMPBELL, J. (1974).A
Imagem Mítica. Papirus: Campinas
______________.(1962).As
Máscaras de Deus (mitologia oriental). Palas Athena:São Paulo
CARVALHO, J. J. de. (1995).Mutus
Liber (o livro mudo da alquimia).São Paulo:Attar
CHEVALIER, J. (1992).Dicionário
de Símbolos.José Olympio:Rio de Janeiro
ECO,U. (1991).Obra
Aberta. Perspectiva: São Paulo
____________. (1997).Kant
e o Ornotorrinco. Record: São Paulo
HILLMAN, J.(1983).Psicologia
Arquetípica.São Paulo:Cultrix
_________(1993).Paranóia.Petrópolis,RJ:Vozes
JUNG, C. G. (1994).Interpretação
Psicológica do Dogma da Trindade. Vozes:Petrópolis
__________.(org.). (1964).O
homem e Seus Símbolos. Nova Fronteira:Rio de Janeiro
__________.(1985). O Espírito na Arte e na Ciência.Petrópolis:Vozes
__________.(2002). Sincronicidade.Petrópolis:Vozes
KANDINSKY, W. (1990).Do
Espiritual na Arte. Martins Fontes: São Paulo
PLATÃO.(2004).Apologia
de Sócrates/Banquete. São Paulo:Martin Claret
________.(2005).Fédon.São
Paulo:Rideel
________.(2004a).Fedro.São
Paulo:Martin Claret
________.(2001).Mênon.Rio
de Janeiro:Ed PUC-Rio/Loyola
________.(2001ª).A
República.Porto:FCG
RICHTER, H. (1993).DADÁ:
Arte e Antiarte.Martins Fontes.São Paulo
VIGOTSKI, L. S. (1998).Psicologia
da Arte. Martins Fontes: São Paulo
Durkheim e a Educação Para a Sociedade (ensaio)
Para entender os
pressupostos de Durkheim sobre a educação, assim como qualquer outro
pensamento, e qualificar nossa consciência sobre a educação de hoje, parece ser
necessário deixar de lado
qualquer abordagem linear. Existe, penso eu, uma rede de
inter-relacionamentos entre todos os
seus contemporâneos. Mesmo autores
anteriores estão ligados a essa espécie de rede, que tende a não ter começo, ou
seja, a história desses pensamentos é parte de uma totalidade de conhecimentos
e em todo momento podemos encontrar elementos de um em outro e vice-versa. Não
gostaria de entender as idéias de Durkheim como a simples superação das idéias
de outro autor, ou diagnosticar uma defasagem daquelas em relação a estas. Na
verdade, percebo equívocos de compreensão quando determinamos a história como
se fosse composta por degraus, ou mesmo como uma evolução qualitativa da consciência
humana. Essa afirmativa ainda não me é clara e carece de aprofundamento e
referências, mas não posso deixar de expressar minha necessidade de ver essa
história como algo que se expande em um movimento antilinear, provocado por
pulsos de várias experiências, que sempre estão centrífugas, mais como uma
fonte do que como uma estrada.
Neste sentido, poderemos contextualizar, ainda que
rapidamente, qual era a realidade que estava à volta de Durkheim. Nascido em
uma família de rabinos, em 1858, foi educado rigidamente. Mora durante dois
anos na Alemanha e estuda Ciências Sociais com Wundt. Escreve seus primeiros
artigos de sucesso em 1886. Depois disso, em 1870, começa a discutir,
avançadamente à sua época, os aspectos de uma instrução pública. Em 1902,
assume a cadeira de sociologia na Universidade de Paris. Foi profundamente
afetado pelos fatos sociais de sua época, tanto que estes passam a ser seu
principal objeto de estudo. Imerso nestes fatos: as crises da Comuna (1870-71); o caso Dreyfus
(1894-99); pelo assassinato de Jaurés (1914); a Primeira Grande Guerra; ainda
sofre ataques pessoais por sua ascendência estrangeira. Morre em 1917.
Na atmosfera que estabelecia, pela segunda
revolução industrial, uma estruturação urbana que destruía então, muitas das
relações sociais ligadas ao artesanato, assim como, todos os sistemas que não
se adaptassem ao sistema de produção industrial, Durkheim inicia uma análise
realizada na observação de como as capacidades das forças coercitivas atuam na
determinação da conduta dos indivíduos, ou como modernamente se diz: os
mecanismos de controle social. Foi aqui que Durkheim estabeleceria sua relação
com a educação, que ele considerava a ação exclusivamente exercida sobre as
gerações mais jovens[1].
Para Durkheim, a sociedade é uma determinante, e
exige que o indivíduo se adapte totalmente aos seus objetivos. A educação é o
principal instrumento dessa adaptação. É a educação que transforma a criança,
desprovida de um senso social, em uma peça ativa da sociedade. O trabalho dos
adultos sobre as "faltas" da criança, contribui para a incorporação
dos princípios da sociedade da qual essa criança faz parte. Desta maneira,
podemos entender, pelo prisma de Durkheim, que a história tem um papel
fundamental, ou melhor, a história nos mostra como foram educados os indivíduos
para a vida social. Por isso, Durkheim pressupõe ser indispensável à observação
histórica para termos uma noção preliminar da educação e suas aplicações.
Nesta observação da história das sociedades e suas
relações, Durkheim procura demonstrar que não podemos escapar de uma formação
voltada para o bem estar desta
sociedade, e que, se nos desviarmos deste caminho, poderemos causar muito
desconforto à criança, e até a sua exclusão do meio social, pelas dificuldades
que a criança enfrentaria se não conhecesse os valores e necessidades da
sociedade em que estará inserida. Há, no entendimento de Durkheim, uma função
ao mesmo tempo una e múltipla dos sujeitos sociais, ou seja, apesar de
construir uma especificidade de tarefas e de trabalho, o indivíduo tem que
estar a serviço de um bem maior, assim como receber e internalizar os valores
coletivos que garantem o funcionamento desta sociedade, e é justamente por este
aspecto que entendemos o pensamento durkheimiano como representante de uma
corrente funcionalista de raciocínio, em que a absorção de princípios morais
são seu fundamento. O sujeito é único enquanto sua particularidade de
especialização, mas está, ao mesmo tempo, dentro de uma constelação de valores
que são compartilhados com todo os sujeitos de uma mesma sociedade,
caracterizados como os valores culturais a que todo os indivíduos devem ter
acesso para a sua própria continuidade.
