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A pátria derradeira
É a errante saudade
E desta não há exílio
Nem haverá anistia
Donde nunca se refugia
Nem se pode renegar
Carregado de riqueza
Não se parte nem se prende
Não espera ou se despede
Nem retorna ou a censuram
Nada passa e avança e continua
E a única lembrança nômade
Tal passaporte e aduana
Contrabando e sentimentos
Esperança dos olhares fixos
No horizonte e céu e território
Do vento que atravessa e corre
Da campina do cerrado e mar
Deste coração pendido e trêmulo
Na esquecida balada daquele hino
Surdo descompasso de um bumbo
Do silêncio rasgando tal bandeira
Deitado em solo morno decompõe
Já não almeja nenhuma liberdade
Que revolução finda da memória
Ancorada na madrugada e no poente
Tudo será história neste antigo poema
Enfim dum corpo e duma ausência
Serão agora ambos mesma substância
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O sujeito
Sujo
Da submissão
É a sujeição
Do ser subjetivo
O objeto
Abjeto
Da objeção
É o óbito
Da abnegação
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Só o perdão viaja no tempo...
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O coração
Antes da mente
O fato
Antes do pensamento
A imaginação
Antes da ideia
A intuição
Antes do cálculo
O amor
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Me disseram assim
Que teu nome é Vega
Foi o que me disseram
Eu não sei como te chamar
Não disseste coisa alguma ainda
Não conheço uma palavra tua
Para o que de ti daqui vejo
Me dizem outras coisas mais
Que és estrela e isso nem sei
Não dizes nada quando te olho
Sei que és o que sinto outra vez
Uma centelha não sei talvez
Fico triste da distância
Acho que é distância mesmo
Outra coisa que andam falando
É que vejo a tua luz antiga
Se te penso linda
Como estás agora
Onde és de teu hoje
No que és para mim
E que nunca sei nada
Sonho depois olho
Olho e depois sonho
Sempre daqui te vejo
E passas tímida
Em silêncio tênue
Do que me resta daqui
Não és nada pra saber
És só esta delicada visão
Pequena e maravilhosa graça
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A maior aventura de um poeta
Nesta terra de ventanias de entulho
Nem é de escrever dessas estranhezas
Mas de manter esse toco de vela aceso
Sem apagar esses pobres devaneios
Durante estes dias de enxurradas
Porém porque é como é e tem é
Como foi desde que tinha bem
E ficar com essa matula de mendigo
Louco rosnando e alucinando
E fazendo casinha na chama assim
E escondendo a migalha das formigas
Até que um dia seja o dia dos pardais
Espantar, assoviar, bater as asas
Cruzar o mar e se outro voltar, voltar
Voltar de barco voando zoando
Sonhar e sonhar de rio e correntezas
Cantarolar até que o foguinho apagou
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Por maior a perda
Mais injusto o roubo
Mais triste a traição
Nunca darei uma gota
De água ou uma faísca
De luz de sol ou mesmo
Uma pitada de adubo cru
Para cultivar o que promove
Nem uma ideia que insinue
Um botão de nefasta daninha
Para esperar e porque creio
Quando meu devaneio prostrar
Deitado no chão o desencanto
Saberei a origem da suave onda
Deste imenso alento e puro afago
Que livra dessa fumaça e sombra
Para nunca me afastar dessa graça
Chuva fina na sementeira de poemas
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As nuvens estão sempre em peregrinação
Já sua cadência religiosa negam estandartes
Seres místicos de toda uma vida abnegada
Seu deslocamento ritual é uma expressão sagrada
São vigjantes e aventureiras que abandonaram tudo
Mas é de sua dança e vôo que todas as nossas idéias nascem
Quando passam em romaria para lugares secretos
Podemos ver as coisas do mundo em seus movimentos
Todas em algum lugar se encontrarão em silêncio
Porém sua fé explodirá seu pranto surpreendentemente
