13 de dez. de 2014

sujeito e objeto (poema)





o sujeito
sujo
da submissão
é a sujeição
do ser subjetivo


o objeto
abjeto
da objeção
é o óbito
da abnegação






12 de dez. de 2014

tua alma fugiu/your soul ran off (poem)






as palavras não têm
nessa tua boca vazia
e nesse corpo domado
o que nunca souberam
como o nada nas mãos
no oco da tua cabeça
que no peito é vazada
das pegadas sem pista
olhos de nenhuma luz
negado não há o outro
que até tua alma fugiu





words do not have
that your empty mouth
and on this tamed body
which has never knew
as nothing in the hands
in the hollow of your head
that on the chest is leaked
of the clueless footprints
the eyes of none light
denied there isn't the other
that even your soul ran off



26 de nov. de 2014

Factual Religion (paintings serie description)








Factual Religion (paintings serie)


Há dois conceitos fundamentais para essa realização dessas pinturas (estes ligados à execução pictórica). Um deles é a tensão constante, na ação do processo de criação da obra, do drama vivenciado entre a dualidade luz total e escuridão absoluta. O outro, é essa própria experiência da dinâmica daquele movimento, do fenômeno psicológico causado pela inversão entre fundo e figura; num estranhamento forçado entre paisagem e grafismo diante do processo de aparição da obra pictórica em si mesma.

Outros dois conceitos são fundamentais para a apreensão da obra (estes ligados à expressão temática). No primeiro, há uma intenção filosófica, assumidamente insana, pagã e de uma teogonia, uma cosmogonia rupestre, por colher em cada obra todo o universo arquetípico possível numa criação de um arquétipo total da Divindade, principalmente em sua qualidade ligada à gênese do universo e aos aspectos mitológicos associados à unidade e a interdependência entre vida e morte, que se expressa na metáfora de uma sacralidade que pode ser chamada de "morte vivente". É um exercício espiritual, ritualístico e religioso, para alcançar a expressão simbólica de um ícone máximo inerente ao eterno movimento da criação das coisas do mundo. O segundo, é a evocação da 'intuição do instante', ou seja, em cada realização se busca uma experiência mística do presente, em que o aparecimento desses arquétipos, será o álibi de um encontro com a presença dessa Divindade no momento imediato, como a única possibilidade de compreensão da realidade mítica de nossa existência. 



There are two fundamental concepts for this paintings realization (these are connected to the pictorial execution). One is the constant tension, on the action of the work creation process, about the drama experienced on the duality between full light and absolute darkness. The other is the dynamic experience of the that movement, the psychological phenomenon caused by the inversion between figure and background; a forced estrangement (desfamiliarization) between landscape and graphism, in front of the appearance process of the pictorial work itself.

Two others concepts are fundamental to the apprehension of the work (these are related to the thematic expression). Firstly, there is a philosophical intention, admittedly insane and pagan, expressed as a petroglyphic theogony and cosmogony, to put in each work a whole archetypal of the universe, creating a total archetype of the Divinity, especially in Its quality that is linked to the genesis of the universe and the mythological associated aspects of the unity and the interdependence between life and death, which is expressed on a metaphor of a sacredness that can be called "living death". It is a spiritual, ritualistic and religious exercise, to achieve a symbolic expression of a maximum icon, inherent to the eternal movement of the creation of the wide world things. The second is the evocation of the "intuition of instant", that is, in each realization to seek a mystical experience of the present, in which the appearance of these archetypes, will be the alibi of a meeting with the presence of this deity in the immediate moment, as the only possibility of understanding the mythic reality of our existence.



20 de nov. de 2014

a poesia é inquestionável (prosa poética)




a poesia é inquestionável; não porque seja tirana, mas porque na liberdade nunca sobrevive a desconfiança; quem duvidaria de uma brisa que chega silenciosa e passa carregando qualquer aroma e frescor, vinda de tanta distância com a mensagem humilde de um campo florido ainda selvagem? ou quem argumentaria com um pequenino passarinho que pousa, ciscando aqui e ali as suas minúcias, cantando sua ingênua cançãozinha de delicados versos... e que voa de repente pra longe, tão longe e mais longe, apenas para buscar um final de dia mais morno? um poema nunca pergunta ansioso ou confuso sobre o drama da vida... porque já é sempre a verdade de sua própria e sublime resposta...




16 de nov. de 2014

é tão belo somente sonhá-la (ensaio)




“Por que realizar uma obra, quando é tão belo somente sonhá-la?” Pier Paolo Pasolini



O trabalho artístico evocado é apenas um sonho, uma intenção, uma simplória proposição, é somente uma possibilidade, e tem sido sempre, em potencial. É, antes de tudo, um desejo por uma atitude negativa, para ser resistente ao ritmo constante da atividade positivista ansiosa por sucesso e produtividade. Por um momento e por uma obra que esteja fora desse alucinado movimento progressista da sociedade contemporânea. A melhor opção nesse contexto é o não-fazer. Desta maneira, esse trabalho diminui, está em extinção.

