15 de mar. de 2014

na pele (crônica)



Entrei na padaria e, como aprendi com os senhores de minha família, cumprimentei a todos formalmente, fiz um pedido ao garçom no balcão e fui lavar as mãos. Dali do lavabo pude escutar dois homens que estavam sentados a tagarelar: “precisa passar um sabão nele” (tatuagens, pelas minhas tatuagens). Um outro disse: “deve ter todos os artigos, 171, 155, 157 e tal”... O garçom, que me conhece há tempos, disse em voz baixa sem se preocupar: “esse não tem não”. Sabe de quem isso é culpa nesse nosso momento político de agora? De todos nós que nos julgamos esclarecidos, conscientes, politizados, bem informados, críticos, antenados, engajados, indignados (de todos os lados), mas não entendemos uma coisa básica, pelo menos, sobre o ser humano que somos, pois, antes de tentar reformar o mundo deveríamos reformar a nós mesmos e parar de justificar nossas próprias fraquezas atacando as supostas fraquezas do outro. Sabe o que é essa culpa? É que os covardes (de todos os lados, ou do seu lado não tem?) agem sempre com estupidez, seja qual for a causa justa pela qual se apaixonem. E mais, agem com estupidez e tendem a justificar a estupidez aumentando a carga de estupidez cada vez mais. E, quando fomentamos apenas esses xingos, essas besteiras, provocações, preconceitos, rotulações entre escolhas partidárias (de todos os lados); ridicularizando, marcando essa divisão maniqueísta sem sentido entre as pessoas, determinando uma condição generalizada, grotesca, monstruosa sobre as pessoas antes de tentar conhecê-las... isso pode ser tranquilo onde as coisas se resolvem um pouco mais na brincadeira, mas, por outro lado muito mais obscuro, essa atitude vai é alimentar a estupidez dos covardes (de todos os lados). Como isso acontece? Em lugares psicóticos internos e acocorados (de todos os lados), alguns desses covardes começam a ser instigados, subliminarmente, a reagir nessa sua estupidez peculiar porque, lembre-se, é sua única capacidade de ação: a raiva, a vingança por tudo aquilo que o covarde é obrigado a tolerar em si mesmo e não tem força para admitir, para tentar mudar, pois o covarde não é aquele que não age, mas aquele que age, e fortemente, nessa estupidez. E também porque o principal problema com o covarde é que este tenta de todas as maneiras esconder de todos que é um covarde, e por esse motivo é o primeiro a se oferecer para fazer imbecilidades e ganhar reconhecimento imediato entre os seus comparsas. Entende? É isso que acontece com esses policiais e soldados que agridem indiscriminadamente, aparentemente sem controle como se estivessem loucos e que todo mundo fica horrorizado. Ou, como me contaram, de fonte fiel em experiência própria, por exemplo, em regiões mais do interior do país, simpatizantes de um ou de outro líder político não toleram ao menos um comentário que desrespeite seu idolatrado e "passam o cerol" por nada nada nada. E não é novela não. Todos os enrustidos políticos, os invejosos ideológicos, os cretinos incoerentes, os canalhas ávidos por patente, os párias babando por um poderzinho pornográfico qualquer, os mal-amados amargurados e os desgraçados do amor alheio começam a reagir afoitamente, a odiar o que julgam e dizem pra eles ser seu contrário (de todos os lados). Aí sim é que nascem os torturadores, os arapongas, os que não medem as consequências, os que colocam bombas escondidas, os que deduram injustamente, os que se vingam do amor que perderam, os que assassinam a paixão que nunca poderiam ter. Então, quem é consciente mesmo deveria pensar nisso um pouco e focar, não apenas em desmoralizar seu inimigo odiado... sim claro! único responsável por todos os males da nação, mas, em mostrar as grandes propostas que seu lado tão brilhante diz poder apresentar. Eu já estou sentindo na pele.