Do Erotismo Artesanal à Pornografia Tecnológica.
O maior problema da deterioração de uma atividade humana está na perda da sua excelência artesanal, não na metástase de sua reificação e nunca será na repressão à proliferação do grotesco que pode estar a sua equilibração, mas na valorização de seu antídoto mais natural. Reprimir o vício sem nutrir o viço, além de enfraquecer o segundo acaba potencializando o primeiro. Como um exemplo, numa analogia poética, pode-se ter um olhar sobre os antibióticos. Sem dúvida são algo importantíssimo, porém, a maioria das infecções são proporcionalmente mais agressivas quanto mais surgem num contexto imunológico enfraquecido. Portanto, embora os antibióticos tenham sua função inequívoca, o equilíbrio de um organismo saudável faria com que sua utilização se restringisse a casos extremos em que a própria parcimônia traria, além do fortalecimento da saúde geral, a vitalização mesma de suas propriedades terapêuticas. Assim, embora o modelo do antibiótico seja verdadeiro, é também limitado se utilizado sem coerência com a escala do desenvolvimento de um contexto saudável que por sua vez, sendo deste incrementado, diminuiria a necessidade daquele. Neste mesmo sentido, a pornografia disseminada nas redes digitais é uma degeneração, mas não é inédita, só é diferente hoje na sua escala. E é perigoso pensar que a degradação está apenas no ato promíscuo das pessoas, pois, está também nas formas de condenação desses mesmos atos. Há um grande perigo também nesta determinação, desde a sua gênese, destes conceitos moralistas de salvação e danação. Este determinismo do julgamento coisifica tanto quanto a sua deploração. São impulsos do mesmo movimento, do mesmo trágico destino. A condenação brutal depende da falha, tanto quanto a falta monstruosa, de sua sentença. Esta é a aproximação que é necessária para redimir a mentalidade de modelo que sempre ilude oferecer uma solução, um remédio, que muitas vezes apenas amplia o problema, que esta mesma fabrica e que está constantemente a reforçar. É preciso abandonar o pensamento reducionista, que inventa as polaridades e suas batalhas apenas para acomodar os medos da sua responsabilidade inerente. O perigo da pornografia não está exatamente na metástase da afirmação da sua promíscuidade, ou seja, é a própria não compreensão da sua qualidade que faz a ploriferação de sua inicuidade, na medida da decomposição de sua significação. Do mesmo modo que a fatalidade de um corpo infeccionado está muito menos no poder de antibióticos, mas muito mais na necessidade de recomposição da capacidade de sua resposta imunológica. Há uma urgência, da mesma qualidade que reagiria a um perigo mortal, por uma reflexão estética e uma ação política, ambas pela piedade e não pela inquisição, sobre a consciência de escala. Há que ser posta nas teorias e nas práticas, em todo canto, não importa antecipadamente como e não interessa prospectivamente até quando, pois, será imprescindível para sempre e em todos os lugares. É somente nesta sua nova dimensão anímica, numa consciência de escala abrangente, que será possível existir alguma nova e verdadeira revolução do espírito.