Essa condição é estimulada, e busca denunciar isso, por uma desmotivação para essa corrida desenfreada da ação irrefletida, expressa numa profunda vontade de reavaliar a mentalidade competitiva que impulsiona todas as atividades na nossa sociedade contemporânea, em que ocorre uma sistemática desarticulação da liberdade de expressão e da capacidade de promover a cultura artística. Um meio social de poucos recursos disponíveis, desumanizado, com ambientes precários em que não é possível vivenciar a imaginação e a atitude artística libertária. 

Assim, cada vez mais surgem reflexões, uma vontade, de antes de produzir uma quantidade de obras numa motivação progressista e ambiciosa, que devora matérias primas, e impulsiona um movimento irresponsável diante da grande crise ambiental, sentir sempre uma grande emoção por manter sua elaboração no projeto, na reflexão, na proposição espiritual, para que, antes de tudo, o instante da criação poética fosse uma experiência de religiosidade. 

O artista mais atual, pensa e propõe, é o primeiro a renegar a tirania política, a moralidade dominante e a destruição da vida e, assim, pioneiramente, é também o primeiro a desistir dessa mentalidade. Por isso, deve parar de fazer, parar de progredir, parar de entupir o mundo com essa produção inconsequente à qual toda sociedade se dedica tão apaixonadamente. Desta maneira, uma vez profundamente estimulado por essa frase do grande pensador, a obra, se fosse, seria, sempre por uma grande necessidade própria do devaneio da alma. Seria essa obra atual, retomando o atávico destino rupestre, como aquele alguém que escreve um sublime poema com um graveto na areia da praia antes da maré que fará uma onda do mar apagá-la e reconstituir a delicadeza dramática da natureza... Uma não concretização de uma estética materialista, mas sim, uma cotidiana vivência de sua energia, essência interna e abstrata, efêmero sentimento e renúncia, silenciosamente sacrificada por sua não realização abnegada. 




14 de nov. de 2014

ɐɯןɐɔ (poema)





ɐɯןɐɔ
opnʇ
ɹǝʌןosǝɹ
soɯɐʌ


      *



ɯןɐɔ


ɯןɐɔ
ןןɐ
ǝʌןos
ןןıʍ


13 de nov. de 2014

sɐsıoɔ (poema)



sɐsıoɔ sɐp ɐıɹoıɐɯ ɐ
ɐʇǝןdɯoɔ ɐsǝɹdɹns ɐɯn
soɥuos sop ɐıɹoıɐɯ ɐ
ɐʇnןosqo ǝpɐpıןɐǝɹ ɐɯn







11 de nov. de 2014

o golpe da barbárie... (prosa poética)




o monstro meganha acéfalo tomará de assalto o descontrole da insanidade absoluta; a nova novidade de um movimento, projeto de loucura, desenfreada e ilimitada bestialidade; que sustenta a si mesmo pela autodestruição anunciada enquanto se desmente ao vivo; em troca de uma cotidiana sucessão de lideranças alucinadas, que fundam e se afundam em seu mesmo sistema, pela manutenção do poder na brutalidade de sua completa desorganização, na paranoia; na sua legitimidade temporária de seu surto derradeiro e simulado, na mudez do medo, pela imposição do potencial assassino de cada um dos que se anunciam chefias, patrões, comandantes ou celebrações do sucesso de sorriso arreganhado; pela matança, pela paulada, pela tortura e o pavor, gritaria; até que este sucumba numa próxima traição sempre iminente; a máxima guerra inventada, todos contra todos até que nunca seja o contrário jamais; nas praças abertas, nos becos, botecos de sinuca lavada em borras de líquido venoso escorrido, ressecado pelo chão de cimento queimado; nas quebradas, nas sacadas... perenes... pela dominação da miséria limítrofe, da distribuição de ilegalidades, pequenas vantagens contrabandeadas, das necessidades extorquidas, farras e sequestros de vitalidades à míngua; com sua propaganda de horrores, luxo, decapitações, estupros e sangue, sangue falso dilacerado nas séries sobre psicopatas fofos e tesudos... sangue verdadeiro jogado na sarjeta que viramos para nunca olhar e, enfim, da tomada da própria vida em cativeiro esquecido, virgem e viçosa, que será revendida... revendida e revendida, para que possa ser ainda libada em gotas, lambidas, penetradas, repenetradas... em pequenos embrulhos imundos de açougue, moída; por mais inúmeras vezes... desgastada... quase esgotada... em cristais, cheiradas de tampa de privada, pratarias, dourações diamantadas e amplos espaços... e também enquanto vaza nos pequenos goles oleosos, tampos de mármore inesquecível, viscose importada, chita áspera, bombas de seda porca de bar, cachimbos exóticos, platinadas, chutadas, chupadas e emboloradas nos altares, nos camarins, no inferno que a parta; uma última batalha que será para todo o sempre a última sem parar, a eterna maldade... o não deus... e o adeus!