Desta maneira, Durkheim nos apresenta objeções às
idealizações da educação, principalmente quando essas sugerem uma educação
universal, que possa atender a todas as sociedades sem observar suas diferenças
originais e históricas. Para este pensador, não há possibilidade de mudar uma
instituição que foi construída ao longo de um período histórico que comanda as
necessidades da formação desta instituição, pois se isso acontecer, seria
necessário uma mudança na própria estrutura desta sociedade, isto porque a
educação não tem esse poder, por se aplicar a estruturas já existentes, não
sendo ela a criadora dessas estruturas, mas exatamente o contrário. Esta
dificuldade se impõe porque na história a educação tem variado com o tempo e o
meio em que participa. Cada período histórico tem sua característica
particular, o que inviabiliza a aplicação de um mesmo modelo pedagógico.
Definitivamente, é impossível mudar os costumes que formam os sistemas de
educação, pois a educação será sempre o reflexo da sua sociedade.
Entre esses projetos idealistas criticados por
Durkheim, podemos reconhecer basicamente dois modelos. O primeiro é aquele que
busca a perfeição do indivíduo ao seu extremo, como meta última na realização e
potencialização dos sujeitos. Porém,
Durkheim afirma que é uma contradição acreditar num desenvolvimento harmônico
do indivíduo em relação às necessidades de uma tarefa especializada, que este
sujeito deverá desenvolver. A outra forma idealista de educação é aquela que
procura a felicidade para si mesmo e para os outros membros da sociedade.
Também é contestada por Durkheim por perceber a felicidade como algo
essencialmente subjetivo, o que torna impossível o seu trabalho prático na
educação, que é social.
Nesta relação, una e múltipla, podemos entender
que a natureza específica da educação é realmente agir sobre as
gerações mais jovens e despreparadas para o convívio social, suscitando e desenvolvendo um certo número de
estados físicos, morais e intelectuais, que são exigidos pela sociedade no seu
todo, mas também criando o espaço para o desenvolvimento das particularidades
que o indivíduo está destinado a
trabalhar dentro e a favor deste contexto.
A definição que Durkheim impetra para educação,
sugere algumas conseqüências inexoráveis. Entre elas está a criação de um
caráter social que tende a promover uma socialização metódica constante das
novas gerações diante dos valores reclamados pela sociedade.
Aquelas formas particularizadas, que os membros de
uma sociedade devem desenvolver dentro do seu grupo específico, sejam de
trabalho ou qualquer outra estrutura de relações, forma o que Durkheim chama de
"ser individual". Já as qualidades que todos os indivíduos necessitam
obter na educação para participar da sociedade formam o "ser social".
É o "ser social" que deve ser a meta da educação para Durkheim, ou
seja, o fim dessa educação, pois é na sociedade que se expressa a moral
adquirida pela educação. Esta formação se dá quando a sociedade agrega ao ser
individual toda sua estrutura de vida, não se limitando a desenvolver somente o
ser natural, mas sim, criando um homem novo. A educação transmite para o
indivíduo conhecimentos que a natureza nunca poderia realizar, sendo que, mesmo
as qualidades que pareçam ser escolhidas pelos próprios indivíduos, são
profundamente ligadas ao meio social que as prescreve como necessárias. Assim, "desejando
melhorar a sociedade, o indivíduo deseja melhora-se a si
próprio"(Durkheim)[2].
Durkheim defende uma educação pública, e ainda que
existindo uma iniciativa privada, esta conviveria com uma intervenção do
Estado, apenas enquanto representante e vigilante da moral de que a sociedade é
autora. Este Estado, irá zelar pela qualidade da mensagem da sociedade na
formação do novo homem, não assumindo o papel de idealizador da formas da
moral, mas sim fiscalizar os professores e os sistemas para que nenhum personalismo
proíba que a nova geração saia da ignorância e do egoísmo e a barbárie da
infância, para uma vida social plena de riquezas morais e princípios
valorizados pela sociedade saudável. Neste processo, a criança passará por um
intenso exercício de contenção de suas extravagâncias e desejos, assim como
ocorrerá a eliminação da necessidade de experiências improvisadas. A vida do
estudante é se estruturar dentro de um sistema que extingue a criatividade, ou
os impulsos de natureza investigativa sem um propósito científico claro e
definido pelas necessidades do seu grupo social. Sendo o Estado o mediador
entre essa falta primordial e a moralização dos alunos, coerentemente
legitimado pela sociedade.
Todo o trabalho do educador, respaldado pela
coordenação das diretrizes morais pelo Estado, será voltado para mostrar
através dessa moral irredutível como deve ser
o comportamento de um verdadeiro cidadão. Esta pedagogia é urgente e
atende a necessidades vitais de formação das crianças, não pode esperar para se
desenvolver com a pesquisa científica e retomadas críticas. A educação, para
Durkheim, é um processo em que, é fundamental destruir na criança aquilo que é
inadequado para o convívio social, através da disciplina, do enquadramento e da
autonomia, que aliás é, este último, um conceito pouco definido por ele, mas
que podemos entender como uma síntese do trabalho dos dois primeiros fatores
tornando o ser individual totalmente solícito às regras que são propostas a
ele, ou seja, depois de um processo de extinção de seu egoísmo, o indivíduo
passa a aceitar a moral que lhe foi impetrada e passa ele mesmo a assumir sua
determinação em seguir essa moral. Torna-se autônomo em sua própria designação,
sem precisar mais de nenhuma coordenação ou controle. Por isso talvez durkheim
não se estenda na definição da autonomia, ela é alcançada em um momento que o
indivíduo já foi trabalhado pela disciplina e pelo enquadramento, sendo seu
fruto mais tranqüilizador. É como se ela surgisse já no ser social instituído e
finalizado, isto é , é mais um objetivo do que uma ferramenta.