Algumas somente caminharão proféticas em deslizamento
Qutras serão telíricas pregadoras de um apocalipse estrondoso
Tantas maneiras têm para andar em sua jornada santa
Com seus mistérios e dogmas de paixão e sacrificio
Saíram sem nada desejar e se desprenderam ainda mais
Só carregam agora o peso da alma
Em busca de seu templo em alturas infinitas
Sua brusca ascensão cede seu corpo em glória elétrica
No milagre simples de sua úmida beatificação
Nos abarcam monstruosas em nosso tempo de terror
Ou são a providência da revelação de uma paz inexprimível
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Às vezes, na beira da pista, no acostamento... Teu silêncio outros poucos segundos impera. Isso não é nada do que imaginamos. Já não conseguimos mais viver sem o que imaginamos. Ontem, na margem do sonho, no devaneio... Tua desgraça me lembrou um poema. Bruto. E duma solidão imensa, sem vozes, o som do teu coração me calou. Outra vez. Agora, na ribanceira, a poeira se cruza com a dor da luz do sol. Seca. Sofrida. Surda. Vocês têm lá suas desculpas, mas ele não existe. Nada existe. Mudo. Profundo. Os passarinhos sumiram? Não se pode escutá-los cantando. Os bem-te-vis? Qualquer outro? E isso não é nada. simplesmente nada. Os heróis que morrem são somente mais outras vítimas. O tempo... É quem sobrevive. E a grama ainda falta preencher aquelas falhas...
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Se choro essa gota de lágrima
É pela minha fraqueza solitária
Que de leve é tocada numa faísca
Nesta infinita vida em destruição
Não há como compreender nada
Desta tão rude e imensa presença
Que de modo e lugar nenhum dirá
Além do mesmo silêncio de sempre
Sempre secreto de um modo tão ínfimo
Me arrebenta e enamora e abandona
Uma dentro da outra é seca e deserto
E que é a visão desse viver e dessa solidão
Se sorrio esse lapso de alegria
É pela morte de minha pequenina noção
Que numa inquieta brisa de perfume
Desta incrível aparição de firmamentos
Tudo se explica num segundo apenas
Nesta delicada e minúscula ausência
Que alardeia seus rumos aos gritos
Pelos quatro cantos e ventos do mundo
Sempre embriagada e dançando agarrada
Me agrada e beija e abençoa
Uma fora da outra que é montanha e tempestade
Que é o espanto desse morrer e dessa união
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Já fugiste das serpentes
Naufrágios, vendavais e canalhas
Já cantaste boêmia na tristeza
Na ingênua despedida
Na descabida homenagem
Canhões e cavalaria
Pobreza, ninharia
Cantaste a natureza
Venceste a desonra
Vandalismo, a moral e a justiça
A casa chovia mais dentro do que fora
Fora tua vida tão rápida
Quase um delírio
Enquanto um segundo de devaneio
Perda, quase é teu nome do meio
Cicatriz, lembrança e sacrifício
Nos resta aquilo que murmuraste
Meias palavras
Intenções e tentativas
Arrependimento e uma música esquecida
Torto, tosco orgulho
Esperanças e teus pequenos sonhos
Esperando o ônibus
Com aquela sandália velha
A sola era de cortiça
Na chuva de verão
Rabiscando teu caminho
Aquele teu poema inacabado
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Pó de tempestade
No início era o Verbo
O Verbo era o Caos
Como diziam, o Paraíso
No dia daquela última noite
Que ninguém soube quando
Ele expulsou também os poetas
E assim separou o Caos do Verbo
Feitos dos elementos da natureza
Uns trovões de furacão
Outros nascentes escondidas nas florestas
Alguns apenas rastro de lesmas
Outros estrondosa foz de cachoeira
Noutros nada mais que gota de orvalho
Ou então luz de nuvens carregadas
E vão como rios desembestados
Alguém mais que é pouca pedra seca
Ondas gigantes ou um só cristal de neve
Ou cinza, poeira, vapor ou névoa
No início era o Caos
O Caos era o Verbo
E ali Ele disse
Cada Palavra Será
Explicação Em Si Que Carrega!