motim (poema)




quando o espanto com a imensidão que rodeia
cai sobre essa solidão sem medida
só o coração é que aí navega sem medo
se é com a vela estufada da imaginação
o remo o leva bem firme o talento
o único que nunca trai ou desiste
que jamais vai abandonar a ninguém
e nesse pequenino bote que foi dado
atravessa uma névoa profunda e azul
depois das revoltadas águas da noite indomável
chega então a mansidão do dia celeste
da delicada e morna aurora desse sol eterno




5 de nov. de 2014

in vitro... (poema)



in vitro...

janela banal
paixão aquário
vidraça arregaça
solidão espelho
vitrine amostra
ilusão cristal



in vitro...

banal window
aquarium passion
shatters pane
mirror loneliness
sample vitrine
crystal illusion



30 de out. de 2014

A revolução mais profunda... (artigo)










A revolução mais profunda quem faz é a nossa amizade cotidiana...




As primeiras oportunidades de cultivar o talento na vida são muito tênues e delicadas, são espontâneas e se incorporam pacificamente ao nosso entorno, mas, por outro lado, são as que mais, maior e melhor impacto produzem na qualidade e na felicidade da vida de uma pessoa e, assim, que podem afetar o seu meio com essa mesma qualidade também. Uma sociedade só desenvolve realmente um equilíbrio e equanimidade coletiva, ou mesmo transforma eventuais injustiças, ou consegue mudar o rumo das coisas pacificamente, quando as pessoas têm a possibilidade de encontrar e não perder essas oportunidades iniciais e bem específicas da sua vocação, incorporando-as, desta maneira, nesse ritmo tranquilo e compassivo. 

Porém, alguns sistemas, algumas organizações sociais que vivenciamos hoje em dia são tão disfuncionais, chegam a ser tão brutais e cruéis, que destroem essa possibilidade na grande maioria dos casos. Assim, para recriar algum contexto e reencontrar oportunidades, as pessoas são induzidas, quase obrigadas, a agir com a mesma violência e brutalidade deste seu meio hostil, numa tentativa aflita por reconquistar as situações favoráveis e as oportunidades iniciais perdidas; condição que, também na maioria dos casos, gera cada vez mais e mais profundamente um desequilíbrio psicossociológico destas sociedades. Provoca-se, assim, um círculo vicioso de desumanização que se fecha mais e mais em si mesmo, gerando um coágulo social denso também cada vez mais e mais caótico e conflituoso.

Por outro lado, quando a vocação de cada um tem a chance de aparecer naturalmente, e se aninha ao seu contexto harmoniosamente, ao nos encontrarmos com as circunstâncias existentes e possíveis nesse nosso meio, e quando esse meio permite a aproximação e a circulação destas inúmeras vocações em todos os seus espaços, quando oferece diversificações e diversidade de movimentações culturais de fácil acesso, cotidianas, dando atenção a essas possibilidades e a esse consentimento para que o talento se expresse sem pressão, coação ou outra imposição competitiva qualquer, apenas baseada na corrida pela fama, sucesso e exclusividade; será isso, simplesmente, a melhor ajuda que poderemos dar, principalmente às crianças e aos mais jovens, para que descubram e se apaixonem pelo aprofundamento nas incontáveis formas de expressão, habilidades e realização humanas. Revela-se, então, uma fonte que fomentará, ao longo do tempo, relacionamentos enriquecedores, e um consistente desenvolvimento psicológico, social e cultural de uma qualidade tão especial que poderá se expandir como um cristal, refletindo suas infinitas faces e luminosidades para todos os cantos do mundo.



Fernando H. Catani 



(Isabella G. Catani me mandou essa gravação, que ela mesma fez, em que canta e toca um trecho da música “Robbers”, do grupo “The 1975”, eu fiz esse pequeno clip com algumas filmagens dela, para agradecer esse presente e ilustrar esse pequeno artigo.)