É necessário, então, que o espaço esteja vazio,
pela ação do educador, para que este mesmo educador possa incutir na criança
todos os preceitos de um Outro, que é a expectativa da sociedade civilizada,
pois a criança não sabe amar o convívio social pela suas limitações, e assim a
educação permite, amorosamente, a inserção deste novo homem, desta alteridade,
depois de corretamente educado e moralizado. O aluno se transforma num pólo
receptivo que irá receber, ou melhor, encarnar uma transferência de todas as
normas morais. A educação é um ato de moralização, a serviço dos interesses que
a sociedade exige, enquanto realidade de vida, e enquanto estruturas formais da
razão, e não da religião. Durkheim nega a moral religiosa que se apresentava
como parâmetro de conduta até o início da modernidade, e esclarece que a moral
laica é que pode revelar a qualidade exata da formação do novo homem, mesmo
porque a religião fora criada pela sociedade. É esse Outro encarnado que, com
sua moral social, irá controlar, no processo pedagógico, que o ser individual
se submeta ao interesse da coletividade em que está inserido, e passe a
trabalhar para a manutenção dessa moral.
É curioso entender como Durkheim e seus contemporâneos,
entendiam a forma de cativar a atenção dos alunos neste trabalho de
moralização, e assim transmitir da melhor maneira os atributos dessa moral
laica, a salvadora e constituidora da verdadeira sociedade civilizada. Todo o
processo educacional foi, então, comparado com a técnica da hipnose que, no
contexto da época, era uma forma conceituada de resolver os mais variados
problemas e assumia ares milagrosos. O
educador deveria assumir a atitude de um hipnotizador, expressando sua
autoridade sem titubeios, e magnetizando os alunos com sua postura moral
inquebrantável. Essa postura irredutível transmitiria a força insubstituível da
moral racional da sociedade moderna, que estava crescendo a todo vapor,
literalmente. Desta maneira, o professor seria uma fonte de desejo, pois os
alunos buscariam adquirir a moral que o próprio mestre encerra, e depois
buscariam o próprio âmago do bem social, sublimando ao máximo a sua
participação no todo da experiência coletiva, servindo a um fim superior a ele
e a todos os outros indivíduos, autonomamente, perfeitamente disciplinado e
enquadrado, e por isso, disciplinando e enquadrando.
Durkheim sabia que todos têm algumas faculdades
recebidas dos pais, mas que estas são muito gerais e por isso muito maleáveis e
totalmente educáveis. Havia também uma discussão, bem trabalhada por Guyau, que
caminhava nesta direção, paralelamente com a capacidade da hipnose em realizar
no indivíduo uma transformação tal que este pudesse superar fatores
hereditários, o que servia ao pressuposto científico de Durkheim de que essa
mesma hereditariedade não poderia definir completamente o destino do indivíduo,
sendo possível uma alteração, um novo sugestionamento, justamente por sua
qualidade extremamente vaga. Deste modo, entre essas qualidades inatas tão
rasas e o novo homem moral necessário à sociedade, existe uma grande distância,
sendo que é este o papel da educação: levar a criança a percorrer essa
distância, desviando-a das degenerações morais de certos estratos da sociedade
que se perderam completamente da moralidade sugerida pela razão saudável. Com o
magnetismo de um hipnotizador, a fé interior nesses princípios que esse
educador aprende a amar, a personificação do dever do homem perante a
superioridade da sociedade, uma vontade irredutível de se desenvolver educando
os mais jovens, o professor forçará a retirada do instinto rudimentar inato à
criança e a posterior internalização dos conceitos que formam sua autoridade. Através do reconhecimento por
parte da criança da força moral do educador, representada por necessidades
históricas e absolutamente indispensáveis, esta mesma criança, quando adulta,
encontrará dentro de si, já cristalizada na sua consciência, esta moralidade. E
agindo autonomamente para garantir sua liberdade perante a renúncia de si
mesmo, de sua condição incivilizada e rebelde, em detrimento ao pedido
irrecusável de um todo do qual agora ela faz como prioridade participar.
Esse processo é um trabalho de colonização, pois o
intuito é destruir totalmente o que possa existir de individualidade, de
criatividade, e instalar uma nova maneira de ver o mundo, criada absolutamente
por fatores externos ao indivíduo. Procura-se a morte da subjetividade da
criança ou a submissão completa aos novos parâmetros que a educação tem por mérito
inculcar nas novas gerações. O objetivo é a cópia do adulto e de sua moral
social, demonstrando a criança como um "ser da falta", alguém que não
pode ser deixado à mercê das improvisações do individualismo egocêntrico e
involuido. Para destruir qualquer levante de uma subjetividade mais rebelde, é
usada uma aclimatação dos ambientes sociais a uma censura moral permanente que
exclui o sujeito que realize alguma ação fora do senso dessa moral
estabelecida. Cria-se, se necessário, formas de punição que visam
desestabilizar o infrator, pela vergonha ou pela própria culpabilidade de suas
faltas, o que leva a valorizar ainda mais os indivíduos que os observem
descumprindo o dever, por estarem eles próprios mostrando a incapacidade da
subjetividade em se estabilizar no âmbito da sociedade, e fortalecendo a
importância de ser submisso para ser aceito e valorizado pela coletividade.
Antes de servir como castigo, a punição é um regulador que será interiorizado
junto com as outras regras da moral social.
A colonização dessa criança que, segundo Durkheim,
tem uma natureza avessa a novidades, ou seja, misoneísta, precisa convencê-la a
desejar a regra e a disciplina, em um processo que visa dar autonomia à desse
desejo. É preciso que o estudante se torne impotente perante a grandeza das
propostas civilizadoras de sua sociedade. Promover uma fusão desses indivíduos
na consciência coletiva, e configurar uma diluição da consciência individual na
sua forma coletiva, e não a criação de estruturas pessoais associadas e participativas.
É uma completa extinção de qualquer sentido fragmentado que impeça a
moralização laica, cuja realização depende de revelar aos indivíduos um
objetivo que os ultrapassa, em um sacrifício devoto ao amor de uma totalidade
pura e humana, racional e estabelecida, para o desenvolvimento da qualidade
produtiva da sociedade.