Jogou-os de tal modo
Por todos os cantos
E lhes disse mais ainda
No mesmo instante
De Uns Fiz Grandes
E De Outros Segredos
Muitos Serão Conhecidos Por Todos
E Tantos Nunca Serão Ouvidos!
Condenados então foram
Sem mais avisos
A amar o que faziam
E não o que poderiam fazer
Portadores de uma alma eterna
Sem nada saber
Por único destino
Manter a abnegada amizade
Entre a Água, a Terra, o Fogo e o Ar
E num último berro Ele estarreceu a todos
Um Só será Pelo Outro
Nunca Morrerão Meus Poetas!
Senão Cada Um Por Autodestruição
No Vício Solitário Ou Na Guerra Entre Milhões
Se Sucumbirem A Cobiça, A Inveja, Ganância ou Ambição...
De Ser Um Outro Que Não
Aquele Que São Naquele Que É!
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Ó grande árvore
De flores amarelas
Tombaste hoje
Lentamente e cuidadosa
Sozinha
Mutilada e humilhada
Os apressados
Atarefados desatentos
Nunca honraram
A tua sombra
E o teu amor silencioso
O teu sacrifício
Por fim
Num último gesto
Ainda deixaste
Essa tua madeira rústica
Lenha de esquentar...
Cepo
Incenso
Agradecemos por tudo
Ó digníssima!
Acácia...
Teu frescor
Teu encanto
Pólen, rumores, perfumes
Sonhos e esperanças
Agora será tua nostalgia,
Tua lembrança e teu vazio
Esta é a vida, tu disseste...
Todos os teus
Agora prestam reverência reunidos
Musgo, caracol, lesma e gavião
Bem-te-vi, andorinha, gambá e ratazana
Cambacita, pardal, maritacas e lagartixas
Crianças, terra, lodo, formigas, abelhas...
E o poeta vagabundo que dormia
Sobre a relva que nutriste...
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Amar só é possível onde impossível é só amar...
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O silêncio é denso
O barulho um solvente
Andar nele é forçoso
Não suspende se mentem
Os medrosos das lembranças
Viciaram nesta substância
Fugindo da saudade
O feminino obriga a poesia
Pra nela somente pensar
Quando de perto passear
Só se escreve o que é dela
Algumas cidades são poemas
Outras apenas um áspero dilema
Na distância viviam apaixonados
E do que era raiva longe evapora
Os novos amam as mulheres
Os velhos as cidades e a fé
Quando ela é cheia de correria
Corta a intuição dos versos lentos
Se é andando que está seu ritmo
Em cada palmo das suas curvas
Floreada toda a vida das rimas
Se pode apertar entre desejos
Se pode até cansar os pés
A força do poeta é o mote
Mas há quem não se toque
Andando de passadas na noite
Floreiras, ruelas e segredos
É sonhada que seria delicada
Talvez um dia se encontrem sim
O velho que quase foi seu trovador
E a mulher que era uma linda cidade
A cidade que ama, beija e abraça
A poesia... velha e cansada
Onde nada... o nada... onde nada...
