O novelo de Teseu
A grande beleza do estilo está em sublimar o erro num acabamento impecável. Uma grande parte do que o artista faz não é dele. Por isso muitas vezes é tão contraditório ver uma obra incrível sair das mãos de uma personalidade canalha. Porque toda alma (a responsável por aquela maior parte da obra) é bondade, mas a vida desalmada é pura maldade, o artista se vê obrigado a ser um médium de sua própria alma. Isto é o porquê do movimento do artista que busca obsessivamente neutralizar o mal em si mesmo. Também é porque essas almas não suportam a densidade dos corpos, que precisem dos artistas para alcançar a toda a gente e lhes contar do amor. Porém, são apenas dois momentos únicos em que essa façanha anímica se torna possível: no processo duma obra artística inesquecível ou no espanto do que é à beira da morte eminente e está no entorno de sua tragédia. Por isso, de certa maneira, a humanidade tenha amado cada vez mais forte a arte, e produzido seus mais belos momentos, justamente quando esteve absurdamente desaventurada nos braços da guerra.