28 de mar. de 2015

the passion is now tired (poem)




a história que pouco escrevo
é a dos que nunca lutaram
dos que não sabiam a letra
que esperaram na distância



a lembrança que mais tenho
é do azul dos teus olhos tristes
e daquele teu constante sorriso
que na noite se foi e me deixou


a poesia que ainda conheço
foi escrita na areia e na chuva
é balbuciada em tênues sonhos
numa rima embargada e torpe


a vontade que nem tenho quase
é a de um dia sair e muito tempo
perder o que desconheço ainda
tentar te achar e te ver outra vez


a paixão agora é cansada e dorme
em impulsos de pesares e alegrias
nas ruas solitárias da nova cidade
nas canções que ao longe escuto



              *


the  story that I  write little
is that of those who never fought
of those who didn't know the lyrics
who have waited in the distance


the memory that I have more
is the blue of your sad eyes
and that your constant smile
that into the night was gone and left me


the poetry that I still know
was written in the sand and the rain
is stammered in tenuous dreams
on a choked and clumsy rhyme


the will that I not have almost
is such one day go out and a long time
lose that is still unaware
try to find you and see you again


the passion is now tired and sleeps
in 
impulses of sorrows and joys 
the lonely streets of the new town
on the songs that I hear far away




17 de mar. de 2015

simples face da graça (poema)




enquanto conclamam os campeões
estás aqui um pouco solitária na vida
enquanto preparam seus canhões
ali no teu olho brilha uma pequena lágrima


durante a parada dos bem honrados
esperas uma ínfima formiga que te acena
enquanto esbaforam na turba alucinados
adormeces olhando as nuvens pela janela

mesmo quando tudo atropelando arrebentam
nessa assim tão doce e delicada e sutil presença
que nem ao menos esse teu sorriso de anjo olham

e quando vem a demência será de que se alimentam
surge então quem és na tua simples face da graça
e talvez apenas teu tênue silêncio o que nunca suportam




13 de mar. de 2015

Ora... se meus amigos me odeiam... (prosa poética)




Ora... se meus amigos me odeiam...



Era uma vez que, num sonhado país de sonhos, de repente explodiria um dia o que conhecido seria como a batalha dos três exércitos. Dividido assim estaria o paraíso tropical, então, em três partes iguais (e nunca apenas em duas como outros poucos dias antes alguém já pensaria). Ninguém realmente a queria, nem a divisão nem a estranha guerra, mas ali haviam três líderes imbecis, que de líderes só o eram em ser imbecis, e que fomentavam a escolha da imbecilidade que ao povo mais iludia que parte de uma dessas três partes imbecis cada um pertenceria imbecil e irrevogavelmente. E assim, como num daqueles ainda outros dias uma gloriosa maldição amaldiçoaria a tudo e todos, extinguir-se-ia desde sempre o início daquilo que ali sido teria e se apressaria antecipadamente, como sempre tinha sido feito atrasado, o início do fim que nunca nem ao menos possível aconteceria (e nisso ninguém haveria de duvidar que não aconteceria, pois, já surgiriam algumas parcerias e escambos súbitos, para estar prevaricando e estar procrastinando como de costume e vício)... a não ser que, nos lugares e momentos certos e secretos, espectros, da conveniência de um início mais rápido... ou mesmo que, de um ou de outro modo necessariamente inventado, um fim mais demorado, que fosse convenientemente pago numa substancial e acordada, e estapafúrdia mesmo, insana e gananciosa... e pornográfica... babada... propina...




9 de mar. de 2015

Jazz... Hard... Bop... (micro conto)



Lembrava vagamente da foto preto e branco de um homem de terno escuro típico e de óculos, comuns nos 60, na capa... ou contracapa? um quinteto? sexteto? E lembrava muito levemente do riff. Jazz. Hard. Bop. Na verdade, somente lembrava mesmo é da sensação que ficara. Nenhum nome, nem da música nem de nenhum músico. Quem eram mesmo? O velho disco de vinil estava perdido, quem sabe onde. E aquele fraseado Blues... atávico... quase esquecido, repetindo desconhecido... um encadeamento ritual... como o queria encontrar na memória. Era uma entrada forte, com um naipe rústico, um ataque selvagem. Um amarrado de intervalos que vibravam como uivos e cantos em uma harmonia vital. Depois de repetir como um mantra essa sequência, com um andamento forjado de ferro bruto na bateria, e uma coluna de pedra oca naquele contrabaixo, entravam duas ou três sessões de improviso no pau... talvez o sax, o piano e... o trompete... somente o puro, o essencial. Acabado os depoimentos, ou melhor, testemunhos, voltavam no riff com uma força inusitada, mesma clave, mesmo tom, mesmo modo, porém, mais gritado e num timbre rasgado...pra acabar de vez. Lembrou que ali o ar até parava. Não lembrava. Apenas cacos de imagens e fragmentos de algumas notas. Puxa vida! Quem eram? Qual era?