28 de out. de 2014

não é silêncio (poema)


do silêncio vejo alguns pensamentos em que derivas
imagens, lapsos de sons... risadas
mas isso não é silêncio
silêncio não existe em lugar algum
então, deste que não sei o que é
porém, é algo surdo assim abafado
é que como disse tua silueta é espectro
atravessa da lembrança ao canto do quintal escuro
e estavas ali? foste o que foi um vulto?
dessa mudez da noite é que nasce um poema
como depois de um sonho que caímos e ficamos surdos
sempre olhamos pra ver se estamos vivos, ao redor confirma
assim, sempre viveremos, pois o arredor sempre existirá
desse barulho que passa nem sei onde passa
da tua morte... mas isso foi morte?
afastas, esse vento carrega tudo
madrasta, tenho medo de que não seja ela
me carregas, ao longe as pequenas janelas
talvez ali dentro? seria assim que se passa?
onde correnteza de folhas secas já caídas
onde vai rio de solitude de água de sombra
luz aurora que apavora e um dia silencia enfim e deita
sozinha... sozinha... caminhas para o nada e estás nua








alucinações: (aforismos)



alucinações: tem muita gente boa pra pouca bondade... educar é permitir o erro em segurança... o único humano perfeito é o hipócrita...




22 de out. de 2014

mentiras se afogam (poema)





só se descobre como um poeta
quem num dia insuspeito na vida
passa apenas a crer em notícias
que venham escritas nas poesias
porque percebeu que as mentiras
se afogam sozinhas num poema





gato gavião (poema)



o gavião
tem uma cara
de gato
sempre gravitando
o gaiato
mas o gato
tem uma cara
de gavião
galeando sempre
o graúdo




perdão (universo)



só o perdão viaja no tempo...




19 de out. de 2014

Voto, ‘junk food’, bebedeira... (crônica)




Voto, ‘junk food’, bebedeira... e os vizinhos que se fodam...


Uma das maiores dificuldades para quem quer se alimentar e beber saudavelmente é que os hábitos desregrados e abusivos são totalmente incompatíveis com os moderados e saudáveis, ou seja, a tendência é que se acabe por “escolher” um dos lados e se afaste do outro progressivamente. Parece ser bem verdadeiro. Quando se começa a optar por uma alimentação elaborada com esmero, delicadeza e qualidade, e a beber com moderação e responsabilidade, é quase certo que se abandone pouco a pouco a comilança e a bebedeira inconsequente. Ou então, permanecerá um constante e incômodo conflito no dia a dia; ainda somado ao próprio sofrimento causado pelos hábitos extrapolados e, pior, causando também sempre uma grande chateação naqueles que são obrigados a suportar socialmente as extravagâncias do abusadão, do glutão e do bebum, sempre espaçosão, cheio de vontades e certezas desmedidas. Acontece. Pois não?


Assim parece ser também com o interesse pelas campanhas eleitorais. Ao se deixar levar e se envolver nessa mentalidade que fabrica essas propagandas eleitoreiras, e mais ainda nos esforços autônomos e muitas vezes voluntários dos seus partidários, mergulha-se num redemoinho de obsessão e compulsão por uma tamanha ‘junk food’ e uma tal bebedeira, promíscua e troglodita, que aos poucos vai levar os pensamentos, sentimentos e ações a uma condição de vida deplorável. Como na situação alimentar, poder-se-á até achar que se está a comer bem se empanturrando, e a beber de tudo e à vontade... repetindo aquela mesma piada inúmeras vezes, gritando, arrotando e peidando alto, e que isso é o que sem dúvida é uma vida alegre e ativa, que deverá fazer bem a si mesmo e também aos seus próximos queridos, quando na verdade o que acontece é somente que se afasta cada vez mais, mais e mais profundamente, de uma capacidade de reflexão, discernimento, sobre a própria situação, de como resolver os problemas com parcimônia e de como entender as coisas verdadeiramente com inteligência.


Quando se quer uma vida política saudável, quando se quer o organismo social funcionando bem e livremente, e se é isso que se quer, é preciso abandonar essas campanhas apodrecidas, dessa esbórnia troglodita, sem nenhuma medida, respeito ou dignidade. Nesse ‘junk food’ e nessa bebedeira patética, com sua publicidade débil mental, o que acontece apenas é, sem se dar muita atenção, que se perde completamente, e às vezes de uma maneira irreversível, a compaixão por si mesmo e, muito ruim, pelo próximo... aquele único que pode realmente ajudar a resolver os problemas que devem ser resolvidos...




