23 de mai. de 2014
Queime depois de ler... (crônica)
Um grande professor que conheci exigia que lêssemos todos os jornais e revistas possíveis. Primeiro mandava que os lêssemos e depois discutíamos algumas das notícias, textos, crônicas, artigos que a cada um havia interessado mais ou menos. Ficava claro então que, para conhecer bem a sociedade, deveríamos investigar todas as suas manifestações. Hoje está disseminada uma coisa muito estranha, um tipo de ataque ideológico que algumas pessoas fazem (que muitas vezes se acreditam super conscientes politicamente) sobre algumas revistas, jornais e programas de TV. Acreditam que tais mídias devam ser, talvez, proibidas de circular? Ou acusam de estupidez o simples fato de que alguém as leia ou os assista. Como se fosse possível, e justo, fazer uma limpeza prévia dos conteúdos, como se fosse possível que houvesse alguém, alguém tão puro, que pudesse realmente fazer isso sem prejudicar, aí sim, a consciência da sociedade. Mas é extremamente falso que a sociedade se desenvolva política ou culturalmente assim, na proibição da censura ideológica. Fazem campanhas do tipo: “quero tal revista fora da escola!”. Como se as pessoas fossem incapazes de, depois de ler, tomar as próprias conclusões... ou, a partir da leitura, iniciar um debate e reflexões sobre os conteúdos e chegar a mais conclusões. Publicações, opiniões, visões de mundo devem ser publicadas, lidas, analisadas, denunciadas e, se for o caso de serem inverídicas ou ilegais, acionadas judicialmente. O único perigo real aqui é a parcialidade, tão comum entre o partidarismo político e o patrulhamento ideológico, quando este tenta selecionar previamente, tenta limpar o mundo e moldá-lo à sua imagem e semelhança, para... “conscientizar as pessoas da verdade”. Seja de qual “lado” for. Pessoas que aprendem a pensar são aquelas que entram em contato com as coisas do mundo e começam a ver, por si mesmas, aquilo que está na sua frente e aprendem, então, a julgar essas coisas... Quando lembro de tudo o que vi e aprendi e conheci por aí nos lugares mais inusitados... desde menino tive essa sorte, pois meu pai também me mostrou isso. Porque pra ele catar as coisas onde dava era a estratégia; porque ele não tinha nada e viveu assim num país que não tinha nada em nenhum lugar durante muitos anos... Meus olhos, depois que ele me mostrou isso, tentavam encontrar o melhor em qualquer lugar. Porque outra, como já disse bem o grande poeta, “até no lixão nasce flor...”