17 de fev. de 2014
Pinturas 2014 (artigo)
'poeminha' - F.H.Catani - 2014 - acrílica s/ tela - 155cm x 190cm
Em
minha experiência com a intenção artística sempre ocorreu uma forte ligação com
o desenho e a pintura por uma tradição e convivência com esses gêneros, porém,
também elaborei algumas obras tridimensionais que utilizavam uma montagem com
materiais diversos, mas enfatizando o uso do vidro/espelho, de mobília de
madeira calcinada e de objetos de ferro-velho. Essas obras, os desenhos, as
pinturas e as montagens tridimensionais (que em alguns projetos tomavam forma
de inserções de execução simples sobre monumentos públicos), buscam sempre uma
perspectiva de alma e de um arquétipo total,
considerando as palavras de James Hillman:
“Por alma entendo, antes de mais nada, uma
perspectiva mais do que uma substância, um ponto de vista sobre as coisas mais
do que a coisa em si... A
alma é um conceito deliberadamente ambíguo que resiste a toda definição”.
Também
me preocupo, na execução dessas obras artísticas, em cultivar uma reflexão
sobre dois aspectos que julgo mais influentes na problemática psicossociológica
da civilização humana contemporânea: o medo e a ilusão, ao mesmo tempo em que é
uma elaboração do que eu chamo de ícones máximos, ou seja, quero sempre criar a
cada obra um ícone total da Divindade, num poema arcaico, onde todos os
arquétipos possam ser reconhecidos. Retorno a arché dos primeiros filósofos, ao devaneio pelo princípio absoluto.
“A universalidade de uma imagem
arquetípica significa também que a resposta à imagem implica mais do que
conseqüências pessoais, ampliando a alma para além de seus confins egocêntricos
e alargando os eventos da natureza de distintas particularidades atômicas para
sinais estéticos que trazem informação para a alma” James Hillman.
Em
todos estes trabalhos o que sempre fica em evidência, para mim, é uma intenção
de profetização delirante da presença da Divindade, uma veneração e uma
religiosidade sobre o instante do eterno presente, que está sempre cercado,
como disse, pelo medo e pela ilusão nascidos na mente humana como elementos
psicológicos do passado e do futuro, como únicas figuras que tendem a tentar
escapar do instante da presença da Divindade. A obra é o altar em que o instante
será sempre adorado e cultuado para que não seja banalizado pela displicência
da certeza de uma continuidade que se entrega ou a esse medo ou a essa ilusão.
E, para entender sobre o instante, em seu drama poético, rendo-me a Bachelard:
“A poesia
é uma metafísica instantânea. Num curto poema, ela deve dar uma visão do
universo e o segredo de uma alma, um ser e objetos, tudo ao mesmo tempo. Se
segue simplesmente o tempo da vida, ela é menos que esta; só pode ser mais que
a vida imobilizando-a, vivendo no próprio lugar a dialética das alegrias e das
dores. Ela é, então, o princípio de uma simultaneidade essencial em que o ser
mais disperso, mais desunido, conquista sua unidade”. Gaston Bachelard
11 de fev. de 2014
saudade de andorinha (poema)
já viu isso de falar fome de leão... memória de elefante... lágrima de crocodilo... eu queria
um que fosse... saudade de andorinha...
10 de fev. de 2014
direitaesquerdadireitaesquerda (comentário)
No início foram alguns humanóides com suas pedrinhas
lascadas diante da natureza indomável. Um pouco depois aparece um Deus, os reis
e o resto. Mais pra frente surge de um canto dos salões a esquerda iluminada.
Aí, de suas próprias entranhas nasce a temida direita com toda suas demência.
Logo adiante brota do nada e do tédio um tal de centro que ainda não se
explicou, nem cagou, nem saiu da moita. A partir disso começou o baile das
loucas. Centro-direita, centro-esquerda, esquerda-mais-esquerda, direita-mais
direita. E foi assim durante um bom tempo até que um dia daqueles aconteceu
algo incrível: a direita-centro-esquerda e a esquerda-centro-direita.
7 de fev. de 2014
liberta que será também (comentário)
desde que eu era criança essa pra mim sempre foi a bandeira mais linda do mundo... mas nunca foi de Minas e não era de lugar nenhum... ela é como as jogadas que a gente via do Pelé... nem ele mesmo sabe até hoje explicar como fazia... e o Pelé não é aquele cara que aparece por aí falando de vez em quando... porque era a alma que fazia... essa é uma bandeira feita pela alma... quando eu era criança eu traduzia direto com eu lia essa frase... e daí? fiquei decepcionado quando me disseram a tradução oficial... mas não acredito na tradução oficial até hoje... nesta bandeira eu imagino entender a coisa mais importante de tudo... “liberta que será também”
homopipocas happybundão (poema)
eu pensei em qual seria o principal privilégio dessa minha
época... o que mais define hoje em dia esse meu povo caucasiano
que tem dominado o mundo há algum tempo... não é a violência... não é a loucura
pelo poder... não é a ambição, a traição ou o egoísmo criminoso... não é o
desprezo pelas crianças e os velhos... não o envenenamento de tudo o que é
vivo... ou os juízes injustos, os tiranos assassinos ou as religiões despóticas
... isso tudo existe há muito tempo em muitos lugares... mas a falta absoluta
de qualquer ato de reverência, de qualquer coisa que possa ser sagrada... de
qualquer inclinação ao silêncio... é o nosso momento... e pelo batalhão de
animadores popótas desse imenso auditório telespectivo... em que uma criança
pode telespectar o dia inteiro, mas não quer mais apontar o nome das estrelas
de brincadeira nem ver as nuvens formar as coisas no céu... esse nosso privilégio é o ‘happy hour’... esse
alegramento obrigatório desmiolado dos uhu! borá lá! do tudo de bom! e é esse abobalhado novo ser... o ‘homus
pipocas’... é que é o culpado pela nossa decadência... esse super mega happy
bundão que me tornei...
metade gosta metade (poema)
Metade do povo gostava de um governo de merda.
Um monte de gente implorando e pedindo pra não destruírem metade do país pra sempre. Nunca escutaram ninguém.
“Eles” iriam restabelecer a democracia.
Matavam um monte de gente.
Construíram uma hidrelétrica gigante. Constroem uma hidrelétrica gigante.
Estão matando um monte de gente.
“Eles” vão restabelecer a democracia.
Nunca escutam ninguém.
Todo mundo pedindo e implorando pra não destruir a outra metade do país pra sempre.
Um governo de bosta que metade do povo gosta.