15 de out. de 2014

abraço do eterno (poema)




numa manhã serena
um sentimento cala
a delicada ausência
numa brisa carrega
por suave mergulho
num manso silêncio
que saudade é afago
um abraço do eterno






12 de out. de 2014

dias de crianças... (poema)



se eu não consegui quebrar a cara deles
dos juízes e dos outros canalhas
se eu me iludi demais que iria deixar esse lugar mais fácil pra vocês
se eu inventei essa minha ingenuidade
pois eu mesmo sempre fui um fraco
porque a beleza de vocês quando crianças me encheu de esperança
e eu vi Deus naqueles dias
se esta não é a melhor comida e se esta casa às vezes tem cupim
se eu grito ao contrário de explicar
ou explico tanto aquilo que vocês já estão cansadas de escutar
porém, quando coisas injustas acontecem
eu ainda abaixo a cabeça
eu não sei o que fazer... eu apenas já não sei mais o que fazer




Quem Planta Mediocridade Colhe... (crônica)




Quem Planta Mediocridade Colhe...

Até mesmo uma mente das mais medíocres como a minha poderia perceber quanta mediocridade há nas campanhas eleitorais. Vemos isso em dois movimentos intrínsecos desde o início. Fundamentalmente, porque é um universo em que está explícito um banimento de qualquer potencial artístico, poético, original ou criativo, e que ainda exala uma estética objetiva e angustiada, patética, persuasiva e pragmática (a mais pura gênese de toda obra medíocre). Progressivamente, porque os seus realizadores, e os seus partidários, acreditam no exagero da exposição imposta, na repetição positivista imbecil, na metástase de afirmações cheias de lacunas tendenciosas, evasivas, mas silenciadas em pontos de contradição (como adora todo bom medíocre). 

Mas, vamos a mais alguns elementos dessa tragédia. Em si mesma, uma campanha de eleição pode representar o maior, mais eficiente e mais contundente mecanismo de mediocrização de qualquer atitude reflexiva espontânea, por quatro motivos básicos ao menos: essencialmente, porque fomenta, no medíocre individual, a crença de que é somente ele quem não está neste estado lastimável (nada mais medíocre do que se achar melhor do que outros medíocres); existencialmente, porque dissemina a crença, no medíocre social, de que todos devem sempre transferir a outros, sempre distantes de seu cotidiano, a esperança de resolução de coisas que, na realidade, somente terão a mínima chance de mudar se forem exigidas a partir de sua própria atuação direta e sua constante mobilização em seu ambiente (nada mais medíocre do que achar que conhece o melhor para os outros medíocres); e, universalmente, o medíocre abundante, é aquele em quem foi coagulada a crença de que votar é a ação política mais importante, que decidiria seu destino, quando isso não é nada verdadeiro e também não é ação política de maneira nenhuma, mas sim, a desistência dessa própria ação por uma esperança preguiçosa e indolente (nada mais medíocre do que achar que não tem culpa nenhuma da mediocridade ao seu redor); já espiritualmente, o medíocre espírito de porco, que é justamente o agente, da maneira mais profunda e condescendente, e por todos os outros motivos citados anteriormente, da negação de uma ação política efetiva, eficaz e eficiente, mas, principalmente, crítica de si mesma (nada mais medíocre do que achar que não é preciso deixar de ser medíocre para mudar as coisas medíocres).



11 de out. de 2014

só amar (poema verso)




amar só é possível onde impossível é só amar...




"full defense kisses" (flash fiction)




Explicava sem muita coerência que havia inventado a piada séria, a poesia de um verso só e também... o poema moto-contínuo. E agora persistia (a falar sozinho por aí) num outro projeto... Dizia: - É o “full defense” gente! Sabia-se, dos que já o discurso escutaram por acaso, ser uma proposta, uma espécie de antiluta poético/anarquizada, que refutava e evitava completamente o ataque, tanto o próprio como de um potencial oponente e... delirava ele? e... não havendo mesmo a possibilidade de fugir antes, sendo que, então, fatidicamente, só atuaria por meio de esquivas bondosas, bloqueios sensíveis e empurrões gentis... já os “knockouts”... e em última hipótese, somente seriam permitidos aos beijos...



o coração (poema)






o coração
antes da mente
o fato
antes do pensamento
a imaginação
antes da ideia
a intuição
antes do cálculo

o amor

     *



the heart
before mind
the fact
before thought
the imagination
before idea
the intuition
before calculation
the love










resultados de oficinas de assemblagem com restos de madeira - organizado para crianças de seis a treze anos residentes em abrigos de proteção à situação de risco social(2012)

results of workshops assembly with scrap wood - organized for children from six to thirteen years residing in shelters for protection of social risk (2012)










9 de out. de 2014

chipitos (microconto)




Pegou um fardo daqueles de chipitos lá na vinte e cinco e saiu correndo no pau pra depois subir lá no cavalão do Duque Brecheret... véio... a maior estátua equestre de todas! Amarrou lá uma rede que um chegado dele já tinha dado outro dia desses, pendendo do bridão até o saco do bichão e deitou debaixo na sombra que a barriga fazia. Dali gritava e gritava em cusparadas pra todo o resto do mundo: “BABACAS! BABACAS! BABACAS!”