De caminhadas e o seu amor
Se esqueceu da estrada no fim
Chegou... e lá estava a sua amada
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Aquela poesia infantil
Florida e pueril
Do ainda intento inconsequente
Simplesmente
Quase imperceptivelmente
Na mesma sombra e reflexão
De um encontro tão delicado
De um tênue suspiro sobrenatural
Que numa saudade
Sem mágoa, sem agonia
Não espera mais nada
Sem nenhuma outra atenção
Pequeníssimo arrepio de sorriso
Ou um curto lapso de emoção
Entre almas de crianças
Ao se encontrar numa ínfima
Instantânea e mútua vibração
Como nos antigos pedidos
Das provas de amor ingênuo
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Amante das plantas
Que podem ser esquecidas
Dos cachorros com coragem
Que andam sozinhos pela vida
Dos gatos que pulam da escuridão
E caçam a própria comida
Das jararacas e das onças
E andorinhas que voam só de ida
Samambaias, daninhas, cactus e um gavião
Entre as pedras flores de campo com pólen
Pedras pontiagudas entre margens floridas
Tristezas, sorrisos, saudades e um coração
Daqueles dias e da solidão da paisagem
Ermitão dessas lembranças rupestres
Na velha ventania ondulando as margaridas
Em nada do que seja de estimação
Nada além dum olhar de silêncio selvagem
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A alma dorme nas esquinas
Nos cantos dos olhos
Em vultos de lembranças
Tudo num instante silencia
Ao longe alguns piadozinhos
Ilude e divaga e acalenta
E o mundo perde as fronteiras
E no entre do sonho e um susto
Ouvi alguns daqueles gritinhos
Meninas... meninas?
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Quem do sonho delicado cuida
Nunca o mundo pouco espia
Vigia uma miséria sobre o real
É da própria alma um tesouro
Quem é de uma vigília atenta
Sonha na riqueza do espírito
E quando retorna desse alento
Foi ungido num ritual escasso
Num tanto de mendigo bêbado
Num quanto de peregrino casto
Numa sina de um trapo humano
Uma só senda de homem santo
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Jurema ardente
Ainda que corres desnudo
Entre desgarrados, no anil
Pelos braseiros, dos paus
Cruzes santas, nos brasis
Triste berço, em teus braços
O tênue desmaiado, dopado
Desta tua sarça macunaíma
Tuas deidades, dum espanto
É assim na parca dignidade
De uma aldeia já calcinada
Então almejado, por nação
Solitário, nesta fé deflorada
Não tecerás mais teus sonhos
Nem esperanças, teus rumos
Serás deserdado, desalmado
Amaldiçoado... lugar nenhum
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O poeta é um catador
Das sobras do mundo
Dos dias e das noites
Dos restos dos sonhos
Dos cacos da memória
Que já ficaram pra trás
Suas delirantes estórias
Como sempre dramáticas
Ou simplesmente sublimes
Da água, terra, o ar e o fogo
Rascunhos doutro apocalipse
Ranhuras do exílio desiludido
Nunca ninguém quis acreditar
Nestes seus ingênuos poemas
Até que a todos fizesse lembrar
Dos velhos brilhos das estrelas
Das flores que marcaram a rota
Nos caminhos perdidos da volta
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Oração da noite adentro
Desiste desta Tua perfeição
Desacredita daquela redenção
Esquece esta absolvição épica
Dos trovões e nuvens se abrindo
Com os clarões e os mortos vivos
De Teu sagrado silenciamento
Não reclamamos nem um pouco
A justiça cega, surda e ausente
Não blasfemamos em nada
Da Tua paciência conivente
Não ousamos duvidar
Deste realejo da salvação
Do rocambole de futuro eterno
Fogo no vento, cavalos e cavaleiros
Deste desperdício na miséria
Desta míngua nesta fartura
Da Tua obra de beleza canibal
Porém que um mínimo então urge
Antes de toda a parafernália final
Que menos disto um clamor inocente
Ilumina agora um ínfimo instante
Que seja só uma lasca de chama
Senão um cisco de uma farpa
Da menor fagulha que Te sobrar
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As crianças e os velhos
Vivem numa poesia de través
Um poema holograma
Um pedaço é o mesmo que o todo
Elas pela esperança
Eles, a saudade
Naqueles quatro metros de grama
Uma floresta...
Aquelas são antropólogas
Estes, arqueólogos
Naquele pequeno monte de areia
As crianças
Escavavam a encontrar diamantes
Que lhes enfeitariam os cabelos
Os velhos
Prendiam um punhado de ouro
Que lhes escorria entre os dedos...