Um monte de gente implorando e pedindo pra não destruírem metade do país pra sempre. Nunca escutaram ninguém.
“Eles” iriam restabelecer a democracia.
Matavam um monte de gente.
Construíram uma hidrelétrica gigante. Constroem uma hidrelétrica gigante.
Estão matando um monte de gente.
“Eles” vão restabelecer a democracia.
Nunca escutam ninguém.
Todo mundo pedindo e implorando pra não destruir a outra metade do país pra sempre.
Um governo de bosta que metade do povo gosta.
Epopeia ao Pateta (sátira),
Era uma vez uma terra de brilho misterioso no amor
da primavera ensolarada. Agora essa escuridão poluída e triste que nunca a
deixa sem a nuvem de breu. Um céu azul que foi claro e um vento liso e forte
pelo universo todo celebrada. Praga que paga na culpa dos próprios anjinhos que
sem dó nenhuma em mil guerras matou. Em tardes adentro de noites brilhantes de
galáxia que fazia toda gente encantada. Pelas árvores milenares que com golpes
de seu machado enlouquecido extirpou. No sonho de manhãs que nos engoliam em
luz de uma alegria extasiada. Pelas águas dos rios, riachos, nascentes e
regatos que emporcalhou e entupiu. Nas campinas secas do paraíso da floresta
virgem de chuva de verão precisa e justa. Já morreram também por ela índios, macacos,
veados, antas, ariranhas e quem reagiu. E hoje está desbastada, dilacerada e
estuprada pelo fedor desta gente abestalhada. Demônios da idiotice
televisionada, do carro de plástico e de latinha de mijo que abriu. Talvez
queira essa antiga terra maravilhosa esquecer essas anomalias que tem de sobra.
Devolver ao lodo mofado para adubo a monstruosidade que um deus malvado cuspiu.
Vade retro pateta do apocalipse arrotador de lixo, de bunda suja e de alma azeda.
Pateta maldito porcalhão, do grito, do rojão, do ódio e do canhão que o inferno
pariu.
adesivo santificado (poema)
Benditos sejam os adesivinhos santificados
Nos vossos louvados carros do ano
Por avisarem nas mãos de quem estaremos
Enquanto em vossa buliçosa indiferença dirigis
Por deixarem saber com que desprezo mórbido seremos tratados
Enquanto alguém ao longe desatará todos os vossos nós
Grato por vosso peixinho indicando sempre o imenso perigo
Da hipocrisia de vosso total esquecimento do amor prático
Aprendei pelo menos a usar a pessoa certa em vossas orações
Pois o Senhor é tu sendo que vosso é somente a nossa própria
ignorância
Assim
Se errei aqui
Corrigi
Amém
6 de fev. de 2014
vingança cega... (conto)
“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” Mateus 6:24
Eu gosto dos evangelhos porque é poesia pura do mais alto nível. Daquelas que séculos de tradução (e traição) não conseguem destruir. Eu acho. Bem, eu assisti uma dessas séries americanas que expunha o dia a dia de uma gangue demotociclistas. A estória deixava revelar que a tal gangue teve um início abnegado e voltado a defender uma pequena cidade de bandidos e malfeitores, mas que com o tempo, e a natural troca de liderança, assumiu um caráter contraventor e um tempo breve depois já adotava a criminalidade pesada mesmo, com tráfico de armas, drogas, exploração de prostituição e assassinatos. Além do que viviam da velha e conhecida escola do tipo olho por olho dente por dente.
Eu não vi mais nenhum episódio porque detesto enredos em que criminosos são heróis e desprezo profundamente me apaixonar por eles, a não ser pelos que se arrependem e passam a combater a própria gênese. Por exemplo, prefiro um desenvolvimento estilo Tarantino em que sempre os maus-caracteres se dão mal... muito mal no final, e ainda, aquele que quer ‘sair dessa vida’ consegue e sai fora na boa (depois de sofrer bastante é claro). Bem, nessa série e neste único episódio, ao qual assisti, um homem havia estuprado uma garota. O pai da garota decidiu fazer justiça pela vingança bruta. Planejou e boquejou que iria capar e matar o cretino do estuprador. Foi até o chefe da gangue das motos e disse o que queria. Os membros da gangue acharam o desgraçado.
Foram até um lugar ermo com o infeliz patético dominado em seus últimos momentos de vida e... o pai da garota, da menina que talvez estivesse precisando da ajuda do seu pai naquele momento horrível pelo qual passava, estava lá... acreditando estar também de todo preparado para a sua vingança justa de ódio, bem alimentado por milhares de justificativas. Na hora do sacrifício o chefe da gangue, óbvio, passou as honras ao pai, porém, o vingador paternal simplesmente não conseguiu realizar a proeza de extirpar, descaroçar, desarrochar, relaxar os bagos do cateto com uma faca de castrar curvada e doída... desde as bolas daquele desacorçoado ali rendido na sua frente até o começo da sua garganta num só corte profundo, sangrento e... peidou.
Tremendo na tremedeira entregou o instrumento da justiça para o chefe machão. Este olhou na cara dele com uma puta raiva e disse que era muito engraçado que o pai quisesse uma vingança naquele estilo, que tinha gritado, berrado que iria matar o cara, mas que saiu vomitando, correndo para longe e que agora um outro é que teria que fazer aquilo que ele mesmo não tinha peito para fazer porque era um bunda mole de um bundalêlê... e que ainda saiu correndo e nem de ver era capaz? E sabiam lá que Gandhi havia dito que nessa pegada o máximo que teremos é um mundo de cegos (e banguelas). Mas, a gangue não adotava os depoimentos de Gandhi porque, até mesmo os brutos ali percebiam, seria uma imensa incoerência, pois, se alguém acredita e atua na violência é isso e o melhor para essa pessoa, por certa honra mental, que esta tenha seus heróis e que estes sejam bem violentos. Já se não é isso. Quais serão os heróis? Matar e amar? Tem alguma moral essa estória? Tem alguma coerência nessa estória?
o recreio... (comentário)
Depois de décadas como aluno, depois pai de alunas e até como professor também, hoje moro ao lado de uma escola (pública por alegre sorte). Sem mais nenhuma dúvida entendo que o ponto alto das escolas, seu melhor e mais profundo sentido e todo o seu espírito está contido em um singelo, insuperável e maravilhoso momento... o recreio!