ficar por aqui (poema)






Decidi ficar por aqui
Nos calçamentos, alicerces e barras de sapatas
Nos cordames dos estirantes
Em meio úmido e inóspito
Às vezes árido e fervente
Solitário e incógnito
Batendo as estacas pros velames
Âncoras, faróis e sinaleiros de névoa
Esquecido das almas
Nos baldrames em que construímos
As colunas brutas dos poemas
Coloco as duas mãos em concha na boca e grito
AGORA!



borboletinha (flash fiction)






uma borboletinha pousou na torneira da bica; parecia estranho e inexplicável; leu os manuais, manifestos, estatutos... descabelou, choramingou... mas o seu problema era o ódio que sentia, em si... e não seja qual for o objeto deste... porque no fundo só aumentava mesmo o nível geral... por isso, por mais aparentemente justificado que acreditasse estar, seu ódio, além de não mudar o mundo humano pra melhor em nada e em nenhum instante, viu que poderia muito bem ainda ajudar a destruir o mundo de todos os outros seres; o flautista passou com seu som delicado e descansou no fim de tarde naquela pequena estrada...




8 de out. de 2014

língua náufraga (flash fiction)







Sentia-se um náufrago exilado. Desde sempre, havia se esquecido donde viera e divagava a declamar... onde estariam todos? Às vezes, falando em voz alta, para um público de pedrinhas, areia, formigas: "A língua que alguém fala, lê e escreve... é a sua maior liberdade, mas pode ser, ao mesmo tempo, a sua maior prisão". No caso daquele seu português, o brasileiro, era como estar condenado injustamente, pois, tamanha beleza crime nenhum nunca será... e nessa condenação, a viver numa ilha maravilhosa, porém deserta... que ninguém atenta. Um paraíso indescritível, numa insuportável solidão. Por isso mesmo, talvez - e agora já pensava consigo em silêncio - somente esta é a única que tenta descrever, tão ingênua e inutilmente, essa intraduzível saudade de alguém que nunca se conheceu...





7 de out. de 2014

inframundo (miniconto)







Foram abduzidos logo após os resultados. Rolava uma workshop sobre atualização de medidas para a explotação, exploração, sorrisos de cavalete e justificativas estatísticas, gagueira, catimba e voz de veludo. E... o narrador dizia: Há vários níveis de caos rentáveis. Exemplos são o inframundo, o mundo reles e mesmo o mundo cão. Quem suborna, recomenda, audita é por reflexo de uma necessidade de certa autogestão sempre dominada subliminalmente pelos que mandam matar, são padrinhos, pagam candidatos egocêntricos, escravizam ou apenas formam os porquinhos de shopping. Controlar, torear a espontaneidade é a receita magna. Para isso é necessário que algo funcione ou que não funcione. Ou de um modo selvagem... ou de um modo relaxado... ou até mesmo de um modo bem organizado. Então, tudo é motivo para manter a coisa como tal em andamento. Por isso ocorrem as mudanças ou as reações que alguém julgará serem realizações políticas, econômicas e sociais. A coisa precisa andar. O criminalismo é o movimento que mais exige a modernização da sociedade ao mesmo tempo que é a entidade que mantém milhões de pessoas na penúria. É um modo de vida. Não! Para vocês é show de bola! Bembolado! Tchau! Sem mais, jogaram os coitados de volta para baixo... prontos para o segundo turno e... pelados.





6 de out. de 2014

fés (flash fiction)






pobres sim que são agora, rendidos ao simplório contra e a favor; não por estarem livres de ambição, então, vazios preenchidos de um nada de digno, mas, porque reduzidos ao que lhes dizem que são, dizem para ser... ou que seriam... acreditam na pior das fés, a da razão... pedantes, porém, renegam a própria consciência e repetem, repetem e repetem...






4 de out. de 2014

cabeça oca (microconto)






num trupicão que deu, ele filosofou que o estado mental do acerto é a cabeça oca; qualquer pensamento que não venha desejado diretamente pelo fato induz ao erro...






debate de eleição (miniconto)








(repórter) - Doutor... O senhor já escreveu quatro livros sobre os debates:


“As Inúmeras Faces Do Capeta”

“Se Ficar O Bicho Pega Se Correr O Bicho Come”

“Seis Meia Dúzia Meia Dúzia Seis”

“A Farinha Dos Sacos E Mais Sacos Cheios De Sacos”


(doutor) - Ãm Rãm...


(repórter) – Qual será o título do seu próximo livro sobre o tema


(doutor) – “Quem Se Emociona Com Debates É Débil Mental”...










personalidade? (miniconto)











O discípulo perguntou ao mestre:

- O que é a personalidade mestre?