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A Maré do Mundo
Quando o teu espanto desperta
Na imensidão que a ti rodeia
Sobre esta tua solidão sem medida
Só o coração é que navega sem medo
Vai com a vela estufada da imaginação
O remo levado bem firme pela vocação
Que nunca trai, amotina ou acovarda
Quem jamais abandona o seu posto
E neste pequenino bote que te foi dado
Que atravessa nesta névoa profunda
Depois das revoltadas águas do nadir
Das tormentas da noite indomável
Chega então a mansidão do dia celeste
Da delicada e morna nova aurora
Neste sol eterno que te acalenta
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O coração
É um marinheiro
Nos infinitos
Do peito adentro
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Reverbo
Antes era a solidão
Porque nada sendo
Sumisse na névoa
Vivesse das brisas
Cantasse no trovão
Voasse pelos mares
Sempre à deriva
Nenhuma pegada
Vontade alguma
É tudo agora porque
Dizia o que fosse
Foi... naquilo que via
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O bushido de Tyke
A vi uma única vez, numa primeira imagem, desfocada e brutalmente triste. Soube depois que seu nome quer dizer criancinha, mas também alguém que não se comporta de uma maneira geralmente aceitável. E eu sei, ela estava certa. Continuei a ver só até não suportar mais, bem logo depois do seu primeiro e único olhar. Na sua bravura e desespero, alucinadamente livre, em seu desassombro derradeiro. E ela me disse ali de toda a minha miséria humana. Com sua morte heroica e em seu urro de glória ancestral eu entendi toda a sua majestade e, num lapso de espanto, quem eu sou, o que eu nunca fui e quem eu jamais serei...
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O mundo a que pertence
As suas sombras úmidas
A memória nítida de um dia
Quando o fogo era sagrado
Dos tempos destes sinais
De tribos de guerreiros puros
São tristes pátinas fósseis
Lugares duma infância perdida
Dança pagã das iniciações
Moradas do espanto atávico
Glória das ávores guardiãs
Dias absortamente vividos
Falsas estruturas românticas
Sedimentos de vidas distantes
Reescritas momento a momento
Ruínas dum quilombo de anjos
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Alétheia de Hipátia
Quando este seu único e verdadeiro amor acaricia com essa maiêutica pública e constante a que não consegue se negar. Por fim a obriga minuto a minuto a morrer, comо morreu o seu como de muitos único herói, o veneno que deve tomar é o conhecer do desprezo ingênuo de seus amigos, é porque também escolheu a ignorância como a sua sabedoria. Serenamente aceitar a inútil ilusão de que alguns correriam para alertar, que poderiam reverter uma sentença milenar que é imposta àquele que não vai se esconder, que não vai deter o sacrificio a que seu espírito. O obriga e, muito mais além, não vai deixar de desvelar sua própria insignificância aos quatro ventos que voam sem parar da boca de sua mãe pagā.
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A janela é a capa do long play
A esfera é quando sai o gol
Os olhos o lago do azul do céu
O coração o cálice sagrado graal
A solidão uma cidade cheia
A saudade é a chuva fina
A felicidade um nó na tristeza
Aquilo tudo é o que se foi
Nada mais é o que ainda falta
A Terra gira quando a gente anda
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Nada é mais popular no mundo do que o futebol, as eleições e alguém que canta. E o povo adora poesia; e o poema não é certo nem errado, moralmente, felizmente ou infelizmente, sabe-se lá. De um sucesso quem canta, escutem atentos, se canta bem ou mal, se difícil ou fácil, quem dirá? é por ser, geralmente, se os agrada ou não, da canção... o melhor refrão. Até num sufrágio desses, vejam bem, bom ou mau... quem ganha, finalmente... ganha por ter, se os agride ou não... o mote mais forte. E olhem... o que são os gols,normalmente, por grande exemplo? nada mais que, perfeitos ou tropeços, se os alegra ou não, um encadeamento de versos...
