"poemeco" - f.h. catani - 2014 - acrílica s/ tela - 190cm x 150cm
Nestes
trabalhos parto sempre de uma intenção poética para uma materialização estética. São poemas visuais rústicos, por isso mesmo não eruditos, em reverência
à tradição da pintura ingênua. O início da execução é espalhar sobre a tela
entre 18 e 32 cores puras e sem nenhuma mistura que são aplicadas sem que
ocorra uma observação direta da visão para uma escolha consciente de como devem
ser combinadas essas cores. Isso tenta manter o aparecimento dessas combinações
de uma maneira intuitiva, espontânea e mesmo aleatória.
Nunca
são sobrepostas cores e sempre são apenas encostadas lado a lado uma às outras. Depois
desse processo se obtém um fundo colorido todo preenchido. Inicia-se então um trabalho apenas com a cor preta. Um grafismo começa a ser aplicado separando cada uma das cores aplicadas na tela. A partir de certo ponto o que era grafismo começa a
aparecer como fundo e o que era o fundo colorido surge como a própria definição
das figuras, resultando numa imagem em que formas coloridas flutuam e interagem
num fundo de total escuridão, demonstrando um movimento vigoroso, numa vontade de
apresentar uma linguagem com referências à símbolos de um marcante teor épico e mitológico.
Dois
são os conceitos fundamentais para essa realização dessas pinturas (estes
ligados à execução pictórica). Um deles é a tensão constante, na ação do
processo de criação da obra, do drama vivenciado entre a dualidade luz total e escuridão
absoluta. O outro, é essa própria experiência da dinâmica daquele movimento, do fenômeno psicológico causado pela inversão entre fundo e figura; num
estranhamento forçado entre paisagem e grafismo diante do processo de aparição da obra
pictórica em si mesma.
Outros
dois conceitos são fundamentais para a apreensão da obra (estes ligados à expressão temática). No primeiro, há uma intenção filosófica, assumidamente insana, pagã e de uma teogonia, uma cosmogonia rupestre, por
colher em cada obra todo o universo arquetípico possível numa criação de um
arquétipo total da Divindade, principalmente em sua qualidade ligada à gênese do universo e aos aspectos mitológicos associados à unidade e a interdependência entre vida e morte. É um exercício espiritual, ritualístico e religioso, para alcançar a expressão
simbólica de um ícone máximo inerente ao eterno movimento da criação das coisas do mundo. O segundo, é a evocação da 'intuição do instante',
ou seja, em cada realização se busca uma experiência mística do presente, em que o
aparecimento desses arquétipos, será o álibi de um encontro com a presença dessa Divindade no
momento imediato, como a única possibilidade de compreensão da realidade mítica de nossa existência.
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In these works I always start from a poetic
intent to an aesthetic materialization. Are rustic visual poems, therefore not
erudite, and a reverence to the tradition of naive painting. The execution starts
spreading over the screen about 18 and 32 pure and never mixed colors, that are
applied without a direct observation of vision based on a conscientious choice about
how these colors should be combined. This processes tries to maintain the
appearance of these combinations in an intuitive, spontaneous and even randomly
way.
Never the colors are overlaid and are always just
leaning side by side to each other. After this process I get a whole colored
background filled. Then starts a work only with the black color. A graphism
starts to be done separating each color of the others applied on the screen.
From a certain point which was beginning to appear as graphism emerges as a
background and that was a colorful background takes place as the very definition
figures, resulting in an image where colored shapes are floating and interacting
in a background of total darkness, demonstrating an energetic movement, on a
desire to present a language with references to the symbols of an epic and a mythological
content.
There are two fundamental concepts for this paintings
realization (these are connected to the pictorial execution). One is the
constant tension, on the action of the work creation process, about the drama
experienced on the duality between full light and absolute darkness. The other
is the dynamic experience of the that movement, the psychological phenomenon
caused by the inversion between figure and background; a forced estrangement (desfamiliarization) between landscape and graphism, in front of the appearance process of the pictorial
work itself.
Two others concepts are fundamental to the
apprehension of the work (these are related to the thematic expression). Firstly, there is a philosophical intention, admittedly insane and pagan, expressed as a petroglyphic cosmogony and theogony,
to put in each work a whole archetypal universe, creating a total archetype of
Divinity, especially in Its quality that is linked to the genesis of the
universe and the mythological associated aspects of the unity and the
interdependence between life and death. It is a spiritual, ritualistic and
religious exercise, to achieve a symbolic expression of a maximum icon, inherent
to the eternal movement of the creation of the things of the world. The second
is the evocation of the 'intuition of instant', that is, in each realization I seek
a mystical experience of the present, in which the appearance of these
archetypes, will be the alibi of a meeting with the presence of this deity in
the immediate moment, as the only possibility of understanding the mythic
reality of our existence.
F. H. Catani