O mestre respondeu:

- Bem... Já foram algumas em tempos remotos queimadas na delicada porcelana modelada dos fornos de olaria milenares; outras forjadas no aço bruto das espadas centenárias de guerreiros honrados; algumas por séculos esculpidas em marretadas nos totens míticos de granito puro; outras cavadas vagarosamente nos lagos sagrados das montanhas de monastérios distantes e silenciosos; outras nas aventuras dos poetas andarilhos dos caminhos da alma pelos vales profundos, penhascos altíssimos, pradarias verdejantes e desertos inóspitos... e nos dias de hoje outras... bem... outras hoje são curtidas aos milhares na barulheira dos selfies descartáveis das bandejas de fast food no lixo entulhado das praças de alimentação de shopping...







3 de out. de 2014

clouds&poemsproject (descrição)








Nuvens são os poemas que a água escreve...



Minha vida poética certamente começa quando eu ainda era uma criança e observava as nuvens deitado no chão. Por horas eu as contemplava em sua maravilhosa qualidade. As nuvens sempre me impressionavam imensamente. Nas manhãs eu corria logo cedo ao levantar para ver como estavam no novo dia. Será que estavam carregadas e pesadas, se estavam leves bem alto no céu? Negras e amedrontadoras? Suaves e bem-aventuradas? As formas que as nuvens criavam sempre provocaram a minha imaginação. Sua magnitude. Flutuando. Água flutuante. Gigantes. Suas incontáveis possibilidades de formas. Sua ilimitada capacidade de revelar a luz e de expressar as sombras. Imaginava-as como seres imensos viajando pelo céu do mundo. Numa aventura mitológica. As tempestades. Os raios. Os trovões. Os dias calmos e magníficos com lindas nuvens passando no silêncio da tarde. Aterrorizando-nos nas noites de tempestade. Sonho que as nuvens carregam a imaginação humana. Desenhando e escrevendo em suas formas e volume. Sobre tudo. Numa uma dimensão inusitada. Mitológica dimensão. Espanto e dádiva sublime. As nuvens declamam todos os dias maravilhosos poemas épicos da água. Contam sobre a natureza da vida.... Implacáveis. Delicadas. Poderosas. Dramáticas. Redentoras. Proféticas. Destino destruidor. Graça salvadora. A eterna e divina providência da água.

(Estes são trabalhos de fotomontagem digital a partir de fotografias de nuvens em seus vários estados que eu mesmo faço. As imagens são reprocessadas em um software simples. Sem mudanças exageradas, sem nenhum alongamento ou distorção. Apenas são intensificadas ou mitigadas algumas cores assim como as relações entre o claro e o escuro. A intenção final é produzir grandes painéis a partir destas fotomontagens).




Clouds are the poems that water writes…

My poetic life certainly begins when I was a child and used to watch the clouds when I was lying on the ground. Looking its wonderful and mysterious quality. The clouds always impressed me immensely. Early in the morning I used to run to see how they were getting up to the new day. Were they loaded and heavy? Were they light high into the sky? Black and fearful? Soft and blissful? The shapes that clouds make always provoked my imagination. Its magnitude. Floating. Floating water. Giants. Countless possibilities of forms. Limitless ability to reveal the light and shadows, to express a sacred world. Silently. Imagined them as huge beings traveling through the sky land. A mythological adventure. Storms. The rays. Thunders. Peaceful and stunning days with beautiful clouds passing through the shiny afternoon. Terrorizing us in the stormy nights. I wonder that the clouds carry the human imagination. Drawing and writing in its forms and volume. About everything. With an unusual dimension. Mythological dimension. Amazement and sublime gift. The clouds declaim all wonderful days epic poems of water. Telling about the nature of life... Relentless. Delicate. Powerful. Dramatic. Redemptive. Prophetic. Destructive fate. Saving grace. The eternal and divine mercy of water.



(These are digital photomontage works from photographs of clouds in its various states which I do by myself. The images are reprocessed in a single software. Without several changes, without either stretching or distorting. Only are intensified or mitigated some colors and the relationship between light and dark as well. The ultimate intention is to produce large panels from these photomontages).




30 de set. de 2014

diga+que+eu+não+sei+de+nada (audiovisual)

















chuva fina (poema)





por maior a perda
mais injusto roubo
ou triste a traição
nunca darei uma gota
de água ou uma faísca
de luz de sol ou mesmo
uma pitada de adubo cru
ou uma ideia que insinue
em cultivar o que promove
o botão de nefasta daninha
para esperar e porque creio
quando meu devaneio prostrar
deitado no chão do desencanto
saberei a origem da suave onda
que livra dessa fumaça e sombra
deste imenso alento e puro afago
para nunca me afastar dessa graça
chuva fina na sementeira de poemas









27 de set. de 2014

novas pinturas (descrição)







"poemeco" - f.h. catani - 2014 - acrílica s/ tela - 190cm x 150cm



Nestes trabalhos parto sempre de uma intenção poética para uma materialização estética. São poemas visuais rústicos, por isso mesmo não eruditos, em reverência à tradição da pintura ingênua. O início da execução é espalhar sobre a tela entre 18 e 32 cores puras e sem nenhuma mistura que são aplicadas sem que ocorra uma observação direta da visão para uma escolha consciente de como devem ser combinadas essas cores. Isso tenta manter o aparecimento dessas combinações de uma maneira intuitiva, espontânea e mesmo aleatória.