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O último desejo do poema moribundo
Que de anunciação seria agora epitáfio
Foi ser compreendido em seu instante
Intacto na anatomia dos seus versos
E que fosse inútil dissecar as rimas
Sendo a causa de um outro efeito
Que estivesse de um mote, apenas isso,
Como um velho rio é para seu leito
Como o céu turqueza é para as nuvens
Como a pedra na costa é para o mar
E que o leitor solitário ficasse ali quieto
Diante daquilo que viu na estrofe pura
Pois, que na sua esperança derradeira
Que de cada vez que lido se desvendasse
Que da sua poesia nada nunca se explica
Que fosse ele próprio a explicação de tudo
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O Buddha de Todos os Tempos
Quando morresse o Messias
Não quereria respeito algum
Quererá só um circo montado
Esperara no meio do picadeiro
Enquanto comece uma festa
Com todos os Rhythm & Blues
Que atravessava-se toda noite
Quem por querer cantaria
Quem não queira que não
Como ninguém mesmo fora
Chamem quem quiser iria
De manhã que se acabe com tudo
E queimá-lo-íamos numa pira
No epitáfio escrevei sem medo:
"Subiras a montanha sem cordas."
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Sendo um casto um justiceiro
Por não sentir e pela negação
Distância do mal que atocaia
Na coragem de nunca o fazer
Não seria nisso o que é assim
Daqueles não for nesta honra
Tão covarde quanto quem faz
A luxúria desta a dominação
Seu sacrifício duma não ação
A aventura da inofensividade
Dum resistir nesta abnegação
Do nada não poder ser menos
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Dos arrepios ingênuos
Desde a platéia iluminada
Pelo bate bunda da sanca arejada
Até os festins da estréia treslocada
Todos se alvoroçam saltitantes
Já no escuro da coxia estreita
Na crudeza do cordame emaranhado
Carretilhas enferrujadas
E na solidão borrada
De um camarim de espelhos trincados
É quando o velho farsante
Se percebe estarrecido
De que nunca houve o grande ator
Mas somente uma triste personagem
Dos parangolés de si mesmo
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Eu me lembro da velha terra
Eu me lembro do velho rio
Não de imagens me lembro
Mas de sensações em meu corpo
Meu sangue é que treme na lembrança
Não das bandeiras me lembro
Mas dos aromas, brisas e dias
Não dos cantos de guerra
Mas do balanço dos pinheiros na tarde
Dos caminhos de silêncio e pouca luz
Eu me lembro que sou velho também
E aqui no exílio em meu assombro de saudade
Espero ouvir a pancada do seu coração profundo
Um alívio que me leve de volta ao seu leito
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As cinco juras do peregrino
O teu tempo o mais lento
O teu passo o mais delicado
A tua bagagem a mais leve
O teu argumento o mais silencioso
O teu nome o mais desconhecido
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O poeta é nada além dum pobre coitado
Que deuses decidiram por despedaçar
E tem um pedaço jogado em cada lugar
Desde o coração e a alma esquartejado
É andarilho de lembrança em lembrança
De tantos destinos sem dó arrebatados
Sonho, maldição e penitência misturados
Exílio onipresente que nunca se alcança
De todas as guerras the exigem os cantos
De toda saudade que acalme seus prantos
Das cidades sempre a dançar apaixonado
Das odes e visões que ninguém acreditará
Do que passa planta para nascer o que virá
Só, num pacto de vida e morte aprisionado
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A nostalgia é uma galáxia de saudades...
40
A inteligência Virtuosa
É a ponderação da certeza
A intolerância Viciosa
É a negação da incerteza
A verdade esclarece
Onde a mentira convence
Aquele vil é refém
Onde o casto se abstém
41
Nas distâncias daquela paisagem
Saudade e solidão são o teu abrigo
Nas lembranças o teu único dialeto
Os restos de fogueira ainda ardem
Desde que te viu ali no capim denso
A velha trilha andaluz arrependida
Incógnita naquela ventania pendida
Sempre te espera olhando o silêncio
Uma pedra branca rolou no caminho
Te deu alguns dias essa parca sorte
Nas vilas vazias o mudo semblante
No suspiro delirante desse teu exílio
Quando desta vida já te abandonou
Na praça depois de todas as festas
Deixando tua nata inocência apenas
Só a silhueta da tua alma amanheceu
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É a ilha a alma gêmea do lago?
