2 de abr. de 2023

Oração da noite adentro (poema)



Desiste desta Tua perfeição

Desacredita daquela redenção

Esquece esta absolvição épica

Dos trovões e nuvens se abrindo

Com os clarões e os mortos vivos


De Teu sagrado silenciamento

Não reclamamos nem um pouco

A justiça cega, surda e ausente

Não blasfemamos em nada

Da Tua paciência conivente

Não ousamos duvidar

Deste realejo da salvação

Do rocambole de futuro eterno

Fogo no vento, cavalos e cavaleiros

Deste desperdício na miséria

Desta míngua nesta fartura

Da Tua obra de beleza canibal


Porém que um mínimo então urge

Antes de toda a parafernália final

Que menos disto um clamor inocente

Ilumina agora um ínfimo instante

Que seja só uma lasca de chama

Senão um cisco de uma farpa

Da menor fagulha que Te sobrar





Inframundo (prosa poética)



Naquilo que é uma espécie de poder subjacente, subterrâneo, algo subliminar no cotidiano, o que impressiona verdadeiramente não é a quantidade do resultado, mas a qualidade da dedicação. E daí aquele velho dilema entre bom e ruim, o bem e o mal, a maldade e a bondade, não está numa equação quantitativa técnica de objetos, práticas substantivas ou fatos consumados, senão, numa revelação qualitativa de sujeitos delirantes, absurdamente adjetiva, num ritmo anárquico cármico filosófico.