Nunca são sobrepostas cores e sempre são apenas encostadas lado a lado uma às outras. Depois desse processo se obtém um fundo colorido todo preenchido. Inicia-se então um trabalho apenas com a cor preta. Um grafismo começa a ser aplicado separando cada uma das cores aplicadas na tela. A partir de certo ponto o que era grafismo começa a aparecer como fundo e o que era o fundo colorido surge como a própria definição das figuras, resultando numa imagem em que formas coloridas flutuam e interagem num fundo de total escuridão, demonstrando um movimento vigoroso, numa vontade de apresentar uma linguagem com referências à símbolos de um marcante teor épico e mitológico.

Dois são os conceitos fundamentais para essa realização dessas pinturas (estes ligados à execução pictórica). Um deles é a tensão constante, na ação do processo de criação da obra, do drama vivenciado entre a dualidade luz total e escuridão absoluta. O outro, é essa própria experiência da dinâmica daquele movimento, do fenômeno psicológico causado pela inversão entre fundo e figura; num estranhamento forçado entre paisagem e grafismo diante do processo de aparição da obra pictórica em si mesma.


Outros dois conceitos são fundamentais para a apreensão da obra (estes ligados à expressão temática). No primeiro, há uma intenção filosófica, assumidamente insana, pagã e de uma teogonia, uma cosmogonia rupestre, por colher em cada obra todo o universo arquetípico possível numa criação de um arquétipo total da Divindade, principalmente em sua qualidade ligada à gênese do universo e aos aspectos mitológicos associados à unidade e a interdependência entre vida e morte. É um exercício espiritual, ritualístico e religioso, para alcançar a expressão simbólica de um ícone máximo inerente ao eterno movimento da criação das coisas do mundo. O segundo, é a evocação da 'intuição do instante', ou seja, em cada realização se busca uma experiência mística do presente, em que o aparecimento desses arquétipos, será o álibi de um encontro com a presença dessa Divindade no momento imediato, como a única possibilidade de compreensão da realidade mítica de nossa existência. 
                               
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In these works I always start from a poetic intent to an aesthetic materialization. Are rustic visual poems, therefore not erudite, and a reverence to the tradition of naive painting. The execution starts spreading over the screen about 18 and 32 pure and never mixed colors, that are applied without a direct observation of vision based on a conscientious choice about how these colors should be combined. This processes tries to maintain the appearance of these combinations in an intuitive, spontaneous and even randomly way.

Never the colors are overlaid and are always just leaning side by side to each other. After this process I get a whole colored background filled. Then starts a work only with the black color. A graphism starts to be done separating each color of the others applied on the screen. From a certain point which was beginning to appear as graphism emerges as a background and that was a colorful background takes place as the very definition figures, resulting in an image where colored shapes are floating and interacting in a background of total darkness, demonstrating an energetic movement, on a desire to present a language with references to the symbols of an epic and a mythological content.

There are two fundamental concepts for this paintings realization (these are connected to the pictorial execution). One is the constant tension, on the action of the work creation process, about the drama experienced on the duality between full light and absolute darkness. The other is the dynamic experience of the that movement, the psychological phenomenon caused by the inversion between figure and background; a forced estrangement (desfamiliarization) between landscape and graphism, in front of the appearance process of the pictorial work itself.


Two others concepts are fundamental to the apprehension of the work (these are related to the thematic expression). Firstly, there is a philosophical intention, admittedly insane and pagan, expressed as petroglyphic cosmogony and theogony, to put in each work a whole archetypal universe, creating a total archetype of Divinity, especially in Its quality that is linked to the genesis of the universe and the mythological associated aspects of the unity and the interdependence between life and death. It is a spiritual, ritualistic and religious exercise, to achieve a symbolic expression of a maximum icon, inherent to the eternal movement of the creation of the things of the world. The second is the evocation of the 'intuition of instant', that is, in each realization I seek a mystical experience of the present, in which the appearance of these archetypes, will be the alibi of a meeting with the presence of this deity in the immediate moment, as the only possibility of understanding the mythic reality of our existence.  


F. H. Catani


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