Todos Precisam... (peça/teatro)
Todos Precisam de Ajuda Nessa História-
Uma Comédia Teatral Espiritual
Por Fernando H. Catani
Narrador: No grande fenômeno espiritual que é a Irmandade de Narcóticos Anônimos, a história do nascimento de um grupo, de uma área ou mesmo de uma região é, simplesmente, uma história de amor. Ao modo de NA, esse amor da irmandade nos faz, às vezes, entendermos que as personalidades, os nomes e os feitos de cada um de nós e tudo mais o que não venha acompanhado da simples alegria de perceber que estamos limpos hoje, só por hoje, fazendo aquilo que podemos por nós mesmos e pelos adictos que ainda sofrem, não representam nada. No fundo, para quem sabe ver, cada novo grupo, nova área, novo serviço ou talvez uma nova região sempre faz parte dessa mesma história que tem sido também a história do próprio nascimento milagroso da nossa irmandade, e que na verdade se repete dia após dia na recuperação de cada um de nós. Nunca termina, nunca fica ultrapassada porque, quando se vive no amor de um Deus amoroso, o tempo cronológico deixa de existir, porque tudo passa a ser eternamente vivido neste hoje, neste só por hoje. Um milagre assim, como o que vemos acontecer em todas as nossas reuniões, diariamente, não se conta nos limites mesquinhos orgulho do personalismo humano. A história dessa união através dos laços que nos unem, da alegria da qual partilhamos a nossa recuperação e da gratidão que espera o recém-chegado aparecer a cada momento do nosso dia, é uma história sem dono, sem ídolos, sem monumentos e sem hora para começar ou para terminar. Essa é a nossa história, anônima, abnegada e dedicada apenas à honestidade, à boa vontade e à mente aberta para levar a mensagem de NA. Uma história de extrema felicidade cheia de espiritualidade para vivermos a recuperação de Narcóticos Anônimos! Viva NA!
Ato I – lembranças da alegria de viver e a tristeza de perdê-la
Cena I - (sem elementos cênicos, algumas pessoas ainda não apresentadas à platéia, embora sejam os PS dos adictos que se perderam, estão reunidas conversando sobre coisas que aconteceram num tempo recente e que trouxeram momentos de alegria e esperança, mas depois de um tempo deixam transparecer que hoje já não acontecem mais. A conversa acaba um pouco sem motivo e as pessoas decidem procurar mais um pouco aquilo que perderam).
C – Lembra quando eu fui com ele passear no parquinho? Como ele gostava de balançar... trupicava, escorregava... dava tanta risada...
A – Ah! Que tempo bom quando eu podia ajudar ele a dormir sem medo... a correr atrás da bola e gritar de alegria por estar vivo...
B – É... que tempo bom... tomava leite... água... uns docinhos de vez em quando... quase sempre... ahahahaha.... mas era bom... eu não entendo quando foi que eu descuidei e começou a andar sem rumo... a querer coisas que não eram pra ele... a querer que o mundo se adaptasse somente às vontades dele o tempo todo...
C – É mesmo! Comigo aconteceu a mesma coisa... a mesma história... agora raramente encontro um sorriso e amizades verdadeiras ao lado dele... tá virando um tranqueira...
B – Um curva de rio?
A – Com certeza! Mas vocês sabem que muitos por aí têm reclamado da mesma coisa? que muitos deles estão desaparecidos e não nos pedem mais nada... não agradecem pela vida... estão se achando os bam bam bans...
B – um zica brava?
C – Exatamente! E olha que tem certeza de que não precisa de ninguém!
Cena II – (sem elementos cênicos o grupo de pessoas começam a se encontrar outra vez em cena como se estivessem andado em círculos por um tempo e demonstram estar cansados de procurar algo em vão. Param um diante do outro e se perguntam o que pode estar acontecendo, onde estão aqueles amigos que se afastaram deles e por quê? Estão em dúvida)
B – E aí? Encontraram alguém? Descobriram onde andam os mala sem alça?
C – Nada... tudo escuro... a luz da vida parece ter se apagado...
A – Outro dia me pareceu ser ela... o meu amorzinho que eu vi nascer... mas aí entrou num beco e eu perdi a pista novamente...
(elaborar uma coreografia representando os adictos antes e depois... tipo comédia...)
Cena III – (depois de um tempo de silêncio na cena anterior, olhando a esmo pra os lados vagarosamente... um pouco preocupados... como se tivessem saudade... o grupo começa a conversar sobre buscar ajuda para encontrar aquilo que procuram. Mas até agora ainda não fica claro quem são ou o que realmente procuram. Decidem pedir ajuda a Deus)
A – Precisamos de ajuda nesta questão...
B- Mas quem pode ajudar nisso?
C- Quem... Deus ora! Quem mais? (olha pra platéia e faz uma careta de incompreensão)
B – Mas Deus deve estar ocupado... está sempre ocupado...
C – Ah... mas sempre ajuda e ama todo mundo!
A- Hum... é... não tem outro jeito...
Ato II – Encontrando Deus e criando a irmandade.
Cena I – (os PS chegam para falar com Deus e tentar uma solução para encontrar os adictos perdidos. Vão até ele e encontram uma criança brincando descontraída e muito alegre e dedicada a cuidar de alguns planetas. Deus é uma criança e está entretido com três ou quatro bolas de isopor simulando planetas que Ele está sempre tentando arrumar numa posição que Lhe agrade. Os PS tentam iniciar a conversa, mas Deus entrega uma bola pra cada e pede para levantar ou para abaixar, mudar de posição como se estivesse testando a melhor maneira de arrumar os planetas. A conversa toda se dá nessa dinâmica.)
A – oi... Deus... precisamos de ajuda...
Deus – espera... segura isso assim...
B- Querido... sabe o que acon...
Deus – VocÊ! Vem pra cá... um pouco mais pra cá...
C- Então perdemos nosso amados... a gente curtia a vida juntos, mas agora talvez eles acreditem que não precisam de um poder superior e tal...
Deus – Quê? Aqui... fica assim... levanta um pouco...
