nascera esquecido
num lugar sem identidade
talvez por isso na sua sina
dum oco no peito aberto
conseguira entender
e ser tudo que fora possível
voara pelo mundo todo
num sonho das noites
e no devaneio dos dias
chorara com todos nas tribos
nas masmorras dos castelos
na solidão dos desertos
no silêncio das montanhas
dançara com todos nos campos
nas festas de colheita
nas caçadas das florestas
nos festivais dos vinhos
nos casamentos ancestrais
e rituais sagrados da iniciação
dizem que se não se está
não se pode saber de tudo
mas conhecera a compaixão
a empatia e a alteridade de si mesmo
vira espantado estranhos no seu reflexo
assim desmachara em tudo que existia
e se o corpo marcado
nunca se esquece pela cicatriz
e memória é sentimento
soube da dor e da glória de cada ser
já que o sentir viaja por dentro
andara pelo mundo em que vivemos
de lembrança em lembrança
numa arqueologia da saudade
pelos caminhos da alma
nas paisagens eternas do espírito