2 de mar. de 2015

é as criança que num apanhô (poema)



é as criança que num apanhô
que vai depois tudo virá larapiu!

e é as muié nas rôpa sem pudô
que é as curpada dus istrupiu!


é us cartrunista desreispertadô
que é que povróca os ataquiu!

será que o curpado do friu é o calô
ou é o calô que é o curpado pelo friu!

e num sei se ocê que foi que cagô
ou é suas ideia é que é um vomitiu!



manual prático e drástico da saída (crônica)



manual prático e drástico da saída: mergulhe fundo pelo lodaçal jurídico vampírico... arraste-se lambendo na lama burocrárico venenosa... chafurde no pântano pútrido da contabilidade mórbida... desconjure nas maldições do créditus mórbidus e do débitus eternus... vadem retrulum...



manual prático de proteção (crônica)



manual prático de proteção básica daquilo que você gostaria de saber: a) se um mesmo fato tem duas versões diametralmente opostas, as duas são mentiras... b) essas versões conflitantes servem apenas para que nunca ninguém resolva os problemas que as envolvem... c) há mais patifarias na venda de manchetes e fotos convenientes do que pode imaginar nossa pagã ingenuidade... d) quanto mais os líderes se esfolam mutuamente na luta do contra ou do a favor, mais estão todos eles juntos a favor de uma única coisa só...




a pátria derradeira (poema)




a pátria derradeira
é a errante saudade
e desta não há exílio
nem haverá anistia
donde nunca se refugia
nem se pode renegar
carregado de riqueza
não se parte nem se prende
não espera ou se despede
nem retorna ou a censuram
nada passa e avança e continua
e a única lembrança nômade
tal passaporte e aduana
contrabando e sentimentos
esperança dos olhares fixos
no horizonte e céu e território
do vento que atravessa e corre
da campina do cerrado e mar
deste coração pendido e trêmulo
na esquecida balada daquele hino
surdo descompasso de um bumbo
do silêncio rasgando tal bandeira
deitado em solo morno decompõe
já não almeja nenhuma liberdade
que revolução finda da memória
ancorada na madrugada e no poente
tudo será história neste antigo poema
enfim dum corpo e duma ausência
serão agora ambos da mesma substância



alucinações: quem perde... (prosa poética)



alucinações: quem perde é quem não paga e quem ganha é quem não recebe... o verdadeiro não é a mentira quando disso se lembra e o falso não é a verdade quando disso se esquece... os passarinhos têm a sorte de que a bondade nunca tem limites já a maldade assim pequenininha não se aguenta e desaparece...



moeda que indeniza (prosa poética)



o evangelho segundo o dia a dia: a moeda que indeniza a injustiça, quando se nega a vingança, é leve... e é abençoada... e é paga à vista e no ato em abundância; e ninguém se preocupe com a pena para quem impõe aquela... esta já era insuportável ainda no planejamento da traição... e está na própria condenação de ser aquele ente desprezível que a realiza...



pau vermelho (prosa poética)



era a terra do pau vermelho, sebo de galinha, de tempos de chumbo, saco roxo ou daputaquelhospariu... sei lá... sei que o que se vivia ali ou era a eterna chegada ou uma eterna partida... e no meio... no meio era feijão, espera ou... saudade...


tô no hospital... (flash fiction)



tô no hospital....tenho medo de pegar uma doença... às vezes parece que no mínimo uns 70% dos que estão aqui enchendo o saco poderiam se cuidar um pouco mais... e aí os que estão doentes mesmo poderiam ser antendidos bem melhor... tem um aqui com cólica... tem uma cara de quem comeu até os sapos que estavam no quintal... e agora está com cólica... não sei quem é pior... a doença ou os doentes...




ensinar (prosa poética)



ensinar é como atrair um passarinho raro e arisco... não basta ficar a falar a falar a falar a falar e a falar com orgulho daquele pão ótimo e especial, guardado numa lata decorada e maravilhosa, numa prateleira super organizada, com lindas portas de vidro brilhante sem nenhuma manchinha e com chaves cravadas de pérolas, diamantes, rubis e ouro puro... é muito mais importante saber como deixar uma trilhazinha disfarçadinha de migalhazinhas delicadinhas e estrategicamente espalhadinhas pelo caminhozinho...



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