A - É que não encontramos mais em nenhum lugar as pessoas que Você disse pra gente cuidar... não sabemos o que aconteceu, mas... pressentimos que algo não está bem por lá...
C – É... algo não vai bem com eles... sumiram... (olha para baixo e depois para cima pensativo)
B – Precisamos que Você nos dê uma dica do que fazer pra encontrá-los... era tão legal curtir com eles a vida...
A – Hum... deve ser alguma impotência... acontece muito por lá isso...
Deus – Eles são adictos... egoístas... e são impotentes perante as drogas porque se tornaram escravos destas... precisam primeiro de um lugar para conseguirem ficar limpos... lembram de AA? Mas esses são folgaaaaaados... mas têm sorte... precisam de um programa espiritual de recuperação... vocês só conseguirão encontrá-los numa reunião de R.E.C.U.P.E.R.A.Ç.Ã.O... (Deus olha bem nos olhos deles como que tentando ver se lembravam mesmo depois diz)... Então... vão na fé!
(Deus sai e os deixa com os planetas na mão... falando sozinhos juntos coisas sem muito sentido como se estivessem pensando em voz alta.)
Cena II – (Depois de um breve silêncio, em que os PS ficam a se entreolharem pelo canto dos olhos e ainda com os planetas na mão os PS começam a criar a idéia das tradições e dos passos. Vão falando como se estivessem a imaginar naquele momento. Eles encaixam as bolas de isopor na cabeça e ficam até o final da cena. As falas desta cena são uma adaptação livre que mistura os Doze Passos e as Doze Tradições.)
B – Será que Ele não volta? (enfatizar o ELE)
C – Mas então o que vamos fazer?
A – Bem... se eles são impotentes e precisam de um lugar... um lugar pra que eles possam ir pra que a gente possa encontrá-los. Um lugar onde possam admitir que são impotentes perante a sua adicção, que perderam o domínio sobre as suas vidas.
B – Ah! Quero ver adimitirem!
C – Sim! E nesse lugar tudo correrá bem sempre que as forças que os unam sejam maiores do que as que os tentam separar...
B – quero ver se unirem!
A – Sim! Sim! E o bem estar desse lugar? o bem estar é importante! O bem-estar comum deverá estar em primeiro lugar; a recuperação individual depende da unidade das pessoas que estiverem por lá...
B – Quero ver o bem estar!
A – E outra... precisam começar a acreditar que um Poder Superior a eles mesmos pode devolve-los à sanidade...
B – Quero ver acreditarem!
A e C – ÊÊÊÊêêÊêêhhh!!!!
B – Hum....
C – Sim eles precisam lembrar da gente... ta na hora já poxa!
B – Quero ver lembrarem!
A e C – ÔÔôôôôÔÔÔÔ!!!!!! (olhando feio para o B)
A – É! E para esse propósito comum apenas deve haver uma autoridade – um Deus amantíssimo (param um pouco, olham as bolas de cada um tem na cabeça) que se manifesta na nossa consciência coletiva. E todos os líderes serão apenas servidores de confiança; não terão poderes para governar.
A,B e C – NÃO TERÃO PODERES PRA GOVERNAR!
B – Peraí! Peraí! O único requisito para se ser membro deverá ser então um desejo de parar de usar drogas!
C – E é importantíssimo... importantíssimo eu disse ein? que eles venham a acreditar que um Poder Superior a eles mesmos pode devolvê-los à sanidade...
A e B – BOA!
B – E outra! Se não decidirem entregar a vontade deles... (olha pra platéia com uma cara engraçada) e as vidas deles... (olha outra vez) aos cuidados de Deus, na forma em que eles O concebem... claro! Não vai dar certo!
A,B e C – (caem sentados) NÃO VAI DAR CERTO!
A – Claro que vai! (levanta rápido) sabe como? E é o seguinte... Cada um desses grupos deverá ser autônomo, salvo em assuntos que digam respeito a outros grupos ou ao tooooooooooooooooooooodo (estende a palavra fazendo um gesto engraçado e olhando pra cima um pouco) dessa irmandade!
C – Péra! Tive uma idéia! Ó... Cada grupo terá um único propósito primordial...
A,B e C – O DE TRANSMITIR A SUA MENSAGEM AO ADICTO QUE AINDA SOFRE!!!
B – (um momento de silêncio e depois dizer essa fala bem rápido) Um grupo nunca deverá apoiar, financiar ou ceder o seu nome a qualquer empreendimento afim ou alheio à Irmandade, para que os problemas de DINHEIRO! PROPRIEDADE OU PRESTÍGIO! (todos juntos apenas nessas três palavras) não nos afastem do nosso propósito primordial...
A,B e C - Todo o grupo de NA deverá ser absolutamente auto-suficiente, negando quaisquer doações de fora...
(param e olham para o público... voltam devagar a se entreolharem e depois olham numa virada rápida para o público novamente... voltam devagar e olham para cima e falam a próxima fala todos juntos e muito rápido e ainda olhando pra cima como se fosse num momento de inspiração e tipo um transe que faz os tremer um pouco comicamente)
A,B e C – Essa Irmandade deverá manter-se sempre não-profissional, mas os seus centros de serviço podem contratar trabalhadores especializados. Nunca deverá organizar-se como tal, mas podem criar comités ou comissões de serviço directamente responsáveis perante aqueles a quem prestam serviços. Não tem opinião sobre questões alheias; o nome da Irmandade nunca deverá, assim, aparecer em controvérsias públicas. As suas relações com o público baseiam-se na atração em vez de na promoção; na imprensa, na rádio e na televisão deverão sempre preservar o anonimato pessoal.
A,B e C – (param a fala e a tremedeira e dão uma bufada, um pouco de silêncio e agora voltando a olhar para o público e falando bem devagar com uma expressão amorosa cômica):
- O anonimato é o alicerce espiritual dessa irmandade, lembrem sempre da necessidade de colocar os princípios acima das personalidades!
(repetem a última fala, mas começando cada um depois de outro dando uma idéia de eco.)
Ato III – Vendo os resultados da Irmandade
Cena I – (os PS aparecem deitados de bruços como se estivessem olhando de uma montanha para baixo e começam a se admirar com as coisas que os adictos fazem com expressões e expressões faciais engraçadas a cada fala)
A - Olha! Além de admitirem que são impotentes, começarem a acreditar num poder superior e entregar suas vontades a Deus... peraí! O que é que estão fazendo lá?