43
Numa manhã serena
Um sentimento cala
A delicada ausência
Numa brisa carrega
Por suave mergulho
Num manso silêncio
Que saudade é afago
Um abraço do eterno
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Se já corres em tanto desalento
Entre teus macunaímas zumbis
Cruzes santas, lasca de brasis
Braseiros, dos paus, do pranto
Em teu triste berço desterrado
Desalmado na demolição torpe
Perdes agora a própria qualidade
De teu último amor ainda exilado
Assim escasso, parco e arregaçado
Destino, maldição dum desesperado
Existes pelo teu desaforo somente
Banido de ti mesmo, de teus nomes
Condenado a esta tragédia ser teu lar
Serás lembrado apenas como... lugar
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Lua cheia e Lua nova
São uma coisa somente
Que muda donde se vê
Um seu lado o extremo
Estandarte de exteriores
Menestrel desses trejeitos
Outro seu lado no oposto
Juiz daqueles interiores
Pregador de preconceitos
Louvava de quem chorou
Ostenta quem o cobrou
Revoltado era amassado
Amansado é arrebatado
O que antes se fazia
É agora o que não se é
A última possível liberdade
É na solidão a imaginação
Que não lembra donde veio
A inteligência é então escrava
Acorrentada na velha memória
Que para onde vai se esquece
Toda face de luz encantadora
Tem o que a sustenta no escuro
Quanto mais pelos dias gira
Está pelas noites suspensa
Dança entre a vigília e o sonho
No pêndulo da eterna presença
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Naquela foto antiga em que te via
A inteligência ainda poesia ingênua
Daquela hora sem cor e desfocada
Apenas o fragmento quase desfeito
Tão puro e faltando tantos pedaços
Que hoje daqui te revejo apaixonado
Tua coragem é duma imensa alegria
Um apelo transbordava destemido
A dádiva estava naquele teu sorriso
Que a verdade não te imitaria jamais
Que o espírito vaza pelo incompleto
Que de tudo o que viveu e era oculto
Da tua aventura que ainda pulsa real
O coração nenhuma vez simula a vida
Que da alma só se sabe e nunca se vê
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Era o messias daquilo que viria
Dos sonhos e da ingenuidade
Dos pequenos passarinhos
Do verão luminoso nos córregos
Nas trilhas coloridas da primavera
O longo inverno nas fogueiras
Nas manhãs cerradas do outono
Àquele evocavam todas as almas
Não por seus feitos e milagres
E cada um mantinha uma coisa
Que de tal lembrança singela
Algo que ele ainda não terminara
Que tantas vezes prometera
Traziam assim toda esperança
Que ele nos seus corações
Havia delicadamente colocado
Era o que nunca nada conquistara
Era o que da fonte mais funda da vida
A todos em segredo havia abençoado
Que em seu nome esquecido
Fossem os que nada sabem
Venham e vão por todo mundo
Que não sejam vistos ou louvados
Que esperem pela glória dos dias
Com a solidão das últimas noites
Que caminhem serenos até o fim
No abandono da celebração do espírito
Recomecem a jornada perdida dos tempos
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Ninguém pode ser o dono
Das linhas das fronteiras
Naquele silêncio estreito
Istmo entre as bandeiras
Deserda um último sonho
Na anarquia de esperanças
Banidas daquele velho reino
Da ventura desde as lonjuras
No instante de um só passo
O destino de suas distâncias
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A verdade é tudo aquilo que ela não é...
50
Onde um ideal corrompe
E a compaixão que perdoa
O que a identidade aprisiona
Só a inteligência absolve
Quando o autoritário sucumbe
Começa a nascer a autoria