C – Deixa eu ver! (afastando os outros dois que tinham fechado o seu campo de visão)
B – Acho que é um minucioso, meticuloso, detalhado...
C - Corajoso, rigoroso, completo, tooooooooooooooooooooodos os detalhes...
B – Complicado, apavorante, horripilante...
A – Majestoso... Magnânimo... estupefato!!!
(B e C olham assustados e congelados para A por um tempo... depois se assustam quando deus aparece e diz:)
Deus – (Deus reaparece do fundo e diz rapidamente:) – E PROFUNDO!
C – Nauseante, medonho, traumatizante... sem deixar nada nadinha escondido... e...
A, B e C (juntos e gritando) - DESTEMIDO INVENTÁRIO MORAL DELES MESMOOOOOSSSS!!!!
A, B e C (juntos e gritando) - DESTEMIDO INVENTÁRIO MORAL DELES MESMOOOOOSSSS!!!!
(os três cambaleiam um pouco repetindo fala confusamente em murmúrio... depois param e mantém um pouco de silêncio e depois olham rapidamente outra vez para onde estavam olhando para ver os adictos)
A – Alá! Alá! Estão admitindo perante Deus, perante eles mesmos e perante outro ser humano a natureza exata das falhas deles?!?
C – Vejam! Vejam! Alguns estão se prontificando inteiramente a deixar que Deus remova todos seus defeitos de caráter!
B -NÃO ACREDITOOO!
A – Não... não... não exagera! Oquêêêêê??? Estão humildemente rogando a Ele que os livre das suas imperfeições?
C – Aí tem coisa! Ma... ma... ma... ma... ma... (com uma expressão pasma) Vão fazer uma relação de todas as pessoas que prejudicaram e se dispuseram a reparar os danos a elas causados? Sério!?!?
A – o que estão fazendo agora? Na na ni na não! NÃÃÃÃÃÃOOOO!!! Estão fazendo reparações diretas dos danos causados às pessoas???
A,B e C - (todos juntos dizem a próxima frase em concordância balançando a cabeça)
- SEMPRE QUE POSSÍVEL! AH BOM! UFA! salvo quando fazer isso pudesse prejudicar essas pessoas ou outras... bom... bom... muito bom...
B – quem inventou tudo isso?
A – Quem? (num tom irônico como se fosse claro quem inventou)
C – Essa turma está indo bem!
A – Peraí que tem mais!
B – Como assim mais?!?
C – Eles estão continuando a fazer tipo um inventário pessoal e... quando estão errados... admitem prontamente!!!
A, B e C – (sentam agora, olham pra cima e levantam as mãos juntos)
- MILAGRES ACONTECEM!!!
(e depois levantam começam a dançar um pouco e vão até que cansam e dormem)
Cena II – (acordam ouvindo uma coisa que não sabem o que é e percebem que vem de lá de baixo e olham encantados apenas abaixando com as mãos nos joelhos e demonstram muita felicidade se entre olhando e chacoalhando as cabeças um pro outro.)
A – Eu não acredito! Eles estão agora, através da prece e da meditação, melhorando o contacto consciente deles com Deus! na forma em que eles O concebem!
C – Estão rogando apenas pelo conhecimento da Sua vontade em relação a eles! e pedindo pelas forças para realizar essa vontade?
A, B e C – (num grito sem ser estridente como de alívio e alegria juntos)
- AAAHHHHHAAAHAHHHHAHAHHH!!!!! (saem de cena)
Cena III – (voltam a encontrar Deus que está com uma cara pensativa olhando para o nada com um pouco de dúvida sobre o que fazer com seus planetas... e eles chegam por trás, correndo e gritando ainda com as bolas na cabeça, mas quando chegam perto ‘freiam’... e assumem uma postura de respeito.)
A – Deus! Deus! Deu certo! Deu certo! Você nem acredita!
Deus – Como assim? Nem acredita? Tá louco? Ei! Meus planetas! Me devolvam por favor! (eles fazem uma expressão de surpresa como se tivessem esquecido dos planetas ali e o entregam a Deus que passa a prestar atenção somente nos planetas e demonstrar estar pensando em algo muito importante sobre o que irá fazer com estes)
A, B e C – (falando amontoado e confuso no início, como que ansiosos... mas depois explicam a Deus o grande sucesso do nascimento dessa irmandade)
A – Deus... demos uma mãozinha no começo... véio... mas depois eles ainda fizeram um monte de coisas...
B – Sim! Sim! E Você não vai acreditar na última maluco...
C- É... não vai...
Deus – (meio resmungando baixinho) Não vou acreditar... hã...
A, B e C – (juntos e bem pausadamente falam a frase)
- Eles ainda por cima depois de tudo disseram que tendo experimentado um despertar espiritual graças aos passos da recuperação... Vão se dedicar a transmitir esta mensagem a outros adictos e praticar estes princípios em TODAS! TODAS! TODAS! Todas as atividades na vida deles!
Deus – (depois de um silêncio... murmurando entretido nos seus afazeres) hãm... hãm... vai com calma... voltem lá e digam pra eles que é...
Todos juntos gritam olhando para a platéia) - SÓ POR HOJE! (e começam com as palmas ritmadas de NA).
FIM
Assinar:
Postagens (Atom)
arquivo/archive/textos/texts
-
▼
2014
(185)
-
▼
2
(19)
- samba enredo (crônica)
- fruta esquecida... (poema)
- pinturas 2014 (apresentação)
- “Mário da Silva e os Lunares” (sinopse)
- Neo Rebis (projeto/tridimencional)
- Durkheim e a Educação Para a Sociedade (ensaio)
- Pinturas 2014 (artigo)
- saudade de andorinha (poema)
- direitaesquerdadireitaesquerda (comentário)
- liberta que será também (comentário)
- homopipocas happybundão (poema)
- metade gosta metade (poema)
- Epopeia ao Pateta (sátira),
- adesivo santificado (poema)
- vingança cega... (conto)
- o recreio... (comentário)
- Todos Precisam... (peça/teatro)
- perdão Blues... (aforismo)
- da maconha... (crônica)
-
▼
2
(19)